Câmbio: Sem medida, dólar estaria abaixo de R$ 1,60; investidor tende a migrar para o exterior
Cristiane Perini Lucchesi De São Paulo
20/10/2010
Cristiane Perini Lucchesi De São Paulo
20/10/2010
O novo aumento de alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para investidores estrangeiros assustou investidores, que passaram a acreditar que o governo está mesmo disposto a impedir uma valorização maior do real e pode vir a anunciar outras medidas, se necessário, aumentando a volatilidade do mercado. Ao impactar as transações no mercado futuro, a nova medida ajuda ainda a limitar a alavancagem de fundos de hedge. Mas, segundo analistas ouvidos pelo Valor, a tendência de fortalecimento do real permanece.
Há um consenso, no entanto, que sem a atuação do Ministério da Fazenda o dólar estaria abaixo dos R$ 1,60. Ontem, fechou em alta de 1,26%, a R$ 1,687, em um dia no qual a moeda americana se valorizou no mundo todo por causa do aumento de juros promovido na China.
A elevação do IOF impactou fortemente o mercado de juros de longo prazo, pois os fundos estrangeiros, os afetados com o imposto maior, são os maiores compradores de papéis do Tesouro de prazo mais longo e também são fortemente atuantes no mercado futuro de juros. Os contratos para vencimento em janeiro de 2017 projetaram taxas de 11,61% ao ano para os Depósitos Interfinanceiros, alta de 0,26 ponto percentual no dia.
Há um consenso, no entanto, que sem a atuação do Ministério da Fazenda o dólar estaria abaixo dos R$ 1,60. Ontem, fechou em alta de 1,26%, a R$ 1,687, em um dia no qual a moeda americana se valorizou no mundo todo por causa do aumento de juros promovido na China.
A elevação do IOF impactou fortemente o mercado de juros de longo prazo, pois os fundos estrangeiros, os afetados com o imposto maior, são os maiores compradores de papéis do Tesouro de prazo mais longo e também são fortemente atuantes no mercado futuro de juros. Os contratos para vencimento em janeiro de 2017 projetaram taxas de 11,61% ao ano para os Depósitos Interfinanceiros, alta de 0,26 ponto percentual no dia.
"Com os termos de troca favoráveis, uma política fiscal frouxa e um contínuo interesse dos investidores no Brasil, acreditamos que a moeda vai continuar forte ainda por algum tempo", diz John Welch, estrategista-chefe para mercados emergentes do Macquarie Capital. Ele lembra que o Fed, o banco central americano, vai injetar mais dólares na economia com a compra de títulos públicos, o que deve ser anunciado em sua reunião de novembro.
Para o estrategista do BNP Paribas, Diego Donadio, o mercado ainda está "digerindo" a nova rodada de aumento do IOF "e nossa interpretação é de que as incertezas regulatórias estão se ampliando, levando a spreads maiores e maior volatilidade entre os preços internos e externos para comprar qualquer tipo de ativo no Brasil". Ele sugere o desmonte de posições compradas nos juros prefixados longos, dada a forte presença dos investidores estrangeiros nesse mercado.
Agora, além de pagar 6% no câmbio para investimentos em títulos de renda fixa, e não mais 4%, os estrangeiros também vão pagar 6%, e não mais 0,38%, no câmbio fechado para depósitos de garantias nos mercados futuros da BM&FBovespa. Só ficam de fora da taxação os depósitos de garantias feitos por meio de fiança bancária.
A fiança bancária custa de 0,5% a 2% do valor garantido ao ano, dependendo do risco de crédito do cliente (fundo), segundo especialista de tesouraria de um banco. Assim, acaba sendo mais barata que o IOF para o investidor do fundo de hedge, de curto prazo. Por isso, a demanda por fiança para depósito de garantias na BM&FBovespa tende a crescer e esse tipo de crédito pode ficar mais caro.
Gestor de um grande fundo de hedge nacional explica que a maioria dos fundos quantitativos - operados por computadores com base em parâmetros matemáticos estabelecidos pelo gestor - externos usam fiança bancária e por isso não serão afetados, a não ser se acontecer um aumento de custo dessa garantia.
Segundo a Link Investimentos, os investidores estrangeiros (no segmento de derivativos) representavam em setembro 21,8% do total na BM&FBovespa, sendo que 5,7% eram esses fundos quantitativos (de alta frequência). Dados da bolsa mostram que as cartas de fiança representavam 3% dos R$ 85 bilhões em garantias depositadas, em relação aos 88% em títulos públicos. Os estrangeiros tinham antes do IOF maior cerca de R$ 20 bilhões em garantias depositadas.
