Mercado de imagens de satélite cresce 20% ao ano no Brasil por conta do controle ambiental.
Por Sergio Adeodato Para o Valor, de São Paulo
29/10/2010
Por Sergio Adeodato Para o Valor, de São Paulo
29/10/2010
Além de tratores e maquinário em geral, fertilizantes, sementes de pastagens, suplementos, vacinas e ração animal, o fazendeiro José Orivaldo, criador de gado no município de Rosário Oeste, Mato Grosso, incluiu mais um item essencial na lista de insumos: as imagens de satélite. Investindo apenas R$ 544, o produtor adquiriu recentemente cenas de sua propriedade, a Fazenda Zulmira, captadas pela constelação de satélites alemã RapidEye. Não é um simples capricho, como ter na parede um retrato fiel do imóvel, "clicado" desde o espaço sideral. A compra teve motivo ambiental: mapear a reserva legal e as áreas nativas na beira dos rios e topos de morro, para fins de licenciamento.
"O que antes era privilégio de poucos tornou-se acessível e hoje é importante ferramenta de negócio", avalia Iara Musse, diretora da Santiago&Cintra Consultoria, empresa que comercializa com exclusividade os serviços do RapidEye na América Latina. Lançada em órbita a 630 metros de altura em agosto de 2008, a constelação é a única do mundo que reúne cinco satélites idênticos, permitindo a visita diária a qualquer ponto do planeta, capaz de gerar imagens com resolução de 5 metros. Um ano e meio após entrar em operação, o sistema fez a varredura de mais de 100 milhões de quilômetros quadrados apenas no Brasil. "Todo o território brasileiro está rastreado para a produção de imagens destinadas principalmente, agropecuária e aplicações ambientais", revela Iara.
Imagens nesse nível de resolução permitem identificar visualmente a evolução de safras agrícolas, informação-chave para investidores e seguradoras. De olho nesse mercado, a empresa alemã está investindo R$ 6 milhões por ano, durante três anos, para montar um ativo de imagens da produção agrícola brasileira, prontas para comercialização. Mais R$ 1,5 milhão foi aplicado em software para processamento das imagens e sua disponibilização na internet. "Em 2010, o acervo movimentou vendas superiores a R$ 12 milhões no país, com previsão de crescer 50% no próximo ano", estima Iara. Diante do aumento da geração e da maior demanda, o preço médio das imagens de satélite caiu de R$ 15 para R$ 5 o quilômetro quadrado, nos últimos dezoito meses.
No aspecto ambiental, a visão do território em detalhes contribui para o controle da cobertura florestal e para a gestão de riscos, como desmoronamento de encostas. Com recursos do banco alemão KFW, o governo de Minas Gerais planeja desembolsar R$ 7 milhões para cobrir 1,8 milhão de quilômetros quadrados do Estado, a cada seis meses, com imagens do RapidEye. Informações sobre áreas de conservação e expansão urbana, por exemplo, irão alimentar um banco de dados que integra outros setores, como segurança, habitação e saúde. Em São Paulo, o sistema é utilizado para monitorar reservatórios de água.
No rastro da demanda ambiental, o setor de imagens de satélite movimenta US$ 17 bilhões por ano no mundo, segundo estudo da consultoria Daratech. No Brasil, de acordo com levantamento da Intare Tecnologia e Informação, os negócios deverão girar em torno de R$ 1 bilhão em 2011, ao contar imagens, fotos aéreas e serviços. No país o crescimento é de 20% ao ano, o dobro do global. A perspectiva é de aumento com os investimentos para a Copa de 2014 e Olimpíada de 2016.
"Com o fim da Guerra Fria, satélites antes destinados a fins militares buscaram novo mercado nas aplicações civis", analisa José Carlos Epiphanio, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O avanço tecnológico gera imagens com resolução cada vez mais altas, de um metro ou até menos, e acirra a disputa entre as empresas do setor. "A estratégia é o investimento em serviços", informa Epiphanio. É grande a diversidade de usos - da detecção de queimadas à logística de transportes, construção de oleodutos e varredura do espaço urbano para descobrir loteamentos clandestinos e calcular IPTU.
