Bancos sabem da importância de continuar injetando liquidez sem correr o risco de saturar o cliente.
Por Denise Bueno Para o Valor, de São Paulo
11/11/2010
A economia cresce embalada pela estabilidade e pelo crédito. Comparado a um remédio, os especialistas insistem que tudo depende da dose, e uma gota a mais pode matar o doente. Bem aplicado, traz longevidade. Essa ressalva é unânime entre os executivos de bancos e do governo, revelando o esforço das instituições financeiras e dos órgãos governamentais para que o Brasil cresça de forma segura.
Mas as empresas têm pressa para expandir a produção e atender à demanda latente. E da parte dos bancos, o crédito é uma mina de ouro. Todo cuidado é pouco num momento assim. "Uma política de crédito responsável apressa o crescimento e propicia ao sistema financeiro mais lucros, lucros mais sólidos e por mais tempo", diz o economista Roberto Luis Troster.
A política dos bancos, segundo seus porta-vozes, é de avançar, mas sem saturar o cliente. "O crédito cresce de forma sustentável e não atabalhoada", afirma Octávio de Lazari Junior, diretor do departamento de empréstimos e financiamentos do Bradesco. "A principal lição da crise financeira é de que não podemos saturar o cliente com crédito. Todos perdem."
Segundo boletim do Banco Central, o volume de crédito oferecido pelos bancos cresceu 1,8% em setembro, para R$ 1,61 trilhão, comparado a agosto. No acumulado do ano, a alta é de 14%, e nos últimos doze meses, de 19,6%. Um recorde para o Brasil, representando 46,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Desse total, os empréstimos destinados a pessoas físicas representaram R$ 527,9 bilhões, alta de 1,4%, e para as empresas, R$ 533 bilhões, com aumento de 2,2%.
A evolução dos empréstimos segue os setores mais aquecidos da economia, como imobiliário, automóveis e repasses do banco de fomento do governo, o BNDES. O crédito para empresas poderia apresentar índices de crescimento mais robustos diante do positivo cenário do país. O freio está no custo, que sobe há seis meses, mesmo com a acirrada concorrência das instituições por clientes. A taxa média dos financiamentos corporativos chegou a 29% em setembro. Um olhar na tabela do BC mostra que este é o maior nível desde fevereiro de 2009, auge da crise financeira internacional.
Rogério Calderón, diretor corporativo de controladoria do Itaú Unibanco, maior banco privado do país, explica: "O custo reflete, entre outros itens, a inadimplência. Houve uma piora no nível de pagamentos em atraso da carteira, que até pouco tempo atrás era constituída apenas por médias e grandes empresas e agora conta com um grande número de pequenos empreendedores", diz o executivo do Itaú, banco que administrava uma carteira de empréstimos de R$ 313,1 bilhões em setembro, 16,6% maior do que há um ano.
Em setembro, por exemplo, 3,5% dos empréstimos corporativos apresentaram atraso superior a 90 dias. Para se ter uma ideia, é quase o dobro do índice de setembro de 2008, quando estourou a crise internacional, com índice de inadimplência de 1,6%.
Apesar de a inadimplência ainda estar elevada, já dá sinais de melhora. Segundo Lazari Junior, o índice de inadimplência global da carteira de crédito do Bradesco recuou de 5% em setembro de 2009 para 3,8% no mesmo mês deste ano. No nicho de grandes empresas, o índice passou de 0,9% para 0,6%, e no de pequenas e médias, de 5,1% para 3,7%.
Ele credita esse recuo à parceria com o Sebrae e também ao reforço de 515 gerentes só para cuidar de PMEs, o que trouxe maturidade para o relacionamento, gerando valor para todos no negócio. "Se precisa comprar uma máquina não deve pegar capital de giro e sim uma linha de Finame. O produto certo pelo prazo adequado não sacrifica o fluxo financeiro da empresa", diz.
Segundo os bancos, ganha desconto quem inspira confiança e comprove com um plano de negócios bem feito que os riscos do investimento não dar certo foram percebidos e mitigados. Walter Malieni, diretor de crédito do Banco do Brasil, afirma que o banco trabalha com taxas diferenciadas, dependendo do histórico do cliente, do relacionamento com o banco e das garantias apresentadas.
