Lucro de 225 empresas cresce quase 50%, acompanhando a expansão da economia, da renda e do crédito.
Por Fernando Torres e Silvia Fregoni De São Paulo
19/11/2010
Por Fernando Torres e Silvia Fregoni De São Paulo
19/11/2010
Se nos Estados Unidos e na Europa ainda há dúvidas sobre a retomada da economia, os números do terceiro trimestre das companhias abertas brasileiras evidenciam que, no mercado local, a crise que se iniciou no fim de 2008 ficou definitivamente para trás.
Levantamento feito pelo Valor Data com dados da Economática referentes a 225 empresas não financeiras mostra que, somadas, elas tiveram lucro líquido de R$ 39,2 bilhões de julho a setembro. Esse volume supera em 47% o lucro obtido pelas companhias no mesmo período de 2009, de R$ 26,7 bilhões, e é 19% maior que o observado no terceiro trimestre de 2008, antes do estouro da crise, no total de R$ 32,9 bilhões, o melhor resultado registrado até então.
Os volumes recordes se repetem em outras linhas relevantes dos balanços. A receita líquida somada das 225 companhias atingiu R$ 273,6 bilhões no último trimestre, com alta de 22% em um ano e de 11% na comparação com 2008. O lucro operacional (antes do resultado financeiro e de impostos) aumentou 45% ante 2009, atingindo R$ 58,3 bilhões. Em relação ao último trimestre antes dos efeitos da turbulência internacional, o crescimento foi de 9%.
Os dados do levantamento não foram corrigidos pela inflação nem ajustados pelas mudanças contábeis do período.
Segundo os especialistas, o cenário macroeconômico favorável do país - com aumento da renda, do emprego e do crédito - explica o bom momento para as companhias brasileiras.
Relatório do Itaú BBA divulgado na noite de ontem diz que, entre as 104 companhias acompanhadas pelos analistas da equipe, 89% entregaram resultados em linha ou melhores que o esperado. Esse índice sobe a 91% quando se observa apenas o grupo de 85 empresas voltadas para a economia doméstica. De acordo com a equipe de estrategistas do Itaú BBA, comandada por Carlos Constantini, esses dados mostram que o continuado aquecimento das vendas de varejo compensaram o efeito da queda na produção industrial.
Tendo em conta que o cenário continua positivo no mercado doméstico neste fim de ano, inclusive pela influência do Natal, o quarto trimestre deve novamente mostrar forte melhora dos resultados corporativos.
De acordo com o analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, as empresas ligadas ao consumo interno "devem continuar a surfar no crescimento do Brasil". Já no caso das exportadoras há que se fazer uma distinção sobre quais os mercados em que elas atuam. "Quem exporta para a China está rindo à toa, mas nos de EUA e Europa é preciso ver se há confirmação de recuperação", afirma.
O excelente resultado apresentado pela Vale contribuiu para a alta tão expressiva no lucro consolidado das empresas, de quase 50%. A mineradora viu seu ganho líquido disparar 253% na comparação anual, para um recorde de R$ 10,5 bilhões entre julho e setembro deste ano, por causa do reajuste do preço do minério de ferro e do aumento das vendas.
Já a Petrobras, outra empresa com peso para distorcer a amostra, registrou alta abaixo da média do mercado, de 7,9% sobre o terceiro trimestre do ano passado, com ganho de R$ 8,6 bilhões.
Mas, mesmo excluindo Vale e Petrobras da amostra, verifica-se crescimento de 22% no lucro líquido consolidado das 223 companhias abertas, na soma total de R$ 20 bilhões.
Uma ressalva que é preciso fazer ao se analisar os dados consolidados do terceiro trimestre é que eles escondem alguns resultados operacionais fracos, como no caso das empresas de siderurgia. "A concorrência com o aço importado prejudicou os resultados do setor", destacou Luciana Leocádio, analista-chefe da Ativa Corretora.
Na opinião de Galdi, o cenário para essas empresas no quarto trimestre é "lastimável". O dólar segue baixo e continua comprometendo tanto as exportações como favorecendo a importação de aço. "Fora isso, a previsão de aumento de 10% nos preços, acabou virando desconto em setembro", disse. A valor menor por tonelada, segundo ele, impactou parcialmente os números do terceiro trimestre, mas terá efeito pleno nos últimos três meses do ano.
A Usiminas, por exemplo, viu as vendas domésticas, que correspondem a 80% do total, caírem 14% no terceiro trimestre, para 1,2 milhão de toneladas, devido à entrada do aço estrangeiro no país. "Estamos dando descontos aos produtos por causa da grande oferta no mercado", afirmou o presidente da companhia, Wilson Brumer, ao comentar o balanço.