No Brasil, conta Epiphanio, o lançamento do CBERS II (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), em 2003, foi um marco histórico. "Decidimos disponibilizar o novo satélite gratuitamente, o que contribuiu para disseminar o seu uso e criar novos mercados", conta Epiphanio. Até o momento foram colocadas em órbita três versões do CBERS - cada uma com vida útil de três a quatro anos. O último satélite dessa família, lançado em 2007, já não está em funcionamento. Um novo mais eficiente está sendo construído para operar em 2011, ao custo de R$ 200 milhões, em parceria com os chineses. "É preciso assegurar a continuidade dos projetos atrelados ao satélite brasileiro, que tem 35 mil usuários ativos, pertencentes a 2 mil instituições", diz Epiphanio.
O pesquisar lembra que "o Google contribuiu para popularizar e desmistificar as imagens de satélite". Entre agosto de 2009 e agosto de 2010, de acordo com a consultoria Comscore, o acesso a mapas cresceu 30% na internet. Em paralelo, o uso de GPS (Global Positioning System) tornou-se rotina em automóveis. Hoje a tecnologia é usada tanto para localizar árvores selecionadas na floresta para exploração sustentável de madeira como para achar enxames de abelhas para produção de mel.
A busca por novos nichos esquenta a competição no mercado. "A tomada de decisões está cada vez mais centrada na análise dessas imagens", ressalta Lúcio Muratori, diretor da Imagem Soluções de Inteligência Geográfica. A empresa representa a americana Geoeye, que faturou US$ 270 milhões em 2009 no mundo e amplia operações no Brasil com imagens de alta resolução. Mais de 4 mil municípios brasileiros foram rastreados. "As prefeituras são importantes mercados", avalia Muratori. O Ministério das Cidades, por exemplo, transfere recursos financeiros para uso de mapas no planejamento urbano. E há verbas para construção de escolas com base em imagens que apontam bairros prioritários.
Muratori diz que atualmente as atenções se voltam para as companhias seguradoras, que já utilizam geoprocessamento para planejar serviços de socorro a automóveis e residências. "Estamos em negociação para uso das imagens também na avaliação de risco", revela o executivo. No setor de segurança pública, a empresa participa de um projeto de R$ 5 milhões do governo de Santa Catarina para fazer a integração das polícias civil e militar, bombeiros e sistema de ambulância, com base em mapas de criminalidade e zonas críticas.
"O que antes era privilégio de poucos tornou-se acessível e hoje é importante ferramenta de negócio", avalia Iara Musse, diretora da Santiago&Cintra Consultoria, empresa que comercializa com exclusividade os serviços do RapidEye na América Latina. Lançada em órbita a 630 metros de altura em agosto de 2008, a constelação é a única do mundo que reúne cinco satélites idênticos, permitindo a visita diária a qualquer ponto do planeta, capaz de gerar imagens com resolução de 5 metros. Um ano e meio após entrar em operação, o sistema fez a varredura de mais de 100 milhões de quilômetros quadrados apenas no Brasil. "Todo o território brasileiro está rastreado para a produção de imagens destinadas principalmente, agropecuária e aplicações ambientais", revela Iara.
Imagens nesse nível de resolução permitem identificar visualmente a evolução de safras agrícolas, informação-chave para investidores e seguradoras. De olho nesse mercado, a empresa alemã está investindo R$ 6 milhões por ano, durante três anos, para montar um ativo de imagens da produção agrícola brasileira, prontas para comercialização. Mais R$ 1,5 milhão foi aplicado em software para processamento das imagens e sua disponibilização na internet. "Em 2010, o acervo movimentou vendas superiores a R$ 12 milhões no país, com previsão de crescer 50% no próximo ano", estima Iara. Diante do aumento da geração e da maior demanda, o preço médio das imagens de satélite caiu de R$ 15 para R$ 5 o quilômetro quadrado, nos últimos dezoito meses.
