por FinancialWeb
04/10/2010
Advogados listam indicadores chaves de desempenho. Confira
Já presenciamos uma série de escândalos corporativos e o apetite ao risco a falta de controles e a ausência da ética foram algumas das razões que contribuíram para o declínio de algumas empresas.Fala-se muito em governança corporativa, tema que embora não seja tão novo, recebe cada vez mais destaque no mundo empresarial, contribuindo desta forma com o desenvolvimento de uma maior consciência da alta gestão. Mas onde entra Compliance neste contexto?Compliance não é um ativo fixo pelo qual é possível atestar rapidamente se o bem ainda existe, se está em boas condições de uso ou se está sendo utilizado de acordo com suas características; ele está relacionado ao investimento em pessoas, processos e conscientização, além de ser um dos pilares da boa governança corporativa.Não obstante, de nada adianta investir nos pontos registrados no parágrafo anterior sem atribuir indicadores de desempenho e não monitorar as atividades de Compliance. Com a ausência de indicadores e o correto monitoramento, ficará impossível garantir se de fato a empresa está em conformidade. Nesta linha, é imprescindível que as empresas determinem KPIs (Key Performance Indicators) de Compliance e realmente possuam um programa efetivo de monitoramento. Em estudo realizado em 2006 pela PricewaterhouseCoopers, foi verificado que de 73 instituições analisadas, 41% trabalhavam com os KPIs para a área de Compliance, 38% os utilizavam para análises preventivas, 18% começaram a utilizar e desenvolver os indicadores e 3% não os havia definido.Nessa pesquisa foram listados indicadores chaves de desempenho, a saber:- Treinamento fornecido x planejado - bem como a quantidade de funcionários que realizaram o treinamento x quantidade de funcionários elegíveis na organização. Outros indicadores podem ser considerados como, por exemplo, a rotatividade de funcionários x tempo para treinar os funcionários admitidos.- Testes realizados x planejados - dependendo da estrutura de Compliance implantada na organização, a função pode contemplar a execução de testes nas áreas com objetivo de mitigar os riscos de sanções regulatórias e de reputação, garantindo a aderência à regulamentação e às políticas internas. Como exemplo de teste, é possível citar o de avaliar um percentual dos clientes que iniciaram relacionamento no mês para garantir que o procedimento "conheça o seu cliente" tenha sido devidamente executado.- Revisão de Auditoria - os trabalhos de auditoria fornecerão indicadores importantes para que Compliance avalie, acompanhe pontos em não conformidade, fragilidade nos controles internos e a velocidade na correção das falhas, e assim, tenha uma percepção sobre a evolução da aderência à cultura de Compliance e melhoria no sistema de controles internos da organização.- Resultado dos exames dos reguladores - avaliações satisfatórias em supervisões dos reguladores representam indicadores do trabalho desenvolvido pela área de Compliance e sua adequação às melhores práticas de mercado.- Avaliação completa do monitoramento de Compliance - da mesma forma os resultados de revisões de auditoria na área de Compliance permitirão entender o grau e evolução dos trabalhos realizados por esta. Assim como o grau de adesão da organização à cultura de Compliance por meio da disseminação atribuída à função.- Agilidade do Compliance - em relação às mudanças nas políticas e procedimentos, este indicador permite avaliar a rápida adequação às normas externas reduzindo o risco de Compliance, ou seja, risco de sanções regulatórias pelo não cumprimento destas.Além dos indicadores levantados na pesquisa, apresento abaixo demais pontos de monitoramento que também são importantes:- Pagamento de indenizações (ações adversas) - Realizar estudo e acompanhamento para identificar a natureza dos problemas que originaram as indenizações e alertar os responsáveis quanto à correção dos fatos geradores;- Código de Conduta - Comprovação de entrega e leitura do Código de Conduta e demais documentos de conhecimento obrigatório do empregado;- Canal de Denúncias - Acompanhar as denúncias e alertar os responsáveis quanto à correção dos fatos geradores;- Políticas e Procedimentos Internos - Apurar e acompanhar a atualização de políticas e procedimentos;- Cultura Compliance - Quantidade de cursos realizados para os empregados sobre disseminação da cultura do Compliance;- Acompanhar fatos anormais: Entenda-se por fatos anormais a realização de ações efetuadas pelos empregados que são contrárias às políticas e procedimentos da organização;Foram registradas algumas sugestões de indicadores de desempenho, contudo cabe a quem atua na área de Compliance entender o contexto da sua empresa e verificar os assuntos mais importantes que merecem ser devidamente monitorados e adotados KPIs.Com tais medidas e o compromisso de todas as partes para o efetivo cumprimento do programa de Compliance, haverá uma maior segurança dos funcionários, acionistas e stakeholders quanto à prevenção de desvios de conduta e resguardo da integridade da empresa.Um ponto importante a destacar é que independentemente do programa de monitoramento que a empresa decidir adotar, a alta administração deverá ser envolvida desde o início do processo, pois sem o seu apoio é provável que não exista sucesso na adoção do respectivo programa. Se a empresa já possui a consciência de que identificar e monitorar os indicadores de Compliance é tema de grande relevância para garantir a "Cultura Compliance" na organização, não tenho dúvidas de que a sua empresa está no caminho e entende o que significa uma boa governança corporativa. Contudo, se este ainda não é o cenário da sua empresa, a boa notícia é que mais do que nunca ela precisa de profissionais de Compliance e relacionados à ética. Afinal, sempre caberá a estes profissionais levantar a bandeira e dar início às discussões que, embora estratégicas, ainda não fazem parte da agenda da alta administração.A tarefa não é fácil, e a mensagem a passar é que sempre existirão oportunidades para os profissionais que fazem a diferença, que são persistentes, criativos, acreditam no que fazem e possuem a convicção de que a empresa só será perene se de fato existir um efetivo programa de Compliance, pois este pilar é um dos mais importantes no contexto da boa governança corporativa.