Além do aumento de custo para a fiança bancária, a medida tende a promover uma migração do mercado de derivativos da bolsa, que exige garantias, para o mercado de balcão, no qual essas garantias não são obrigatórias (a não ser como demanda específica de cada uma das partes do contrato). Os fundos estrangeiros que atuavam diretamente na bolsa passarão a fechar mais contratos com os bancos, no mercado de balcão. Os bancos, por sua vez, fazem o hedge de sua posição na BM&FBovespa, sem IOF, porque não são considerados investidores estrangeiros.
Para fechar um contrato de derivativo com um fundo estrangeiro, no entanto, o banco terá de abrir um limite de crédito para esse cliente. Vai pedir também garantias a eles - por exemplo, um Certificado de Depósito ou um título do Tesouro americano. Essa transação com os fundos têm limites, pois os bancos usam o seu balanço. Isso acaba restringindo a disponibilidade de recursos para alavancagem dos fundos. Há fundos estrangeiros que pegam dinheiro emprestado dos bancos para investir na BM&FBovespa e agora terão menos crédito disponível. Parte do mercado de derivativos no Brasil tende a migrar para o exterior e os preços dos ativos já mostravam isso ontem.
A mudança no IOF, no entanto, não afeta as posições vendidas no mercado à vista dos bancos brasileiros nem as compradas no mercado futuro. Os bancos tomam linhas em dólar pagando de zero a 1% ao ano e investem em cupom cambial (juros em dólar no mercado interno), recebendo mais de 2%. Ganham a diferença.
(Colaborou Eduardo Campos)
Para o estrategista do BNP Paribas, Diego Donadio, o mercado ainda está "digerindo" a nova rodada de aumento do IOF "e nossa interpretação é de que as incertezas regulatórias estão se ampliando, levando a spreads maiores e maior volatilidade entre os preços internos e externos para comprar qualquer tipo de ativo no Brasil". Ele sugere o desmonte de posições compradas nos juros prefixados longos, dada a forte presença dos investidores estrangeiros nesse mercado.
Agora, além de pagar 6% no câmbio para investimentos em títulos de renda fixa, e não mais 4%, os estrangeiros também vão pagar 6%, e não mais 0,38%, no câmbio fechado para depósitos de garantias nos mercados futuros da BM&FBovespa. Só ficam de fora da taxação os depósitos de garantias feitos por meio de fiança bancária.
A fiança bancária custa de 0,5% a 2% do valor garantido ao ano, dependendo do risco de crédito do cliente (fundo), segundo especialista de tesouraria de um banco. Assim, acaba sendo mais barata que o IOF para o investidor do fundo de hedge, de curto prazo. Por isso, a demanda por fiança para depósito de garantias na BM&FBovespa tende a crescer e esse tipo de crédito pode ficar mais caro.
Gestor de um grande fundo de hedge nacional explica que a maioria dos fundos quantitativos - operados por computadores com base em parâmetros matemáticos estabelecidos pelo gestor - externos usam fiança bancária e por isso não serão afetados, a não ser se acontecer um aumento de custo dessa garantia.
Segundo a Link Investimentos, os investidores estrangeiros (no segmento de derivativos) representavam em setembro 21,8% do total na BM&FBovespa, sendo que 5,7% eram esses fundos quantitativos (de alta frequência). Dados da bolsa mostram que as cartas de fiança representavam 3% dos R$ 85 bilhões em garantias depositadas, em relação aos 88% em títulos públicos. Os estrangeiros tinham antes do IOF maior cerca de R$ 20 bilhões em garantias depositadas.
Além do aumento de custo para a fiança bancária, a medida tende a promover uma migração do mercado de derivativos da bolsa, que exige garantias, para o mercado de balcão, no qual essas garantias não são obrigatórias (a não ser como demanda específica de cada uma das partes do contrato). Os fundos estrangeiros que atuavam diretamente na bolsa passarão a fechar mais contratos com os bancos, no mercado de balcão. Os bancos, por sua vez, fazem o hedge de sua posição na BM&FBovespa, sem IOF, porque não são considerados investidores estrangeiros.
Para fechar um contrato de derivativo com um fundo estrangeiro, no entanto, o banco terá de abrir um limite de crédito para esse cliente. Vai pedir também garantias a eles - por exemplo, um Certificado de Depósito ou um título do Tesouro americano. Essa transação com os fundos têm limites, pois os bancos usam o seu balanço. Isso acaba restringindo a disponibilidade de recursos para alavancagem dos fundos. Há fundos estrangeiros que pegam dinheiro emprestado dos bancos para investir na BM&FBovespa e agora terão menos crédito disponível. Parte do mercado de derivativos no Brasil tende a migrar para o exterior e os preços dos ativos já mostravam isso ontem.
A mudança no IOF, no entanto, não afeta as posições vendidas no mercado à vista dos bancos brasileiros nem as compradas no mercado futuro. Os bancos tomam linhas em dólar pagando de zero a 1% ao ano e investem em cupom cambial (juros em dólar no mercado interno), recebendo mais de 2%. Ganham a diferença.
(Colaborou Eduardo Campos)
Valor Econômico
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