No aspecto ambiental, a visão do território em detalhes contribui para o controle da cobertura florestal e para a gestão de riscos, como desmoronamento de encostas. Com recursos do banco alemão KFW, o governo de Minas Gerais planeja desembolsar R$ 7 milhões para cobrir 1,8 milhão de quilômetros quadrados do Estado, a cada seis meses, com imagens do RapidEye. Informações sobre áreas de conservação e expansão urbana, por exemplo, irão alimentar um banco de dados que integra outros setores, como segurança, habitação e saúde. Em São Paulo, o sistema é utilizado para monitorar reservatórios de água.
No rastro da demanda ambiental, o setor de imagens de satélite movimenta US$ 17 bilhões por ano no mundo, segundo estudo da consultoria Daratech. No Brasil, de acordo com levantamento da Intare Tecnologia e Informação, os negócios deverão girar em torno de R$ 1 bilhão em 2011, ao contar imagens, fotos aéreas e serviços. No país o crescimento é de 20% ao ano, o dobro do global. A perspectiva é de aumento com os investimentos para a Copa de 2014 e Olimpíada de 2016.
"Com o fim da Guerra Fria, satélites antes destinados a fins militares buscaram novo mercado nas aplicações civis", analisa José Carlos Epiphanio, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O avanço tecnológico gera imagens com resolução cada vez mais altas, de um metro ou até menos, e acirra a disputa entre as empresas do setor. "A estratégia é o investimento em serviços", informa Epiphanio. É grande a diversidade de usos - da detecção de queimadas à logística de transportes, construção de oleodutos e varredura do espaço urbano para descobrir loteamentos clandestinos e calcular IPTU.
No Brasil, conta Epiphanio, o lançamento do CBERS II (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), em 2003, foi um marco histórico. "Decidimos disponibilizar o novo satélite gratuitamente, o que contribuiu para disseminar o seu uso e criar novos mercados", conta Epiphanio. Até o momento foram colocadas em órbita três versões do CBERS - cada uma com vida útil de três a quatro anos. O último satélite dessa família, lançado em 2007, já não está em funcionamento. Um novo mais eficiente está sendo construído para operar em 2011, ao custo de R$ 200 milhões, em parceria com os chineses. "É preciso assegurar a continuidade dos projetos atrelados ao satélite brasileiro, que tem 35 mil usuários ativos, pertencentes a 2 mil instituições", diz Epiphanio.
O pesquisar lembra que "o Google contribuiu para popularizar e desmistificar as imagens de satélite". Entre agosto de 2009 e agosto de 2010, de acordo com a consultoria Comscore, o acesso a mapas cresceu 30% na internet. Em paralelo, o uso de GPS (Global Positioning System) tornou-se rotina em automóveis. Hoje a tecnologia é usada tanto para localizar árvores selecionadas na floresta para exploração sustentável de madeira como para achar enxames de abelhas para produção de mel.
A busca por novos nichos esquenta a competição no mercado. "A tomada de decisões está cada vez mais centrada na análise dessas imagens", ressalta Lúcio Muratori, diretor da Imagem Soluções de Inteligência Geográfica. A empresa representa a americana Geoeye, que faturou US$ 270 milhões em 2009 no mundo e amplia operações no Brasil com imagens de alta resolução. Mais de 4 mil municípios brasileiros foram rastreados. "As prefeituras são importantes mercados", avalia Muratori. O Ministério das Cidades, por exemplo, transfere recursos financeiros para uso de mapas no planejamento urbano. E há verbas para construção de escolas com base em imagens que apontam bairros prioritários.
Muratori diz que atualmente as atenções se voltam para as companhias seguradoras, que já utilizam geoprocessamento para planejar serviços de socorro a automóveis e residências. "Estamos em negociação para uso das imagens também na avaliação de risco", revela o executivo. No setor de segurança pública, a empresa participa de um projeto de R$ 5 milhões do governo de Santa Catarina para fazer a integração das polícias civil e militar, bombeiros e sistema de ambulância, com base em mapas de criminalidade e zonas críticas.
Valor Econômico
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