Gislene Cabral de SousaAdvogada, cursando o MBA de Governança Corporativa pela FIPECAFI (USP). Sócia fundadora do ICIC - Instituto de Compliance e Integridade Corporativa, coordenadora da Comissão de Compliance da ACREFI (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), membro dos Comitês de Compliance da ABBI (Associação Brasileira dos Bancos Internacionais), FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos) e do Grupo de Ética da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha. Participou da revisão do material consultivo Função de Compliance, divulgado pela ABBI e FEBRABAN. Atua nas as atividades de Prevenção e Combate aos Crimes de Lavagem de Dinheiro, Corrupção e Financiamento ao Terrorismo e em Compliance, é responsável pela elaboração do respectivo programa e já ministrou treinamentos para mais de 700 pessoas. Atualmente trabalha na Volkswagen Serviços Ltda.
04/10/2010
Advogados listam indicadores chaves de desempenho. Confira
Já presenciamos uma série de escândalos corporativos e o apetite ao risco a falta de controles e a ausência da ética foram algumas das razões que contribuíram para o declínio de algumas empresas.Fala-se muito em governança corporativa, tema que embora não seja tão novo, recebe cada vez mais destaque no mundo empresarial, contribuindo desta forma com o desenvolvimento de uma maior consciência da alta gestão. Mas onde entra Compliance neste contexto?Compliance não é um ativo fixo pelo qual é possível atestar rapidamente se o bem ainda existe, se está em boas condições de uso ou se está sendo utilizado de acordo com suas características; ele está relacionado ao investimento em pessoas, processos e conscientização, além de ser um dos pilares da boa governança corporativa.Não obstante, de nada adianta investir nos pontos registrados no parágrafo anterior sem atribuir indicadores de desempenho e não monitorar as atividades de Compliance. Com a ausência de indicadores e o correto monitoramento, ficará impossível garantir se de fato a empresa está em conformidade. Nesta linha, é imprescindível que as empresas determinem KPIs (Key Performance Indicators) de Compliance e realmente possuam um programa efetivo de monitoramento. Em estudo realizado em 2006 pela PricewaterhouseCoopers, foi verificado que de 73 instituições analisadas, 41% trabalhavam com os KPIs para a área de Compliance, 38% os utilizavam para análises preventivas, 18% começaram a utilizar e desenvolver os indicadores e 3% não os havia definido.Nessa pesquisa foram listados indicadores chaves de desempenho, a saber:- Treinamento fornecido x planejado - bem como a quantidade de funcionários que realizaram o treinamento x quantidade de funcionários elegíveis na organização. Outros indicadores podem ser considerados como, por exemplo, a rotatividade de funcionários x tempo para treinar os funcionários admitidos.- Testes realizados x planejados - dependendo da estrutura de Compliance implantada na organização, a função pode contemplar a execução de testes nas áreas com objetivo de mitigar os riscos de sanções regulatórias e de reputação, garantindo a aderência à regulamentação e às políticas internas. Como exemplo de teste, é possível citar o de avaliar um percentual dos clientes que iniciaram relacionamento no mês para garantir que o procedimento "conheça o seu cliente" tenha sido devidamente executado.- Revisão de Auditoria - os trabalhos de auditoria fornecerão indicadores importantes para que Compliance avalie, acompanhe pontos em não conformidade, fragilidade nos controles internos e a velocidade na correção das falhas, e assim, tenha uma percepção sobre a evolução da aderência à cultura de Compliance e melhoria no sistema de controles internos da organização.- Resultado dos exames dos reguladores - avaliações satisfatórias em supervisões dos reguladores representam indicadores do trabalho desenvolvido pela área de Compliance e sua adequação às melhores práticas de mercado.- Avaliação completa do monitoramento de Compliance - da mesma forma os resultados de revisões de auditoria na área de Compliance permitirão entender o grau e evolução dos trabalhos realizados por esta. Assim como o grau de adesão da organização à cultura de Compliance por meio da disseminação atribuída à função.