Escândalo: Bancos não sabiam de irregularidade, detectada em cruzamento de dados do BC
Vanessa Adachi, Aline Lima e Fernando Travaglini De São Paulo e Brasília
11/11/2010
A diretoria do banco Panamericano praticou irregularidade nos balanços da instituição de janeiro de 2006 até maio deste ano. O Valor apurou que, dentro do grupo Silvio Santos, controlador do banco, a tese existente hoje é que a maquiagem nos balanços promovida pela diretoria, ou parte dela, teve como objetivo fazer com que o banco continuasse lucrativo, o que beneficiava os executivos. Até o momento, não foram encontrados indícios de desvio de dinheiro, mas as investigações apenas começaram.
A origem de todos os problemas está na venda de carteiras de crédito do banco em grandes volumes a outras instituições, com o objetivo de levantar dinheiro e continuar emprestando, fazendo girar a bicicleta. Essas vendas e seus efeitos sobre o balanço não foram devidamente registrados na contabilidade, e, em seu conjunto, tiveram o efeito de inflar artificialmente seu ativo, ao mesmo tempo em que reduziam o passivo e aceleravam a geração de receitas (ver texto abaixo sobre as irregularidades praticadas).
No total, cerca de R$ 1 bilhão em operações de crédito foram cedidas a outros bancos e não contabilizadas apropriadamente. Segundo apurou o Valor, parte das carteiras que estão no cerne do problema foram vendidas ao Bradesco e ao Itaú, que não tinham como saber que o Panamericano vinha fraudando sua contabilidade. Procurado, o Bradesco confirmou o fato e acrescentou que "trata-se de operações corriqueiras que o banco realiza com participantes do mercado." O Itaú não se manifestou.
A única forma de pegar as irregularidades seria fazendo uma "auditoria circular" no sistema financeiro, cruzando dados de compra e venda de carteiras de todos os bancos. Algo que, na visão de especialistas, o Banco Central deveria fazer habitualmente, mas não faz.
As fraudes foram pegas por conta de uma fiscalização especial, focada em cessões de crédito entre todos os bancos, deflagrada no início de agosto, segundo explicou o BC em coletiva à imprensa ontem no fim da tarde. "Nossa supervisão é baseado em risco. Aumentou a cessão de crédito, então vamos lá (verificar)", disse o diretor de Fiscalização do BC, Alvir Hoffmann.
O trabalho começou tão logo o BC recebeu os balanços do segundo trimestre. Com as informações em mãos, o BC começou a cruzar dados e a levantar informações sobre as operações de venda de carteira de forma mais detalhada. Segundo Hoffmann, há cerca de seis semanas o problema foi encontrado no Panamericano.
"O levantamento que fizemos nas carteiras de crédito cedidas pelo Panamericano apresentavam inconsistência, com divergência dos valores que o banco diz que vendeu e o que os outros bancos compraram. Foi um pacote de 10 mil a 15 mil operações de empréstimos de pequeno valor." Ainda de acordo com Hoffmann, algumas operações que já constavam como adquiridas em outras instituições remanesciam no balanço do Panamericano. "Há indícios de que houve venda dupla de carteira".
O pente-fino feito no sistema, no entanto, não é uma coisa rotineira a cada publicação de um novo balanço. Nem mesmo é feita todo ano. Segundo Hoffmann, há alguns procedimentos de supervisão que são periódicos e outros que são eventuais, como foi o caso da venda de carteiras.
A busca de rotina, como o próprio diretor admitiu, não foi suficiente para detectar o problema do Panamericano. "Pode ter começado há três ou quatro anos, porque as carteiras são longas, mas ainda estamos apurando."
Hoffmann disse que os auditores podem ser penalizados. Segundo ele, era obrigação da empresa de auditoria, no caso a Deloitte, fazer o que se chama circularização, ou seja, mandar cartas para os bancos que compraram as carteiras para verificar se de fato a operação existia. "Se identificar que o auditor não fez circularização de maneira adequada, poderá responder ao BC. Mas não podemos afirmar ainda, não temos elementos". Segundo Luiz Sandoval, presidente do conselho do banco, o Panamericano dispensou a Deloitte e está contratando a PwC.
A cada ano, a diretoria de fiscalização do BC escolhe um tema para aprofundar a análise. "Nesse momento dissemos: vamos entender melhor como está funcionando esse negócio de cessão de crédito, que está crescendo bastante. Foi aí que fomos avaliar todo esse conjunto de operações, que se tornaram expressivas no sistema financeiro, buscando então entender tudo, conciliar, vê com um banco contabiliza, como outro faz a contra partida", explicou Hoffmann.
Hoffman afirmou que "a supervisão do BC não tem evidência de problemas da mesma espécie" em outros bancos. Mas diz que o caso vai demandar um estudo para estabelecer um acompanhamento que evite a repetição de casos como esse.
