por José Augusto Wanderley
No mosteiro, a essência da liderança pode ser servir conforme o que é desenvolvido no best-seller de James C. Hunter: O Monge e o Executivo. A estrutura organizacional é estática e secular, os objetivos e a missão estão definidos e não mudam nunca e o foco pode ser basicamente interno. Não há necessidades de se preocupar com a sobrevivência da empresa, com o posicionamento no mercado, com as ameaças da concorrência, com a busca contínua de oportunidades e com o desenvolvimento de novas tecnologias. Assim, não é preciso que se entenda a organização como um sistema sócio/técnico que está em contínua transformação e interação com o meio ambiente e não tem relevância a afirmação de Jack Welch: "Se o nível de mudança interno está abaixo do nível de mudança externo, o colapso é iminente".
Em verdade, a essência da liderança está baseada em dois pilares: Lucidez, discernimento e qualidade de decisão e competência para executar e produzir resultados. Sem lucidez e qualidade de tomada de decisão, o resto é o resto. Mas também não adianta lucidez e qualidade de decisão sem a capacidade de agir e fazer acontecer. Existem líderes que têm estas qualidades, como Louis Gerstner que foi CEO da IBM a partir de 1993 e em nove anos salvou empresa de ruína. Mas também existem líderes que foram demitidos ou forçados a se aposentar e a razão não teve nada a ver com o fato de serem ou não servidores, mas porque não conseguiram os resultados esperados. Em 2000, por exemplo, foram demitidos ou aposentados cerca de 40 CEOs de empresas da lista da Fortune 500. E eram empresas como Compaq, Gillette, Hewlett-Packard, Xerox e Motorola. Estas pessoas foram conduzidas à liderança em função de decisões e escolhas baseadas em parâmetros equivocados. Eram pessoas sedutoras, ou tinham presença dominante e grande capacidade de comunicação, ou se mostravam como líderes natos. Em suma, superficialidades, aparências e jogos de cena. Mas não tinham o fundamental: lucidez, qualidade de decisão e capacidade de realização.
Para que se evitem equívocos desta natureza é essencial uma compreensão holística de tudo o que contribui para o sucesso. Entre os principais determinantes, de acordo com Ram Charan, estão: posicionar e reposicionar a empresa, detectar mudanças externas e colocar a empresa na ofensiva, conduzir e desenvolver o sistema social, avaliar pessoas, formar equipes, elaborar metas, estabelecer prioridades precisas e fazer face às pressões sociais.Que as pessoas são importantes está fora de questão, mas daí a concluir que o líder deve ser um servidor, vai uma longa diferença. Também deve ser constatado que está havendo uma mudança na natureza do trabalho, com a passagem do homem máquina, ou trabalhador "levanta parede", cujo principal ativo é a força física, para o trabalhador do conhecimento, cujo principal ativo passa a ser a capacidade de pensar, criar e decidir com qualidade para poder agir. Com o trabalhador "levanta parede" é possível o chamado gestor feitor. Mas com o trabalhador do conhecimento, sem adesão, comprometimento e motivação não se vai muito longe.
Em suma, se você quiser ser a alegria da concorrência ou ficar entre os líderes que foram demitidos ou forçados a se aposentar, é simples: basta ser um líder servidor. Mas com certeza, ninguém nunca lhe dirá: " Sua empresa foi à bancarrota, mas você foi um excelente líder servidor. Parabéns!"
José Augusto Wanderley é consultor em negociação, liderança e excelência de desempenho e autor do livro Negociação Total (Gente, 13ª Ed.), www.jawanderley.pro.br
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