Por Filipe Pacheco
De São Paulo
O mercado brasileiro de derivativos encolheu neste início de 2012. Os investidores começaram o ano com exposição menor do que no início de 2011 em contratos de juros, câmbio, índices e commodities negociados na BM&F, dinâmica que se observa pela primeira vez em sete anos - sistematicamente, esse volume vinha crescendo ano a ano desde 2004. Mudanças na tributação, com a introdução do IOF sobre posições "vendidas" (apostando na baixa) em dólar, o aumento da volatilidade decorrente da crise internacional e a guinada na condução da política monetária em meados do ano passado estão por trás desse movimento, segundo especialistas.
Dados compilados pelo Valor, com colaboração do professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Insper, Paulo Fraletti, mostram que 2012 começou com uma exposição estimada em R$ 2,667 trilhões em contratos futuros na BM&F, em comparação aos R$ 3,143 trilhões que marcaram o início de 2011 (ver tabela).
No cálculo feito, o valor estimado da exposição considera o preço médio de um contrato negociado no mês de dezembro multiplicado pelo número de contratos em aberto. "Nos períodos de maior incerteza, que seguiram grandes inversões de expectativas, como os últimos quadrimestres de 2008 e de 2011, os agentes reduzem suas próprias exposições", diz Fraletti. Entretanto, mesmo em 2009, logo após a quebra Lehman Brothers, que desencadeou a crise externa e que levou empresas brasileiras de grande porte, como Sadia e Aracruz a ter fortes perdas com derivativos, não se observou uma retração como a de agora.
"Quando há uma crise, em um primeiro momento é natural que o investidor desmonte posições de forma rápida, e isso foi visto nesses períodos [fim de 2008 e de 2011]", diz Luciano Rostagno, economista-chefe do Banco WestLB. Mário Amigo, professor de finanças da Fipecafi, pondera que os custos das operações na BM&F também podem ter pesado. "Na BM&F, as partes têm de arcar com os custos decorrentes da composição de margem. Em tempos mais difíceis, esses valores entram na conta mais do que nunca e podem fazer a diferença", diz.
Os contratos de derivativos negociados na BM&F demandam o depósito de garantias, e em períodos de aperto, as transações de balcão com registro na Cetip, que não cobram a margem, tendem a ganhar mais espaço. Isso de fato ocorreu desta vez, mas não em volume suficiente para compensar a redução vista na BM&F. Procurada, a BM&F não concedeu entrevista.
O mercado futuro de juros é o segmento mais negociado na BM&F e o segundo com mais registros na Cetip. Nele, os agentes podem apostar na alta ou na queda da Selic no curto e no longo prazo, e por isso acompanham de perto a comunicação feita pelo Banco Central (BC) com indicações de que rumo a taxa seguirá. A mudança repentina na política monetária em agosto, quando o BC cortou o juro básico em 0,50 ponto percentual sem nenhuma indicação prévia, motivou um recuo nas posições. "O mercado de opções de juros vinha crescendo de forma contínua e teve um avanço forte em 2010. Mas a mudança de política fez com que muita gente perdesse dinheiro", diz o responsável pela mesa de juros de uma corretora paulista, que prefere não ser identificado.
Enquanto a exposição em contratos de derivativos na BM&F caiu entre o começo do ano passado e este início de 2012, na Cetip ela subiu. Ao se comparar o volume financeiro no fim de cada semestre nas duas casas, nota-se que o estoque em aberto na bolsa foi sempre pelo menos duas vezes maior que na Cetip.
Em períodos tranquilos, como 2007, essa diferença positiva chegou a ser quatro vezes maior. Mas em outros momentos de volatilidade marcante a proporção rompe com o ritmo de crescimento e chega a recuar fortemente. No final de 2011, o estoque financeiro registrado na Cetip, de R$ 552,3 bilhões, foi maior que nos dois anos anteriores, e superou aquele de 2008, quando foi de R$ 520,9 bilhões. "Como os contratos da BM&F são mais curtos e mais líquidos, o efeito da volatilidade é mais imediato que na Cetip, onde tendem a ser mais longos e carregados até o vencimento", acrescenta Fraletti.
Um ponto a favor da Cetip, diz Amigo, da Fipecafi, é que a casa permite o registro de instrumentos financeiros mais sofisticados e exóticos, como operações de hedge de vários tipos, notas e fundos de capital protegido e travas. "É em momentos de crise que você reconhece instrumentos de engenharia financeira sendo desenvolvidos em meio a um mercado que busca por alternativas. E a Cetip permite que as partes moldem os contratos da forma como acham mais interessante", diz.
No fim de julho, cerca de um mês antes do corte surpresa no juro feito pelo Copom e quando o valor do dólar despencava para as mínimas do ano, o governo entrou em ação e publicou a MP 539, que estabelecia o recolhimento de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre posição "vendida" em dólar em derivativos cambiais, que apostam na queda da moeda. A ação foi um fator inesperado e sem equivalência nos anos anteriores, e não agradou a investidores.
"Houve uma mudança nas regras do jogo, com um impacto claro da falta de clareza na comunicação por parte do governo. E o pior é que, depois de alguns meses, com o dólar em alta, a medida parou de fazer sentido e travou o mercado", diz um executivo de um banco de médio porte, que prefere não ser identificado. Contratos de derivativos de câmbio - usados muitas vezes para operações de "hedge" (proteção contra flutuação da moeda) - são os mais regitrados na Cetip.
http://www.valor.com.br/financas/2502390/estoque-de-derivativos-na-bmf-encolhe-na-virada-para-2012?utm_source=newsletter_manha&utm_medium=25012012&utm_term=estoque+de+derivativos+na+bmf+encolhe+na+virada+para+2012&utm_campaign=informativo&NewsNid=2503124
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