- Agilidade do Compliance - em relação às mudanças nas políticas e procedimentos, este indicador permite avaliar a rápida adequação às normas externas reduzindo o risco de Compliance, ou seja, risco de sanções regulatórias pelo não cumprimento destas.Além dos indicadores levantados na pesquisa, apresento abaixo demais pontos de monitoramento que também são importantes:- Pagamento de indenizações (ações adversas) - Realizar estudo e acompanhamento para identificar a natureza dos problemas que originaram as indenizações e alertar os responsáveis quanto à correção dos fatos geradores;- Código de Conduta - Comprovação de entrega e leitura do Código de Conduta e demais documentos de conhecimento obrigatório do empregado;- Canal de Denúncias - Acompanhar as denúncias e alertar os responsáveis quanto à correção dos fatos geradores;- Políticas e Procedimentos Internos - Apurar e acompanhar a atualização de políticas e procedimentos;- Cultura Compliance - Quantidade de cursos realizados para os empregados sobre disseminação da cultura do Compliance;- Acompanhar fatos anormais: Entenda-se por fatos anormais a realização de ações efetuadas pelos empregados que são contrárias às políticas e procedimentos da organização;Foram registradas algumas sugestões de indicadores de desempenho, contudo cabe a quem atua na área de Compliance entender o contexto da sua empresa e verificar os assuntos mais importantes que merecem ser devidamente monitorados e adotados KPIs.Com tais medidas e o compromisso de todas as partes para o efetivo cumprimento do programa de Compliance, haverá uma maior segurança dos funcionários, acionistas e stakeholders quanto à prevenção de desvios de conduta e resguardo da integridade da empresa.Um ponto importante a destacar é que independentemente do programa de monitoramento que a empresa decidir adotar, a alta administração deverá ser envolvida desde o início do processo, pois sem o seu apoio é provável que não exista sucesso na adoção do respectivo programa. Se a empresa já possui a consciência de que identificar e monitorar os indicadores de Compliance é tema de grande relevância para garantir a "Cultura Compliance" na organização, não tenho dúvidas de que a sua empresa está no caminho e entende o que significa uma boa governança corporativa. Contudo, se este ainda não é o cenário da sua empresa, a boa notícia é que mais do que nunca ela precisa de profissionais de Compliance e relacionados à ética. Afinal, sempre caberá a estes profissionais levantar a bandeira e dar início às discussões que, embora estratégicas, ainda não fazem parte da agenda da alta administração.A tarefa não é fácil, e a mensagem a passar é que sempre existirão oportunidades para os profissionais que fazem a diferença, que são persistentes, criativos, acreditam no que fazem e possuem a convicção de que a empresa só será perene se de fato existir um efetivo programa de Compliance, pois este pilar é um dos mais importantes no contexto da boa governança corporativa.
Gislene Cabral de SousaAdvogada, cursando o MBA de Governança Corporativa pela FIPECAFI (USP). Sócia fundadora do ICIC - Instituto de Compliance e Integridade Corporativa, coordenadora da Comissão de Compliance da ACREFI (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), membro dos Comitês de Compliance da ABBI (Associação Brasileira dos Bancos Internacionais), FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos) e do Grupo de Ética da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha. Participou da revisão do material consultivo Função de Compliance, divulgado pela ABBI e FEBRABAN. Atua nas as atividades de Prevenção e Combate aos Crimes de Lavagem de Dinheiro, Corrupção e Financiamento ao Terrorismo e em Compliance, é responsável pela elaboração do respectivo programa e já ministrou treinamentos para mais de 700 pessoas. Atualmente trabalha na Volkswagen Serviços Ltda.
Vanessa Alessi Manzi Advogada, com LLM - Legal and Law Master (Mercado Financeiro) no IBMEC e extensão em UC Davis, na Califórnia. Atua na área de Compliance há 12 anos em instituições financeiras e atualmente é responsável pela área de Compliance, Risco Operacional e Ouvidoria. Autora do livro Compliance no Brasil - Consolidação e Perspectivas, São Paulo, 2008 e organizadora/autora do livro Manual de Compliance - Preservando a Boa Governança e Integridade das Organizações, Editora Atlas, 2010. Vice-presidente do Comitê de Compliance da ABBI (Associação Brasileira dos Bancos Internacionais) e Coordenadora do Núcleo de Regulação e Compliance do CEG da FIPECAFI (USP).
Fontes: Material Consultivo Função de Compliance (ABBI/FEBRABAN), estudo realizado em 2006 pela PricewaterhouseCoopers e Manual de Compliance Preservando a Boa Governança e Integridade das Organizações (Editora Atlas - 2010)
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