Real valorizado permite maior endividamento das companhias.
Por Stella Fontes, Fernando Torres e Vera Saavedra Durão De São Paulo e do Rio
18/10/2010
A desvalorização do dólar, que causa preocupação em governantes de todo o mundo, tem efeito positivo no nível de endividamento das companhias abertas brasileiras.
Ao observar uma amostra de 114 empresas não financeiras sem Petrobras e Vale, a Ativa Correta observou que a relação entre a dívida líquida e o lucro antes de juros impostos, depreciação e amortização (lajida) caiu de 1,2 vez para 1,1 vez entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano, mesmo com a dívida bruta tendo aumentado 6%, para R$ 332 bilhões.
A explicação do nível comportado dessa medida de endividamento nos últimos trimestres, segundo a corretora, está relacionada tanto com a alta do lajida quanto com a queda do dólar. Em outras palavras, se o real não tivesse se valorizado, as companhias pareceriam mais alavancadas.
A conclusão de levantamento feito pelo Valor Data com 237 empresas não financeiras, desta vez considerando Petrobras e Vale, é semelhante. Em 12 meses até junho, a dívida bruta desse grupo subiu 26,4%, para R$ 549,8 bilhões. Apesar disso, a relação desse passivo financeiro com o patrimônio líquido subiu apenas de 64,3% para 68,8%. As companhias estão se endividando para financiar investimentos e aproveitar o aquecimento da economia.
Ao se observar os dados por trimestre, nota-se que o resultado financeiro das companhias, que capta o efeito da variação cambial na dívida, teve seus melhores períodos no segundo e terceiro trimestres de 2009, quando o dólar caiu 15,3% e 9,8%, respectivamente, portanto recuos superiores ao deste ano (ver quadro acima).
Esse tipo de variação tem impacto direto no lucro das companhias, o que deve se repetir no terceiro trimestre deste ano, quando a moeda americana perdeu 6,2% ante o real de junho.
No caso dos balanços de celulose e papel, há ganho na linha financeira, sendo que os resultados e margens operacionais não serão tão pressionados por essa variação, uma vez que as cotações internacionais da celulose estão acima da média histórica.
Dessa forma, a última linha do balanço das empresas do setor deverá refletir ganhos financeiros advindos da variação cambial, embora menores do que os registrados no terceiro trimestre do ano passado, e também melhora operacional, especialmente na comparação com aquele intervalo. Além da Fibria, Suzano Papel e Celulose e Klabin se encaixam nesse cenário.
A Suzano, cuja dívida bruta totalizava R$ 6,29 bilhões em 30 de junho (quase 50% em moeda estrangeira), tem mais de 50% de suas receitas geradas no mercado externo, com destaque para a celulose. A Klabin, por sua vez, não vende a matéria-prima, que é cotada em dólar (toda a celulose que produz é utilizada na fabricação de papéis), e exportou, no primeiro semestre, o equivalente a 34% de suas vendas em volume.
"A Klabin acaba menos exposta que as demais na linha da receita e ainda há o impacto positivo do câmbio no financeiro", diz o analista Leonardo Alves, da Link Investimentos. Em 30 de junho, a dívida bruta da companhia, maior fabricante nacional de papéis para embalagens, era de R$ 4,71 bilhões, 60% em moeda estrangeira.
Nos setores de mineração e siderurgia, em que as empresas têm parte relevante da dívida em dólar, também haverá impacto da variação cambial. No caso da Vale, mesmo na receita o dólar não terá efeito tão negativo, por conta do preço maior do minério. Já entre as siderúrgicas, isso não ocorre
O analista Rodrigo Ferraz, da Brascan Corretora, destaca o fato de que a queda do dólar está levando as siderúrgicas brasileiras a sofrer uma concorrência estrangeira feroz. Os estoques de aço se acumulam nos distribuidores e as usinas, a partir de setembro, passaram a dar descontos na faixa de 10% para no mercado doméstico. Ferraz calcula que, neste ano, o aço importado vai participar com 20% do consumo do produto no Brasil contra 5% a 6% em anos anteriores.
Outro fator que poderá derrubar os ganhos das usinas locais este ano é o rearranjo que a China está fazendo em seu parque siderúrgico para conter a inflação e reduzir o consumo de energia. O fato está levando os chineses a exportar aço. Nos nove primeiros meses do ano, as exportações chinesas de aço cresceram 116% ante 2009, destaca Ferraz, da Brascan.
Nesse contexto, o analista Marcelo Aguiar, do Goldman Sachs, projeta uma redução do lucro das usinas brasileiras na faixa de 6% neste ano, ante 2009. Ele tem um cenário de cautela para as siderúrgicas e projeta mudanças não apenas no preço do aço doméstico como também na estrutura industrial do setor, com foco na produção de aço especializado e na tendência de consolidação.
"Na média, o efeito do câmbio para as siderúrgicas é negativo", diz Felipe Reis, analista de mineração e siderurgia do Santander.
