O episódio dos ingressos a R$ 1 mil no Mineirão deram o que falar na semana que passou.
Final da Copa do Brasil, transmissão para todo o Brasil em horário nobre e…as cadeiras centrais do Mineirão quase vazias, passando uma sensação desagradável de estádio vazio. De fato, a imagem da área nobre do estádio vazia em plena decisão de uma final tão esperada traduz algo de fracasso.
Em uma primeira análise, ingressos a R$ 1 mil parecem um exagero. Um valor totalmente equivocado. Suspeito que por trás desse equívoco exista uma pitada do que podemos chamar de “picuinha amadora” entre os dirigentes de Cruzeiro e Atlético. Talvez açodados pelo desgaste da liberação e quantidade de ingressos para os torcedores cruzeirenses na primeira partida, e embalados pela boa vantagem dos atleticanos obtida na mesma, o Mineirão (talvez com uma “mãozinha” do Cruzeiro) tenha fixado esse valor despropositado. Baseado em que esse valor foi fixado ? Não sei, mas justificá-lo tecnicamente é muito difícil.
Volto a repetir o que tenho dito e escrito sobre o assunto. Precificar ingressos de eventos é para profissionais. É preciso usar a experiência, tecnologia, conhecimentos acadêmicos, e bom senso. Em resumo, é preciso usar a cabeça (e até um pouco do tal “feeling”), e não o fígado.
O precificador não pode se submeter a pressões para adotar estratégias “populistas” ou “elitistas”, pois sua missão é obter a maior receita possível dentro da combinação público x valor de ingresso. É preciso atingir o nível mais próximo ao que a Teoria do Consumidor chama de “preço de reserva” (o máximo que um consumidor está disposto a pagar por um determinado produto ou serviço). É claro que não é fácil, muito pelo contrário, mas é preciso errar pouco. Se o erro for grande para baixo, o lucro será dos cambistas. Se o erro for grande para cima, os lugares ficarão vazios. Em ambos os casos o prejuízo será grande.
No Brasil, o custo de construção e operação das novas arenas, tem pressionado seus gestores na busca de tickets médios mais altos, mas a falta de experiência tem sido decisiva para vários erros. Principalmente porque do outro lado da balança está um produto de qualidade cada vez mais baixa, que aparentemente um número cada vez menor de consumidores se motiva a comprar.
Assim, é preciso uma revolução urgente na precificação e estratégia de vendas de ingressos de eventos no Brasil. Já existem alternativas mais inteligentes e em breve retornaremos ao assunto.
Ricardo Araujo
Fonte: Exame
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