Mercado de capitais: Papéis financiaram R$ 41 bi para empresas; cenário para 2011 é incerto
Carolina Mandl De São Paulo
07/12/2010
As empresas levantaram R$ 41,1 bilhões por meio da venda de debêntures para investidores em 2010, até novembro. O volume é 62% superior àquele registrado ao longo do ano passado inteiro, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Outros R$ 1,9 bilhão que estão em análise ainda podem ser emitidos em 2010.
O montante recorde de lançamento de debêntures veio no rastro das condições mais favoráveis de mercado, permitindo que as companhias se refinanciassem a custos mais baixos e a prazos mais longos do que aqueles fixados nos dois anos anteriores.
Para 2011, analistas ouvidos pelo Valor projetam um novo crescimento da emissão de dívida, porém, a passos mais contidos. Isso porque as recentes medidas tomadas pelo Banco Central com o objetivo de reduzir a liquidez do mercado devem trazer um impacto negativo para as taxas pagas pelas empresas pelos papéis.
"Essas políticas podem elevar o custo de captação dos bancos, o que acabaria se refletindo no preço pago pelas empresas também. Se as companhias precisarem pagar mais, talvez avaliem que a debênture não seja o melhor caminho", afirma Ricardo Leoni, superintendente de mercado de capitais do banco Santander.
Na avaliação de Ricardo Carvalho, diretor de avaliação de empresa da Fitch, mesmo com a alta de taxas, o custo final não deve sofrer alterações radicais. "O cenário geral ainda é de bastante liquidez", avalia.
As novidades trazidas pelo Banco Central também podem influenciar o apetite dos bancos pela compra das debêntures. Neste ano, até outubro, as instituições financeiras tinham comprado mais de R$ 16 bilhões de papéis de dívida lançados pelas companhias, segundo dados da Anbima. Por ter uma menor carga tributária, os bancos preferem muitas vezes conceder crédito para as empresas por meio de debêntures do que nos moldes tradicionais.
O tamanho desse impacto no custo de captação das empresas ainda é uma incógnita, mas os executivos dos bancos de investimento não chegam a imaginar que haverá um encolhimento nas emissões. "O Brasil continua com muitos investimentos a serem feitos. Não há como haver um retrocesso nem na quantidade, nem no volume emitido", diz Fábio Mentone, diretor-gerente do Bradesco BBI.
O que poderia trazer um novo impulso para a venda de debêntures seria o pacote de incentivos que o governo federal deve anunciar em breve para o financiamento das empresas por meio da emissão de papéis de dívida no mercado de capitais.
A expectativa é que a nova política incentive a construção de empreendimentos estruturantes, aliviando o peso que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) possui. Apesar de as debêntures servirem em larga escala os setores de energia, telecomunicações, concessões rodoviárias e construção, hoje o maior financiador de obras é o banco estatal. As debêntures servem mais para financiar obras que já estejam operando. (ver gráfico acima)
Neste ano, o mercado começou a testar o apetite dos investidores para debêntures de infraestrutura com uma oferta de R$ 1,1 bilhão da concessionária paulista de rodovias Rota das Bandeiras, do grupo Odebrecht. A emissão, coordenada pelo Banco do Brasil e pelo Santander, vai financiar obras na concessão por 12 anos, a um custo de 9,57% mais a variação da inflação medida pelo IPCA ao ano.
O prazo do papel da Rota das Bandeiras também representou um avanço deste ano em relação às emissões de 2009. No ano passado, os vencimentos estavam mais curtos porque o mercado ainda estava saindo da crise econômica. "As primeiras operações de 2009 saíam com prazo de dois anos. Hoje já se está com uma média de quatro anos", afirma Eduardo Prado, da área de renda fixa do Itaú BBA.
Na CVM, está em análise uma outra operação que deve nos mesmos moldes da concessionária da Odebrecht. A Ecopistas - das rodovias Ayrton Senna e Carvalho Pinto, em São Paulo - quer levantar R$ 350 milhões por 12 anos. Porém, segundo o Valor apurou com investidores, a oferta não deve ser concluída ainda neste ano.
