Política monetária: Mas se as premissas não se confirmarem, novo aperto pode ser necessário
Claudia Safatle De Brasília
29/10/2010
Claudia Safatle De Brasília
29/10/2010
O governo conta com dois fatos importantes para ajudar o Banco Central a manter a inflação na meta de 4,5% em 2011: o Tesouro Nacional deve reduzir à metade - dos cerca de R$ 100 bilhões deste ano para no máximo R$ 50 bilhões no próximo exercício - o aporte de recursos para o BNDES reforçar seus financiamentos; e o próximo presidente voltará a cumprir a meta de superávit primário consolidado do setor público de 3,3% do PIB, sem arranjos contábeis. O BNDES reivindica mais R$ 60 bilhões para 2011, mas o Ministério da Fazenda não parece disposto a atender integralmente essa demanda.
Com menos gasto público e um ritmo bem mais moderado de expansão do crédito, diminuiria a necessidade de aumento dos juros básicos para fazer a inflação - que neste ano ficará acima da meta e usará de um pedaço da margem de tolerância de 2 pontos percentuais - convergir para 4,5% no ano que vem. Até porque somente por volta de abril de 2011 é que o aumento de 200 pontos base na taxa Selic este ano estará fazendo efeito pleno.
Com menos gasto público e um ritmo bem mais moderado de expansão do crédito, diminuiria a necessidade de aumento dos juros básicos para fazer a inflação - que neste ano ficará acima da meta e usará de um pedaço da margem de tolerância de 2 pontos percentuais - convergir para 4,5% no ano que vem. Até porque somente por volta de abril de 2011 é que o aumento de 200 pontos base na taxa Selic este ano estará fazendo efeito pleno.
A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, avalia que apesar do aumento da inflação corrente o IPCA vai convergir para a meta em 2011, por que o que está pressionando o índice são os preços dos alimentos que tendem a devolver os aumentos mais à frente. Trata-se, portanto, de um choque de oferta decorrente de problemas climáticos que, subtraído do cálculo da inflação de setembro, reduz o índice de 0,5% para 0,31%. Assim, sem a pressão dos alimentos, a inflação está abaixo da meta.
A situação, agora, é diferente de 2004 e 2005. Em setembro de 2004, já vislumbrando que o choque de oferta de commodities agrícolas e metálicas teria efeitos secundários sobre a economia e elevaria a inflação em um ponto percentual, o Copom comunicou que acomodaria dois terços (2/3) e combateria um terço (1/3) daquele choque que, por conter matérias primas, disseminaria pressões inflacionárias para a cadeia industrial.
Hoje o Copom não detecta a propagação de efeitos secundários nos aumentos dos preços dos alimentos e, pelo regime de metas de inflação, os efeitos primários devem ser absorvidos pela margem de tolerância. Se, por ventura, os preços dos alimentos começarem a contaminar o resto da economia, o Copom precisará agir.
Na visão da autoridade monetária, portanto, a inflação corrente medida pelo IPCA está convergindo para o centro da meta e o aumento dos juros de 8,75% para 10,75% a partir de abril estará produzindo efeitos plenos em meados do primeiro semestre do ano que vem.
Pode-se questionar, contudo, que um aumento de 200 pontos da Selic não será suficiente para executar a tarefa de levar a inflação para 4,5%. O BC aposta na elevação da potência da política monetária, conforme constatação já anunciada em notas anexas do relatório de inflação e nas atas do comitê. Mesmo com o forte crescimento do crédito direcionado nos últimos dois anos, sobretudo do BNDES, hoje seria possível combater a inflação com menos juros do que no passado.
Outro argumento é que, depois da crise global de 2008, a oferta de crédito do segmento livre do mercado caiu mais do que aumentou a oferta do crédito direcionado. E, depois de colocar mais de R$ 210 bilhões no BNDES de 2008 para cá, o Tesouro Nacional vai dar uma regrada nos empréstimos para o banco de desenvolvimento. A tendência do governo é de autorizar um repasse da União para o BNDES de no máximo R$ 50 bilhões, praticamente metade do dinheiro concedido este ano a juros subsidiados, o que restringirá a capacidade do banco de conceder financiamentos ao setor privado e empresas públicas.
Mapeado o padrão de inícios de governos de 1994 para cá, os economistas do governo constatam que tem sido quase que religioso, tanto no governo federal quanto estadual e municipal, o comportamento de austeridade no gasto público nos dois primeiros anos e o relaxamento da política fiscal nos dois anos finais da administração. A expectativa é que o presidente que assumir o Palácio do Planalto em janeiro manterá esse mesmo padrão.
Se, no entanto, o governo der mais recursos ao BNDES; se o novo presidente da República aumentar o gasto público logo no primeiro ano de mandato; e se a economia mundial iniciar um sólido processo de recuperação, todo o cenário traçado na ata do Copom muda.
A situação, agora, é diferente de 2004 e 2005. Em setembro de 2004, já vislumbrando que o choque de oferta de commodities agrícolas e metálicas teria efeitos secundários sobre a economia e elevaria a inflação em um ponto percentual, o Copom comunicou que acomodaria dois terços (2/3) e combateria um terço (1/3) daquele choque que, por conter matérias primas, disseminaria pressões inflacionárias para a cadeia industrial.
Hoje o Copom não detecta a propagação de efeitos secundários nos aumentos dos preços dos alimentos e, pelo regime de metas de inflação, os efeitos primários devem ser absorvidos pela margem de tolerância. Se, por ventura, os preços dos alimentos começarem a contaminar o resto da economia, o Copom precisará agir.
Na visão da autoridade monetária, portanto, a inflação corrente medida pelo IPCA está convergindo para o centro da meta e o aumento dos juros de 8,75% para 10,75% a partir de abril estará produzindo efeitos plenos em meados do primeiro semestre do ano que vem.
Pode-se questionar, contudo, que um aumento de 200 pontos da Selic não será suficiente para executar a tarefa de levar a inflação para 4,5%. O BC aposta na elevação da potência da política monetária, conforme constatação já anunciada em notas anexas do relatório de inflação e nas atas do comitê. Mesmo com o forte crescimento do crédito direcionado nos últimos dois anos, sobretudo do BNDES, hoje seria possível combater a inflação com menos juros do que no passado.
Outro argumento é que, depois da crise global de 2008, a oferta de crédito do segmento livre do mercado caiu mais do que aumentou a oferta do crédito direcionado. E, depois de colocar mais de R$ 210 bilhões no BNDES de 2008 para cá, o Tesouro Nacional vai dar uma regrada nos empréstimos para o banco de desenvolvimento. A tendência do governo é de autorizar um repasse da União para o BNDES de no máximo R$ 50 bilhões, praticamente metade do dinheiro concedido este ano a juros subsidiados, o que restringirá a capacidade do banco de conceder financiamentos ao setor privado e empresas públicas.
Mapeado o padrão de inícios de governos de 1994 para cá, os economistas do governo constatam que tem sido quase que religioso, tanto no governo federal quanto estadual e municipal, o comportamento de austeridade no gasto público nos dois primeiros anos e o relaxamento da política fiscal nos dois anos finais da administração. A expectativa é que o presidente que assumir o Palácio do Planalto em janeiro manterá esse mesmo padrão.
Se, no entanto, o governo der mais recursos ao BNDES; se o novo presidente da República aumentar o gasto público logo no primeiro ano de mandato; e se a economia mundial iniciar um sólido processo de recuperação, todo o cenário traçado na ata do Copom muda.
Valor Econômico
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