LucianoFeltrin lfeltrin@brasileconomico.com.br
A adoção brasileira às normas internacionais de contabilidade trouxe muitas dúvidas e uma única certeza: o país teria imensas dificuldades para formar e treinar profissionais capacitados para trabalhar com o novo modelo. Habituados a atuar em uma área até então considerada fora do espectro principal das companhias, contabilistas e auditores viram o cenário mudar por completo. A atividade, antes responsável apenas pelo cumprimento de regras escritas, começou a se enxergar muito mais próxima do cotidiano e do ambiente de negócios das empresas. Era o fim da expressão "meramente contábil", antes usada quase que de forma ofensiva para segregar contadores do resto da organização. O modelo International Financial Reporting Standards (IFRS) é baseado em princípios. Não há regras prontas para todos os tipos de empresa ou negócio.
A lei trouxe uma mudança de paradigma no ensino. Antes o aluno aprendia normas e, dentro delas, o que era ou não permitido.
Agora, no entanto, é preciso uma capacidade muito maior de interpretação, compara Tânia Relvas, da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).
"Ocontador que as empresas precisam hoje tem perfil mais executivo. Entende o segmento da companhia e recomenda ações que reduzem os impactos da implantação".
Para conseguir treinar adequadamente a mão de obra que colocará as novas regras em prática, o Insper foi alterando sua grade curricular à medida que o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) traduzia e publicava o conjunto de normas para aplicação no país. "Replicamos na sala de aula aquele ambiente que o aluno irá encontrar tendo o IFRS como base", explica Sérgio Jurandyr Machado, professor de contabilidade para análise de negócios da escola.
Na academia, os futuros contadores e auditores aprendem também que, graças ao uso dos novos princípios contábeis, é necessário ir além do que antes bastava para atuar na profissão.
Entender finanças corporativas e áreas correlatas, por exemplo, deixou de ser um luxo. É absolutamente necessário.
Outro tema que passou a ser incorporado ao currículo é governança corporativa. "Treinamos os alunos para trabalhar em empresas de diversos tipos.
Inclusive naquelas que são de pequeno porte, ainda não utilizam as melhores ferramentas de governança ou aquelas que estão se preparando para receber aportes de investidores exigentes", diz Machado.
Dividindo a bola
Prevendo que faltariam profissionais qualificados para aquela que é considerada a mais complexa mudança de padrões desde que as empresas brasileiras com ações nos Estados Unidos passaram a cumprir as exigências da lei Sarbanes Oxley, a Ernst & Young apostou em treinamentos.
Eles são divididos emníveis profissionais-executivos de finanças, relações com investidores, analistas, membros de conselho de administração e advogados- e temáticas: seguros, derivativos e stock otptions, por exemplo.
Esses programas de treinamento já formaram cerca de 3.500 profissionais desde 2007.
"A demanda pelos próximos módulos é grande. Sabíamos que haveria um intervalo entre a aprovação da lei, a adequação pelas empresas e a formação adequada de profissionais", lembra Paul Sutcliffe, sócio da Ernst & Young. ■
Fonte: Brasil Econônomico
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