Carolina Mandl De São Paulo
07/12/2010
As empresas levantaram R$ 41,1 bilhões por meio da venda de debêntures para investidores em 2010, até novembro. O volume é 62% superior àquele registrado ao longo do ano passado inteiro, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Outros R$ 1,9 bilhão que estão em análise ainda podem ser emitidos em 2010.
O montante recorde de lançamento de debêntures veio no rastro das condições mais favoráveis de mercado, permitindo que as companhias se refinanciassem a custos mais baixos e a prazos mais longos do que aqueles fixados nos dois anos anteriores.
Para 2011, analistas ouvidos pelo Valor projetam um novo crescimento da emissão de dívida, porém, a passos mais contidos. Isso porque as recentes medidas tomadas pelo Banco Central com o objetivo de reduzir a liquidez do mercado devem trazer um impacto negativo para as taxas pagas pelas empresas pelos papéis.
"Essas políticas podem elevar o custo de captação dos bancos, o que acabaria se refletindo no preço pago pelas empresas também. Se as companhias precisarem pagar mais, talvez avaliem que a debênture não seja o melhor caminho", afirma Ricardo Leoni, superintendente de mercado de capitais do banco Santander.
Na avaliação de Ricardo Carvalho, diretor de avaliação de empresa da Fitch, mesmo com a alta de taxas, o custo final não deve sofrer alterações radicais. "O cenário geral ainda é de bastante liquidez", avalia.
As novidades trazidas pelo Banco Central também podem influenciar o apetite dos bancos pela compra das debêntures. Neste ano, até outubro, as instituições financeiras tinham comprado mais de R$ 16 bilhões de papéis de dívida lançados pelas companhias, segundo dados da Anbima. Por ter uma menor carga tributária, os bancos preferem muitas vezes conceder crédito para as empresas por meio de debêntures do que nos moldes tradicionais.
O tamanho desse impacto no custo de captação das empresas ainda é uma incógnita, mas os executivos dos bancos de investimento não chegam a imaginar que haverá um encolhimento nas emissões. "O Brasil continua com muitos investimentos a serem feitos. Não há como haver um retrocesso nem na quantidade, nem no volume emitido", diz Fábio Mentone, diretor-gerente do Bradesco BBI.
O que poderia trazer um novo impulso para a venda de debêntures seria o pacote de incentivos que o governo federal deve anunciar em breve para o financiamento das empresas por meio da emissão de papéis de dívida no mercado de capitais.
A expectativa é que a nova política incentive a construção de empreendimentos estruturantes, aliviando o peso que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) possui. Apesar de as debêntures servirem em larga escala os setores de energia, telecomunicações, concessões rodoviárias e construção, hoje o maior financiador de obras é o banco estatal. As debêntures servem mais para financiar obras que já estejam operando. (ver gráfico acima)
Neste ano, o mercado começou a testar o apetite dos investidores para debêntures de infraestrutura com uma oferta de R$ 1,1 bilhão da concessionária paulista de rodovias Rota das Bandeiras, do grupo Odebrecht. A emissão, coordenada pelo Banco do Brasil e pelo Santander, vai financiar obras na concessão por 12 anos, a um custo de 9,57% mais a variação da inflação medida pelo IPCA ao ano.
O prazo do papel da Rota das Bandeiras também representou um avanço deste ano em relação às emissões de 2009. No ano passado, os vencimentos estavam mais curtos porque o mercado ainda estava saindo da crise econômica. "As primeiras operações de 2009 saíam com prazo de dois anos. Hoje já se está com uma média de quatro anos", afirma Eduardo Prado, da área de renda fixa do Itaú BBA.
Na CVM, está em análise uma outra operação que deve nos mesmos moldes da concessionária da Odebrecht. A Ecopistas - das rodovias Ayrton Senna e Carvalho Pinto, em São Paulo - quer levantar R$ 350 milhões por 12 anos. Porém, segundo o Valor apurou com investidores, a oferta não deve ser concluída ainda neste ano.
Valor Econômico
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