Jairo Dias, dono da Lieben Chocolates Finos, de São Paulo, conseguiu uma boa redução da taxa de juro para capital de giro com o Itaú. "As melhores taxas são praticadas pelos bancos oficiais, mas o histórico de relacionamento e a conversa com o gerente garantiram um custo melhor na última negociação com o Itaú", conta.
O empresário de comércio exterior Mauro Snyesko concorda com Dias quanto à flexibilidade de negociação, mas mostra uma certa frustração pelo Brasil ter ainda uma taxa de juro tão elevada. "Consigo obter taxas melhores no FinImp (crédito para importação), mas tenho de concentrar um volume grande de negócios com o banco. Essa política faz com que mesmo que tenha uma taxa melhor em outro banco, acabe ficando onde estou para evitar o trabalho de mudar conta corrente, desconto de duplicata, entre outros serviços", diz.
Tudo indica que o custo do crédito ainda vai continuar alto. A previsão dos especialistas é de que a taxa Selic, um dos principais parâmetros para a formação do custo do financiamento, continue o ciclo de alta durante 2011, como uma ferramenta para frear o consumo e a inflação.
Para pessoas físicas, as taxas estão em queda, mas o custo ainda é muito elevado. A taxa de financiamento caiu para 39% ao ano em setembro, menor nível desde o Plano Real. Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, diz que o juro para pessoas físicas recuou porque as famílias estão mais conscientes sobre os produtos financeiros.
Segundo Rogério Estevão, superintendente de empréstimos às pessoas físicas do Santander, as linhas de crédito mais baratas, como o crédito habitacional, consignado e financiamento de veículos têm liderado a recente expansão. O crédito imobiliário avançou 4,3% em setembro, para R$ 120 bilhões direcionados a pessoas físicas e R$ 45 bilhões para empresas. O crédito pessoal evoluiu 1,7%, para R$ 217 bilhões, sendo 60% desse valor proveniente do consignado, com alta de 1,8%, para R$ 131 bilhões. A diferença entre um e outro é a taxa de juro cobrada, de 41% e 26%, respectivamente.
Por Denise Bueno Para o Valor, de São Paulo
11/11/2010
A economia cresce embalada pela estabilidade e pelo crédito. Comparado a um remédio, os especialistas insistem que tudo depende da dose, e uma gota a mais pode matar o doente. Bem aplicado, traz longevidade. Essa ressalva é unânime entre os executivos de bancos e do governo, revelando o esforço das instituições financeiras e dos órgãos governamentais para que o Brasil cresça de forma segura.
Mas as empresas têm pressa para expandir a produção e atender à demanda latente. E da parte dos bancos, o crédito é uma mina de ouro. Todo cuidado é pouco num momento assim. "Uma política de crédito responsável apressa o crescimento e propicia ao sistema financeiro mais lucros, lucros mais sólidos e por mais tempo", diz o economista Roberto Luis Troster.
A política dos bancos, segundo seus porta-vozes, é de avançar, mas sem saturar o cliente. "O crédito cresce de forma sustentável e não atabalhoada", afirma Octávio de Lazari Junior, diretor do departamento de empréstimos e financiamentos do Bradesco. "A principal lição da crise financeira é de que não podemos saturar o cliente com crédito. Todos perdem."
Segundo boletim do Banco Central, o volume de crédito oferecido pelos bancos cresceu 1,8% em setembro, para R$ 1,61 trilhão, comparado a agosto. No acumulado do ano, a alta é de 14%, e nos últimos doze meses, de 19,6%. Um recorde para o Brasil, representando 46,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Desse total, os empréstimos destinados a pessoas físicas representaram R$ 527,9 bilhões, alta de 1,4%, e para as empresas, R$ 533 bilhões, com aumento de 2,2%.
A evolução dos empréstimos segue os setores mais aquecidos da economia, como imobiliário, automóveis e repasses do banco de fomento do governo, o BNDES. O crédito para empresas poderia apresentar índices de crescimento mais robustos diante do positivo cenário do país. O freio está no custo, que sobe há seis meses, mesmo com a acirrada concorrência das instituições por clientes. A taxa média dos financiamentos corporativos chegou a 29% em setembro. Um olhar na tabela do BC mostra que este é o maior nível desde fevereiro de 2009, auge da crise financeira internacional.