Vanessa Adachi, Aline Lima e Fernando Travaglini De São Paulo e Brasília
11/11/2010
A diretoria do banco Panamericano praticou irregularidade nos balanços da instituição de janeiro de 2006 até maio deste ano. O Valor apurou que, dentro do grupo Silvio Santos, controlador do banco, a tese existente hoje é que a maquiagem nos balanços promovida pela diretoria, ou parte dela, teve como objetivo fazer com que o banco continuasse lucrativo, o que beneficiava os executivos. Até o momento, não foram encontrados indícios de desvio de dinheiro, mas as investigações apenas começaram.
A origem de todos os problemas está na venda de carteiras de crédito do banco em grandes volumes a outras instituições, com o objetivo de levantar dinheiro e continuar emprestando, fazendo girar a bicicleta. Essas vendas e seus efeitos sobre o balanço não foram devidamente registrados na contabilidade, e, em seu conjunto, tiveram o efeito de inflar artificialmente seu ativo, ao mesmo tempo em que reduziam o passivo e aceleravam a geração de receitas (ver texto abaixo sobre as irregularidades praticadas).
No total, cerca de R$ 1 bilhão em operações de crédito foram cedidas a outros bancos e não contabilizadas apropriadamente. Segundo apurou o Valor, parte das carteiras que estão no cerne do problema foram vendidas ao Bradesco e ao Itaú, que não tinham como saber que o Panamericano vinha fraudando sua contabilidade. Procurado, o Bradesco confirmou o fato e acrescentou que "trata-se de operações corriqueiras que o banco realiza com participantes do mercado." O Itaú não se manifestou.
A única forma de pegar as irregularidades seria fazendo uma "auditoria circular" no sistema financeiro, cruzando dados de compra e venda de carteiras de todos os bancos. Algo que, na visão de especialistas, o Banco Central deveria fazer habitualmente, mas não faz.
As fraudes foram pegas por conta de uma fiscalização especial, focada em cessões de crédito entre todos os bancos, deflagrada no início de agosto, segundo explicou o BC em coletiva à imprensa ontem no fim da tarde. "Nossa supervisão é baseado em risco. Aumentou a cessão de crédito, então vamos lá (verificar)", disse o diretor de Fiscalização do BC, Alvir Hoffmann.
O trabalho começou tão logo o BC recebeu os balanços do segundo trimestre. Com as informações em mãos, o BC começou a cruzar dados e a levantar informações sobre as operações de venda de carteira de forma mais detalhada. Segundo Hoffmann, há cerca de seis semanas o problema foi encontrado no Panamericano.
"O levantamento que fizemos nas carteiras de crédito cedidas pelo Panamericano apresentavam inconsistência, com divergência dos valores que o banco diz que vendeu e o que os outros bancos compraram. Foi um pacote de 10 mil a 15 mil operações de empréstimos de pequeno valor." Ainda de acordo com Hoffmann, algumas operações que já constavam como adquiridas em outras instituições remanesciam no balanço do Panamericano. "Há indícios de que houve venda dupla de carteira".
O pente-fino feito no sistema, no entanto, não é uma coisa rotineira a cada publicação de um novo balanço. Nem mesmo é feita todo ano. Segundo Hoffmann, há alguns procedimentos de supervisão que são periódicos e outros que são eventuais, como foi o caso da venda de carteiras.
A busca de rotina, como o próprio diretor admitiu, não foi suficiente para detectar o problema do Panamericano. "Pode ter começado há três ou quatro anos, porque as carteiras são longas, mas ainda estamos apurando."
Hoffmann disse que os auditores podem ser penalizados. Segundo ele, era obrigação da empresa de auditoria, no caso a Deloitte, fazer o que se chama circularização, ou seja, mandar cartas para os bancos que compraram as carteiras para verificar se de fato a operação existia. "Se identificar que o auditor não fez circularização de maneira adequada, poderá responder ao BC. Mas não podemos afirmar ainda, não temos elementos". Segundo Luiz Sandoval, presidente do conselho do banco, o Panamericano dispensou a Deloitte e está contratando a PwC.
A cada ano, a diretoria de fiscalização do BC escolhe um tema para aprofundar a análise. "Nesse momento dissemos: vamos entender melhor como está funcionando esse negócio de cessão de crédito, que está crescendo bastante. Foi aí que fomos avaliar todo esse conjunto de operações, que se tornaram expressivas no sistema financeiro, buscando então entender tudo, conciliar, vê com um banco contabiliza, como outro faz a contra partida", explicou Hoffmann.
Hoffman afirmou que "a supervisão do BC não tem evidência de problemas da mesma espécie" em outros bancos. Mas diz que o caso vai demandar um estudo para estabelecer um acompanhamento que evite a repetição de casos como esse.
Valor Econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário