Existem muitas coisas que são consideradas sagradas para os indígenas: a terra onde nascem e enterram seus antepassados; seus deuses; os espíritos que comandam a Natureza; e seus rituais. Torna-se quase impossível falar de suas práticas e crenças, são muitas tribos, muitas etnias, cada uma com seus rituais e significados diferentes. Mas gostaria de destacar aqui um ritual em especial: a dança da chuva.
Neste exato momento você deve estar se perguntando: "Afinal, o que teria a ver um ritual indígena com um tema de gestão?". Ao observar mais atentamente a atuação de alguns gestores/CEOs, guardadas as devidas proporções e dentro dos limites do respeito, podemos concluir que muitos adotam rituais aborígenes prometendo o sucesso do negócio. Daí advém os grandes problemas na gestão, não são formados para atuar com conhecimentos "religiosos" e fazem o inverso de uma boa administração.
Muitos chegam como verdadeiros pajés prometendo milagres, mas na verdade parece que sabem a hora certa de aproveitar a circunstância (muitas vezes, promovidas por outras pessoas) para fazer seu misancene. O pior é que há quem acredite nos seus falsos poderes miraculosos ou finge acreditar para não se indispor.
Na maioria das vezes, não possuem o conhecimento necessário para atuar em determinadas empresas. Pensam que o simples passar de organizações, conferem a eles a chave do segredo universal do sucesso, sentem-se o suprassumo dos conhecimentos adquiridos em sua formação meramente conceitual e perdem-se na oportunidade de aprendizagem de cada nova experiência.
Em algumas ocasiões importantes, para resolver grandes problemas, dão o "ar da graça" e de forma simplista invocam os espíritos da terra e dos antepassados (que têm o poder de trazer a chuva, assegurar a fartura da colheita, a fertilidade da terra), espantando os maus espíritos que vivem perdidos no mundo causando as dificuldades vividas pela empresa. Procuram resolver os problemas à medida que aparecem, sem preocuparem-se com as causas e os seus impactos, tratam os sintomas sem se importar com as origens.
Vivemos a época de um imediatismo absurdo, com a aceleração para descobrimento de novos talentos, com promessas de jovens cada vez mais focados em se especializar nos melhores cursos e universidades para chegar ao topo da pirâmide, com a ideia de que a sua vida deve ser de dedicação exclusiva ao trabalho e que seu orgulho lhe basta para ser bom. A maior parte desses precoces líderes, que mal chegaram aos 50 anos de idade, não possuem o conhecimento e experiência necessários para atuar em determinadas áreas consideradas estratégicas, apresentam ideias pirotécnicas, prometendo a reestruturação (ou a estruturação da empresa) para atuar com efetividade, porém o tempo passa e as mesmas cenas antigas se repetem, com os mesmos movimentos sagrados de uma "tradição" que, neste caso, não leva a lugar algum. O que estava prometido e esperado se esmaece nas nuvens torpes do tempo ou troca-se de um problema para outro.
Alguns mais arrojados e futuristas, que estufam o peito qual o super-homem, tendem a querer resolver problemas atávicos sem ao menos conhecer suas origens e particularidades. Esquecem-se de que cada unidade estratégica/empresa tem suas nuances. Por puro achismo, força de vontade e por se entenderem experientes prometem coisas sem ter certeza e não observam os impactos de suas ações. Geram expectativas que se frustrarão no dia seguinte, comprometendo o esforço e desempenho de suas equipes, tropeçam no auge de seu orgulho. São incapazes de pedir opiniões daqueles que realmente conhecem o processo e de "darem o braço a torcer", sempre alegando ter feito o melhor. Apesar de não quererem fazer o mal, acabam o fazendo, pois, infelizmente, para as decisões gerenciais, apenas boa vontade não basta, é preciso ter a expertise, o "pulo do gato".
Em suas atuações são válidos chocalhos, flautas e tambores para ritmar os movimentos da "dança" para impressionar os olhos mais atentos. Fazem firulas para dar colorido aos movimentos e distrair os assistentes que ficam boquiabertos, tamanho o encanto, para se estabelecerem em seu posto de "semideus". Usam uma "santidade" que não passa de aparência, sem a eficiência e eficácia práticas, sem nenhum conhecimento de causa.
Segundo Oscar Motomura, esse é um dos piores custos invisíveis para uma organização, é o "custo do girar em falso, do reinventar a roda". Custo que gasta tempo e dinheiro sem ser mensurado.
Na sua empresa, você já se sentiu fazendo uma dança da chuva ou conduzido por manangas? Nesse instante passa um filme em sua mente de quantas vezes você já se sentiu fazendo a dança da chuva ou diante de um grande pajé? Aquele trabalho que não vai a lugar algum, a não ser ziguezaguear em círculos, sem sair do lugar? Não se preocupe, talvez essa prática seja mais comum do que pensamos. Quem sabe seja por isso que muitas empresas passam por grandes crises sem saber o(s) por que(s)? Vivem inundadas de tanta água que descem do céu, diante de tanta pajelança, envolvidas num nevoeiro tempestuoso da falta de verdadeira gestão...
Jacó Alves - Formado em Secretariado Executivo pela Universidade Católica do Salvador – UCSal, com Pós-graduação em Gestão e Assessoria Organizacional pela Faculdade Baiana de Ciências – FABAC, Pós-graduando no MBA de Gestão de Pessoas e Comportamento Organizacional pelo Centro Universitário Jorge Amado - UNIJORGE. Atua na área de recursos humanos há mais de 5 anos. Palestrante em diversos encontros, congressos e Instituições de Ensino Superior. Já foi professor assistente da Área1-FTE e UCSAL nas disciplinas de Gestão de Serviços, Administração Mercadológica, Tecnologias Empresariais, Gerenciamento de Marketing, Gestão da Informação e Estratégia Organizacional.
Fonte: RH
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