Segundo ele, estão sobrando 600 milhões de toneladas de aço no mercado. Nos nove primeiros meses de 2010, entrou no Brasil o dobro do contabilizado em todo o ano passado. Considerando o problema no mercado interno, o aumento projetado para as vendas ao exterior e o câmbio desfavorável, a empresa já espera uma redução de margem nos últimos meses do ano.
Apesar da queda das vendas no Brasil, o lucro líquido da Usiminas cresceu 14% de julho a setembro, na comparação com igual período de 2009, por conta dos ganhos cambiais sobre a despesa financeira, compensando o menor volume de vendas verificado no trimestre.
O efeito contábil do dólar mais barato sobre as dívidas não foi benéfico apenas para a Usiminas. O resultado financeiro líquido das 225 companhias abertas do levantamento foi negativo em R$ 2,4 bilhões no terceiro trimestre, quando o dólar caiu 6,2%, ante uma despesa de R$ 7,7 bilhões no segundo trimestre deste ano, quando a cotação da moeda americana ficou estável.
No terceiro trimestre do ano passado, o dólar também havia beneficiado o resultado financeiro das empresas, depois de ter recuado 8,9% naquela época.
Exemplo do impacto favorável do câmbio foi o balanço da Fibria, maior empresa do mundo em celulose de eucalipto e que resultou da compra da Aracruz pela Votorantim Celulose e Papel (VCP).
O lucro da companhia somou R$ 303 milhões, o equivalente a crescimento de 133% frente ao verificado no segundo trimestre deste ano, apesar da queda de 18% na comparação o ganho apurado um ano antes. A melhora expressiva em relação a junho deve-se, sobretudo, ao resultado financeiro líquido, que ficou positivo em R$ 249 milhões. A empresa tem grande dívida em dólar.
Quanto aos próximos trimestres, as próprias empresas se mostram otimistas. Entre as construtoras, que têm apresentado grande crescimento de resultados por causa do aquecimento do setor, a PDG Realty pretende crescer cerca de 35% em 2011, segundo Zeca Grabowsky, presidente da companhia.
No grupo das empresas que estão revisando as projeções de crescimento e de resultado para cima, o Itaú BBA cita também a administradora de shopping centers Iguatemi, a rede de farmácias Drogasil, as varejistas Guararapes e Lojas Hering e a mineradora Vale.
Infraestrutura é outro segmento que merece atenção por conta da necessidade de investimentos no país. A América Latina Logística (ALL), por exemplo, projeta investimentos de R$ 700 milhões para o próximo ano. O montante vem em linha com o plano da companhia, que nesse ritmo planeja crescer numa média de 10% nos próximos cinco anos.
"Com a desaceleração da economia esperada para 2011, os resultados do próximo ano devem ter crescimento um pouco menor, embora ainda muito expressivo", acredita Luciana, da Ativa.
Levantamento feito pelo Valor Data com dados da Economática referentes a 225 empresas não financeiras mostra que, somadas, elas tiveram lucro líquido de R$ 39,2 bilhões de julho a setembro. Esse volume supera em 47% o lucro obtido pelas companhias no mesmo período de 2009, de R$ 26,7 bilhões, e é 19% maior que o observado no terceiro trimestre de 2008, antes do estouro da crise, no total de R$ 32,9 bilhões, o melhor resultado registrado até então.
Os volumes recordes se repetem em outras linhas relevantes dos balanços. A receita líquida somada das 225 companhias atingiu R$ 273,6 bilhões no último trimestre, com alta de 22% em um ano e de 11% na comparação com 2008. O lucro operacional (antes do resultado financeiro e de impostos) aumentou 45% ante 2009, atingindo R$ 58,3 bilhões. Em relação ao último trimestre antes dos efeitos da turbulência internacional, o crescimento foi de 9%.
Os dados do levantamento não foram corrigidos pela inflação nem ajustados pelas mudanças contábeis do período.
Segundo os especialistas, o cenário macroeconômico favorável do país - com aumento da renda, do emprego e do crédito - explica o bom momento para as companhias brasileiras.
Relatório do Itaú BBA divulgado na noite de ontem diz que, entre as 104 companhias acompanhadas pelos analistas da equipe, 89% entregaram resultados em linha ou melhores que o esperado. Esse índice sobe a 91% quando se observa apenas o grupo de 85 empresas voltadas para a economia doméstica. De acordo com a equipe de estrategistas do Itaú BBA, comandada por Carlos Constantini, esses dados mostram que o continuado aquecimento das vendas de varejo compensaram o efeito da queda na produção industrial.
Tendo em conta que o cenário continua positivo no mercado doméstico neste fim de ano, inclusive pela influência do Natal, o quarto trimestre deve novamente mostrar forte melhora dos resultados corporativos.
De acordo com o analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, as empresas ligadas ao consumo interno "devem continuar a surfar no crescimento do Brasil". Já no caso das exportadoras há que se fazer uma distinção sobre quais os mercados em que elas atuam. "Quem exporta para a China está rindo à toa, mas nos de EUA e Europa é preciso ver se há confirmação de recuperação", afirma.
