Tendência de queda da taxa básica de juros, risco de uma piora no mercado externo e uma inflação doméstica que ainda requer atenção. O cenário para os investimentos em renda fixa em 2012 será influenciado por questões que já vêm se desenhando desde o segundo semestre do ano passado e impõem desafios cada vez maiores a gestores de recursos e investidores.
A expectativa de ter uma taxa Selic de um dígito, como sinalizado na última ata do Comitê de Política Monetária, só acentuou movimentos que já eram notados: os investidores têm buscado aplicações com prêmios maiores como os títulos de crédito privado.
Encontrar papéis que paguem prêmios significativos em relação ao retorno oferecido pelos títulos públicos, porém, já não é mais uma tarefa fácil. Os gestores de fundos observam que os investidores terão que correr mais risco ou aceitar aplicações com menor liquidez se quiserem garantir retornos melhores.
Para o diretor de renda fixa da Rio Bravo Investimentos, Alexandre Fernandes, as debêntures continuam como opções atrativas neste ano, mas os retornos oferecidos por papéis de emissores de boa qualidade de crédito já têm recuado em relação ao ano passado.
A oferta de debêntures da empresa de shopping centers Iguatemi, no valor de R$ 300 milhões fechada na semana passada, saiu com uma taxa de 1% mais a variação do CDI para o prazo de vencimento de seis anos. Esse retorno é inferior ao oferecido pela empresa na emissão de março do ano passado, quando a Iguatemi captou R$ 330 milhões pelo prazo de cinco anos, pagando uma taxa de 1,35% mais a variação do CDI no período. "A demanda por papéis privados está alta, mas o mercado está seletivo", diz Fernandes.
O diretor de renda fixa da HSBC Global Asset Management, Renato Ramos, acredita, no entanto, em uma manutenção desses spreads. "As taxas oferecidas nas emissões de debêntures devem se estabilizar e não vejo um fechamento maior dos prêmios neste ano."
Para obter retornos maiores, a gestora do HSBC tem olhado emissões de empresas de setores menos conhecidos do mercado, que oferecem um prêmio mais alto.
Já a XP Investimentos tem procurado investir em debêntures que ofereçam uma remuneração atrelada à variação da inflação, indexadas, por exemplo, ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A emissão da empresa de shopping centers BRMalls mostra como está aquecida a procura para papéis atrelados ao IPCA. A demanda pela oferta chegou a quatro vezes o volume colocado, de R$ 300 milhões, saindo com uma remuneração de 6,90% mais a variação do IPCA, inferior ao previsto pela empresa de 7,20% mais a variação do índice. Apesar da redução da remuneração oferecida, ainda existe um prêmio em relação ao títulos públicos de mesmo vencimento.
As Notas do Tesouro nacional (NTNs-B) com vencimento em 2020, por exemplo, estavam pagando uma taxa de 5,30% ao ano mais a variação do IPCA. "A inflação ainda é uma pedra no sapato do governo e pode mostrar sinais de piora", afirma Fausto Silva Filho, gestor de renda fixa da XP.
Nesse cenário, investimentos atrelados a créditos estruturados como Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) têm oferecido taxas de retornos mais atrativas. As emissões de CRIs com prazos de 10 anos a 30 anos pagam uma rentabilidade de 7% a 8% mais a variação do Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M).
Os títulos atrelados a recebíveis imobiliários continuam em alta, sustentados pelo crescimento do financiamento imobiliário e grande apetite dos investidores por papéis como CRIs e Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), que são isentos do pagamento de Imposto de Renda sobre os rendimentos para investidores pessoa física. Só na Brazilian Mortgages (BM), as emissões de LCI cresceram 40% no ano passado em relação a 2010, somando R$ 805 milhões. "Esperamos alcançar a mesma ordem de crescimento neste ano", afirma Vitor Bidetti, diretor da BM.
Os papéis emitidos pela BM são distribuídos por vários bancos e a aplicação mínima é de R$ 20 mil, com tíquete médio na faixa de R$ 100 mil. A taxa de retorno desses títulos tem variado de 85% do CDI a 95% do CDI, com prazo de investimento de dois meses a um ano. "O prazo médio das nossas emissões de LCI tem sido de seis meses, mas temos uma taxa de renovação das aplicações de aproximadamente 90%", destaca Bidetti.
Assim como os LCIs, as Letras de Crédito de Agronegócio (LCAs) também têm ganhado espaço, disputando mercado com os Certificados de Depósito Bancário (CDBs), já que são emitidas pelos bancos com lastro nas carteiras de crédito do agronegócio.
O Banco do Brasil, maior emissor desses títulos, chega a oferecer uma rentabilidade de até 93% do CDI, e os investidores também contam com isenção fiscal sobre os rendimentos. Isso permite que as LCAs apresentem retornos superiores à média de produtos tradicionais de renda fixa, cujos rendimentos, geralmente, são tributados às alíquotas de 22,5% a 15% dependendo do prazo da operação.
Segundo o gerente executivo da área de private bank do Banco do Brasil, Yves Cardoso Fidalgo Júnior, o prazo desses papéis é de até dois anos, mas a maioria das emissões tem se concentrado no período de um ano. No entanto, como não contam com a cobertura do Fundo Garantir de Crédito (FGC), é importante que o investidor avalie o risco de crédito da instituição antes de efetuar o investimento.
Já em relação aos títulos de crédito bancário, a preferência do gestor de renda fixa do HSBC, Renato Ramos, tem sido pela Letras Financeiras. Emitidos desde março de 2010, esses títulos são de prazos mais longos, no mínimo dois anos, e, por isso, acabam oferecendo uma remuneração melhor que a dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs), já que são isentos da obrigação de recolhimento de depósito compulsório.
As Letras Financeiras, segundo Silva Filho, da XP, chegam a pagar de dois a três pontos percentuais a mais que os CDBs emitidos pela mesma instituição com o mesmo prazo de vencimento.
Já nas operações de risco de mercado, os gestores têm assumido posições prefixadas em taxas de juros para se beneficiar da queda da Selic. Mas, no mês passado, o Banco Central sinalizou um corte maior do que o mercado estava esperando para o juro, o que levou a uma queda das taxas de juros dos contratos futuros e, consequentemente, dos prêmios.
Fonte: Valor Econômico
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