
O mundo vive uma crise de liderança. Assim dizem políticos, cientistas sociais e consultores empresariais. É quase um fato. Se também não fosse natural que o conceito de liderança se transforma assim como o mundo, as novas tecnologias, contextos econômicos e sociais. Lideranças nunca deixarão de existir. Desde que estejam atentas às novas formas de liderar. Em um momento que o conhecimento se expande via redes sociais, a Europa vive uma crise de confiança no sistema financeiro pós 2008, a open source economy (economia de fonte aberta) tornou imprescindível a transparência nas relações.
É dentro desse contexto que Didier Malier, sócio fundador da consultoria Enablers Network, observa e conceitua uma nova postura para os líderes: o de conector. Marlier defende que esse é o momento de implementar gestões mais horizontalizadas, criar proximidade entre diretoria e o chão da fábrica, ou do escritório, valorizar a transparência em todas as ações estratégicas da empresa. “É preciso abandonar esse modelo piramidal, do antigo Egito, para que as empresas sejam mais orgânicas, onde todos os colaboradores são sensores de informações que vão contribuir para o desempenho corporativo, cientes da estratégia e do seu papel”.
O consultor observa que no Brasil a distância entre diretores, gerentes e demais funcionários ainda é muito verticalizada, baseada na autoridade, com pouca interação entre todas as áreas da empresa. Com isso, perde na competitividade e na inovação, na eficiência, uma vez que esse distanciamento tira a motivação do funcionário para dar sentido ao seu trabalho. As lideranças por sua vez, deixam de aproveitar informações diferenciadas para potencializar suas estratégias.
Como metáfora, mas também como ciência, Marlier cita pesquisas de dois cientistas contemporâneos, o neuro cientista Antonio Damázio, e o psicólogo Gert Jan Hofstede que já comprovaram que dos milhões de informações que o cérebro humano recebe por segundo, somente 50 bits são processados racionalmente. Não seria diferente com as empresas. O “cérebro” , como órgão diretor e responsável pelas decisões, não é capaz de absorver a quantidade de volume de informações produzidas atualmente. Ao investir na capacitação de todas as suas “células” – seus funcionários -, criaria uma enorme rede sensora de tendências, inovações, interagindo com a sociedade e com a estratégia das empresas.
O consultor cita como exemplo de uma empresa orgânica, com líderes conectores, a Rhodia. As estratégias da empresa são elaboradas e discutidas em linguagem adequada para todos os escalões, inclusive todo o operariado, por meio de gráficos, planilhas e desenhos. “Os diretores iam para o chão da fábrica mostrar quais eram as novas estratégias da empresa, o porque daquele processo, produto, qual o papel daquele funcionário dentro daquele novo contexto”, conta. Além da motivação, do engajamento, segundo Marlier, esse será um funcionário que estará “antenado” com a própria empresa, seja no ônibus, com a família ou os amigos. E será capaz de fazer associações e trazer novas experiências para o dia-a-dia da organização. “Não é mais possível que uma diretoria, composta de seis ou dez pessoas, uma elite dentro das empresas, seja capaz de captar todas as nuances sobre sua estratégia de negócio”, explica o consultor.
Estrategizar: Essa conexão entre empresa, funcionários, sociedade, clientes, consequência de uma sociedade que demanda uma open source economy, vai refletir no conceito de estratégia da mesma forma. Acompanhar a dinâmica a partir de um melhor processamento de informações, vai exigir não mais planos anuais de metas e estratégias, mas entrar nesse fluxo dinâmico aberto para mudanças. Daí, estrategizar como um movimento permanente de toda a empresa. Liderar, conectar e estrategizar, os grandes desafios para manter as empresas competitivas, inovadoras e sintonizadas com seu tempo.
Didier Marlier é sócio fundador da Enablers Network, ativamente engajado no tema da “Open Source Economy”, e atualmente prepara o primeiro “Disruption Experience (Experiência Disruptiva). Professor associado na Nyenrode University (NL), e convidado da Insead e EHL. Possui formação em Direito e MBA da IMD. É co-autor do livro “Engaging Leadership”, com Chris Parker, o qual esteve na lista de TOP 20 da pré-venda da Amazon UK (Reino Unido). Vive entre as pistas de esqui de Villars (Suíça) e as praias ensolaradas da Praia do Forte (Bahia – Brazil). Também é o “sortudo” marido da Cris e o pai orgulhoso do Betinho e Thaïs.
Fonte: Emprego e Carreira
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