Por que a maioria dos empreendedores demora tanto para buscar investimento externo e como isso torna suas empresas uma fração do seu verdadeiro potencial?
Era 1998 e a revolução da internet estava estourando. Eu trabalhava na época na GP Investimentos, e o Beto Sicupira pediu que Antonio Bonchristiano e eu encontrássemos ótimas empresas de Internet. Passamos alguns meses escutando aspirantes a empreendedor de 20 anos que queriam nos mostrar seus sites em versão beta, planos de negócios e como suas empresas valiam 20 milhões de dólares antes do investimento. Logo percebemos que estávamos do lado errado da mesa, e deixamos a GP para fundar o Submarino.com.
Nesse momento, tivemos que decidir se queríamos fazer tudo por conta própria ou se iríamos precisar do patrocínio da GP. Esse é um dilema comum e tenho a impressão, depois de 10 anos como mentor da Endeavor e como investidor de private equity, que a maioria dos empreendedores espera tempo demais para buscar um sócio-investidor. Em casos típicos, eles tropeçam nas ideias, são forçados a financiar seus empreendimentos com capital de amigos/família/fornecedores/clientes, tem problemas em profissionalizar a gestão e, assim, constroem negócios que são apenas uma fração dos seus verdadeiros potenciais, porque não tiveram o dinheiro ou o apoio externo necessário para institucionalizar suas empresas.
Por que esse fenômeno é tão comum? Primeiro, existe uma tendência natural dos fundadores em atrasar o quanto for possível o efeito de diluição que ocorre ao se levantar capital: “Se preciso conseguir 5 milhões, vou esperar até minha empresa valer 50 milhões para poder vender apenas 10% da empresa.” Existe, também, o sentimento comum de que nenhum investidor externo paga um “valor justo” pelas empresas. E tem ainda os custos de se ter um investidor (Pagar TODOS os impostos, não poder debitar gastos pessoais na conta da empresa, precisar de auditoria e conselho, ter um CFO de verdade, etc.)
Na Submarino.com nós percebemos que o time-to-market era importante demais e que nosso modelo era muito focado no capital para crescer sem apoio. Vendemos 75% da empresa logo no início para a GP Investimentos e continuamos levantando capital em cinco estágios diferentes até vendermos o negócio para as Lojas Americanas. No final, os fundadores tinham menos de 10% da empresa, através de ações beneficiárias e opções, mas a criação de valor foi tão grande que ficamos muito felizes. Talvez pudéssemos ter sido mais espartanos nos nossos gastos. Quem sabe. Escolhemos um modelo de negócio intensivo em capital e tínhamos concorrentes muito ricos. Resumindo, levantar capital logo no começo funcionou suficientemente bem para nós.
Não há regra que se aplique a todos os empreendedores e em todas as situações. Honestamente, acho que investidores externos são cruciais para uma nova empresa conseguir desenvolver todo seu potencial. Quando possível, sugiro que o dinheiro seja captado em diferentes rodadas de financiamento, de forma que a valoração seja ajustada para refletir o progresso contínuo. Quanto e com que velocidade você deve levantar, depende muito das necessidades do seu negócio. Sua demanda por capital deve refletir o tamanho da oportunidade, o montante que você precisa para atingir os próximos marcos que vão cristalizar valor para sua empresa e sua habilidade em criar uma valoração que se aproxime do valor justo para sua empresa.
Martín Escobari foi co-fundador e CFO do Submarino.com e hoje é sócio da Advent International em São Paulo. Mentor Endeavor desde 2002.
Fonte: Endeavor
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