O excelente resultado apresentado pela Vale contribuiu para a alta tão expressiva no lucro consolidado das empresas, de quase 50%. A mineradora viu seu ganho líquido disparar 253% na comparação anual, para um recorde de R$ 10,5 bilhões entre julho e setembro deste ano, por causa do reajuste do preço do minério de ferro e do aumento das vendas.
Já a Petrobras, outra empresa com peso para distorcer a amostra, registrou alta abaixo da média do mercado, de 7,9% sobre o terceiro trimestre do ano passado, com ganho de R$ 8,6 bilhões.
Mas, mesmo excluindo Vale e Petrobras da amostra, verifica-se crescimento de 22% no lucro líquido consolidado das 223 companhias abertas, na soma total de R$ 20 bilhões.
Uma ressalva que é preciso fazer ao se analisar os dados consolidados do terceiro trimestre é que eles escondem alguns resultados operacionais fracos, como no caso das empresas de siderurgia. "A concorrência com o aço importado prejudicou os resultados do setor", destacou Luciana Leocádio, analista-chefe da Ativa Corretora.
Na opinião de Galdi, o cenário para essas empresas no quarto trimestre é "lastimável". O dólar segue baixo e continua comprometendo tanto as exportações como favorecendo a importação de aço. "Fora isso, a previsão de aumento de 10% nos preços, acabou virando desconto em setembro", disse. A valor menor por tonelada, segundo ele, impactou parcialmente os números do terceiro trimestre, mas terá efeito pleno nos últimos três meses do ano.
A Usiminas, por exemplo, viu as vendas domésticas, que correspondem a 80% do total, caírem 14% no terceiro trimestre, para 1,2 milhão de toneladas, devido à entrada do aço estrangeiro no país. "Estamos dando descontos aos produtos por causa da grande oferta no mercado", afirmou o presidente da companhia, Wilson Brumer, ao comentar o balanço.
Segundo ele, estão sobrando 600 milhões de toneladas de aço no mercado. Nos nove primeiros meses de 2010, entrou no Brasil o dobro do contabilizado em todo o ano passado. Considerando o problema no mercado interno, o aumento projetado para as vendas ao exterior e o câmbio desfavorável, a empresa já espera uma redução de margem nos últimos meses do ano.
Apesar da queda das vendas no Brasil, o lucro líquido da Usiminas cresceu 14% de julho a setembro, na comparação com igual período de 2009, por conta dos ganhos cambiais sobre a despesa financeira, compensando o menor volume de vendas verificado no trimestre.
O efeito contábil do dólar mais barato sobre as dívidas não foi benéfico apenas para a Usiminas. O resultado financeiro líquido das 225 companhias abertas do levantamento foi negativo em R$ 2,4 bilhões no terceiro trimestre, quando o dólar caiu 6,2%, ante uma despesa de R$ 7,7 bilhões no segundo trimestre deste ano, quando a cotação da moeda americana ficou estável.
No terceiro trimestre do ano passado, o dólar também havia beneficiado o resultado financeiro das empresas, depois de ter recuado 8,9% naquela época.
Exemplo do impacto favorável do câmbio foi o balanço da Fibria, maior empresa do mundo em celulose de eucalipto e que resultou da compra da Aracruz pela Votorantim Celulose e Papel (VCP).
O lucro da companhia somou R$ 303 milhões, o equivalente a crescimento de 133% frente ao verificado no segundo trimestre deste ano, apesar da queda de 18% na comparação o ganho apurado um ano antes. A melhora expressiva em relação a junho deve-se, sobretudo, ao resultado financeiro líquido, que ficou positivo em R$ 249 milhões. A empresa tem grande dívida em dólar.
Quanto aos próximos trimestres, as próprias empresas se mostram otimistas. Entre as construtoras, que têm apresentado grande crescimento de resultados por causa do aquecimento do setor, a PDG Realty pretende crescer cerca de 35% em 2011, segundo Zeca Grabowsky, presidente da companhia.
No grupo das empresas que estão revisando as projeções de crescimento e de resultado para cima, o Itaú BBA cita também a administradora de shopping centers Iguatemi, a rede de farmácias Drogasil, as varejistas Guararapes e Lojas Hering e a mineradora Vale.
Infraestrutura é outro segmento que merece atenção por conta da necessidade de investimentos no país. A América Latina Logística (ALL), por exemplo, projeta investimentos de R$ 700 milhões para o próximo ano. O montante vem em linha com o plano da companhia, que nesse ritmo planeja crescer numa média de 10% nos próximos cinco anos.
"Com a desaceleração da economia esperada para 2011, os resultados do próximo ano devem ter crescimento um pouco menor, embora ainda muito expressivo", acredita Luciana, da Ativa.
Valor Econômico
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