Rogério Calderón, diretor corporativo de controladoria do Itaú Unibanco, maior banco privado do país, explica: "O custo reflete, entre outros itens, a inadimplência. Houve uma piora no nível de pagamentos em atraso da carteira, que até pouco tempo atrás era constituída apenas por médias e grandes empresas e agora conta com um grande número de pequenos empreendedores", diz o executivo do Itaú, banco que administrava uma carteira de empréstimos de R$ 313,1 bilhões em setembro, 16,6% maior do que há um ano.
Em setembro, por exemplo, 3,5% dos empréstimos corporativos apresentaram atraso superior a 90 dias. Para se ter uma ideia, é quase o dobro do índice de setembro de 2008, quando estourou a crise internacional, com índice de inadimplência de 1,6%.
Apesar de a inadimplência ainda estar elevada, já dá sinais de melhora. Segundo Lazari Junior, o índice de inadimplência global da carteira de crédito do Bradesco recuou de 5% em setembro de 2009 para 3,8% no mesmo mês deste ano. No nicho de grandes empresas, o índice passou de 0,9% para 0,6%, e no de pequenas e médias, de 5,1% para 3,7%.
Ele credita esse recuo à parceria com o Sebrae e também ao reforço de 515 gerentes só para cuidar de PMEs, o que trouxe maturidade para o relacionamento, gerando valor para todos no negócio. "Se precisa comprar uma máquina não deve pegar capital de giro e sim uma linha de Finame. O produto certo pelo prazo adequado não sacrifica o fluxo financeiro da empresa", diz.
Segundo os bancos, ganha desconto quem inspira confiança e comprove com um plano de negócios bem feito que os riscos do investimento não dar certo foram percebidos e mitigados. Walter Malieni, diretor de crédito do Banco do Brasil, afirma que o banco trabalha com taxas diferenciadas, dependendo do histórico do cliente, do relacionamento com o banco e das garantias apresentadas.
Jairo Dias, dono da Lieben Chocolates Finos, de São Paulo, conseguiu uma boa redução da taxa de juro para capital de giro com o Itaú. "As melhores taxas são praticadas pelos bancos oficiais, mas o histórico de relacionamento e a conversa com o gerente garantiram um custo melhor na última negociação com o Itaú", conta.
O empresário de comércio exterior Mauro Snyesko concorda com Dias quanto à flexibilidade de negociação, mas mostra uma certa frustração pelo Brasil ter ainda uma taxa de juro tão elevada. "Consigo obter taxas melhores no FinImp (crédito para importação), mas tenho de concentrar um volume grande de negócios com o banco. Essa política faz com que mesmo que tenha uma taxa melhor em outro banco, acabe ficando onde estou para evitar o trabalho de mudar conta corrente, desconto de duplicata, entre outros serviços", diz.
Tudo indica que o custo do crédito ainda vai continuar alto. A previsão dos especialistas é de que a taxa Selic, um dos principais parâmetros para a formação do custo do financiamento, continue o ciclo de alta durante 2011, como uma ferramenta para frear o consumo e a inflação.
Para pessoas físicas, as taxas estão em queda, mas o custo ainda é muito elevado. A taxa de financiamento caiu para 39% ao ano em setembro, menor nível desde o Plano Real. Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, diz que o juro para pessoas físicas recuou porque as famílias estão mais conscientes sobre os produtos financeiros.
Segundo Rogério Estevão, superintendente de empréstimos às pessoas físicas do Santander, as linhas de crédito mais baratas, como o crédito habitacional, consignado e financiamento de veículos têm liderado a recente expansão. O crédito imobiliário avançou 4,3% em setembro, para R$ 120 bilhões direcionados a pessoas físicas e R$ 45 bilhões para empresas. O crédito pessoal evoluiu 1,7%, para R$ 217 bilhões, sendo 60% desse valor proveniente do consignado, com alta de 1,8%, para R$ 131 bilhões. A diferença entre um e outro é a taxa de juro cobrada, de 41% e 26%, respectivamente.
Valor Econômico
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