No quarto trimestre, com uma baixa de 12% no preço do minério e dólar a R$ 1,66, Reis diz que também a Vale terá perda operacional
Por Stella Fontes, Fernando Torres e Vera Saavedra Durão De São Paulo e do Rio
18/10/2010
A desvalorização do dólar, que causa preocupação em governantes de todo o mundo, tem efeito positivo no nível de endividamento das companhias abertas brasileiras.
Ao observar uma amostra de 114 empresas não financeiras sem Petrobras e Vale, a Ativa Correta observou que a relação entre a dívida líquida e o lucro antes de juros impostos, depreciação e amortização (lajida) caiu de 1,2 vez para 1,1 vez entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano, mesmo com a dívida bruta tendo aumentado 6%, para R$ 332 bilhões.
A explicação do nível comportado dessa medida de endividamento nos últimos trimestres, segundo a corretora, está relacionada tanto com a alta do lajida quanto com a queda do dólar. Em outras palavras, se o real não tivesse se valorizado, as companhias pareceriam mais alavancadas.
A conclusão de levantamento feito pelo Valor Data com 237 empresas não financeiras, desta vez considerando Petrobras e Vale, é semelhante. Em 12 meses até junho, a dívida bruta desse grupo subiu 26,4%, para R$ 549,8 bilhões. Apesar disso, a relação desse passivo financeiro com o patrimônio líquido subiu apenas de 64,3% para 68,8%. As companhias estão se endividando para financiar investimentos e aproveitar o aquecimento da economia.
Ao se observar os dados por trimestre, nota-se que o resultado financeiro das companhias, que capta o efeito da variação cambial na dívida, teve seus melhores períodos no segundo e terceiro trimestres de 2009, quando o dólar caiu 15,3% e 9,8%, respectivamente, portanto recuos superiores ao deste ano (ver quadro acima).
Esse tipo de variação tem impacto direto no lucro das companhias, o que deve se repetir no terceiro trimestre deste ano, quando a moeda americana perdeu 6,2% ante o real de junho.
No caso dos balanços de celulose e papel, há ganho na linha financeira, sendo que os resultados e margens operacionais não serão tão pressionados por essa variação, uma vez que as cotações internacionais da celulose estão acima da média histórica.
Dessa forma, a última linha do balanço das empresas do setor deverá refletir ganhos financeiros advindos da variação cambial, embora menores do que os registrados no terceiro trimestre do ano passado, e também melhora operacional, especialmente na comparação com aquele intervalo. Além da Fibria, Suzano Papel e Celulose e Klabin se encaixam nesse cenário.
A Suzano, cuja dívida bruta totalizava R$ 6,29 bilhões em 30 de junho (quase 50% em moeda estrangeira), tem mais de 50% de suas receitas geradas no mercado externo, com destaque para a celulose. A Klabin, por sua vez, não vende a matéria-prima, que é cotada em dólar (toda a celulose que produz é utilizada na fabricação de papéis), e exportou, no primeiro semestre, o equivalente a 34% de suas vendas em volume.
"A Klabin acaba menos exposta que as demais na linha da receita e ainda há o impacto positivo do câmbio no financeiro", diz o analista Leonardo Alves, da Link Investimentos. Em 30 de junho, a dívida bruta da companhia, maior fabricante nacional de papéis para embalagens, era de R$ 4,71 bilhões, 60% em moeda estrangeira.
Nos setores de mineração e siderurgia, em que as empresas têm parte relevante da dívida em dólar, também haverá impacto da variação cambial. No caso da Vale, mesmo na receita o dólar não terá efeito tão negativo, por conta do preço maior do minério. Já entre as siderúrgicas, isso não ocorre
O analista Rodrigo Ferraz, da Brascan Corretora, destaca o fato de que a queda do dólar está levando as siderúrgicas brasileiras a sofrer uma concorrência estrangeira feroz. Os estoques de aço se acumulam nos distribuidores e as usinas, a partir de setembro, passaram a dar descontos na faixa de 10% para no mercado doméstico. Ferraz calcula que, neste ano, o aço importado vai participar com 20% do consumo do produto no Brasil contra 5% a 6% em anos anteriores.
Outro fator que poderá derrubar os ganhos das usinas locais este ano é o rearranjo que a China está fazendo em seu parque siderúrgico para conter a inflação e reduzir o consumo de energia. O fato está levando os chineses a exportar aço. Nos nove primeiros meses do ano, as exportações chinesas de aço cresceram 116% ante 2009, destaca Ferraz, da Brascan.
Nesse contexto, o analista Marcelo Aguiar, do Goldman Sachs, projeta uma redução do lucro das usinas brasileiras na faixa de 6% neste ano, ante 2009. Ele tem um cenário de cautela para as siderúrgicas e projeta mudanças não apenas no preço do aço doméstico como também na estrutura industrial do setor, com foco na produção de aço especializado e na tendência de consolidação.
"Na média, o efeito do câmbio para as siderúrgicas é negativo", diz Felipe Reis, analista de mineração e siderurgia do Santander.
No quarto trimestre, com uma baixa de 12% no preço do minério e dólar a R$ 1,66, Reis diz que também a Vale terá perda operacional
Valor Econômico
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