Na década de 80 e início dos anos 90, foi disseminado nas organizações o conceito de competência, sendo entendido como o conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes necessário para o exercício de uma função, o famoso CHA. Nos dias atuais, em meio à enorme crise ética que estamos vivendo, onde diretores de grandes organizações, além de vários políticos, estão sendo acusados e presos por problemas relacionados ao pagamento de propinas, lavagem de dinheiro e corrupção, tornou-se necessário uma visão mais ampla a respeito deste conceito. Não basta mais ter somente Conhecimento, Habilidade e Atitude, o mercado de trabalho começa a buscar profissionais que tenham, além destes atributos, Valores e Ética.
O CHA vem sendo substituído pelo CHAVE, o novo conceito de competência que vem abrindo portas para o sucesso profissional. Os executivos das grandes empresas que estão envolvidos na Operação Lava-Jato da Polícia Federal, com certeza, possuíam um elevado nível de Conhecimento, de Habilidades e de Atitudes para o exercício de suas funções e, em um sentido restrito, poderiam ser chamados de competentes. No entanto, o que pode ser observado é que não foi bem assim; faltaram Valores e Ética e o nível de incompetência levou-os à derrocada. Caíram na tentação, pensando que nunca seriam descobertos e apanhados e entraram em um ciclo vicioso em que o dinheiro fácil, farto e ilícito falou mais alto. Como pode ser visto, enganaram-se redondamente e estão pagando caro por isto.
Profissionais íntegros que possuem CHAVE, não vacilam diante de propostas escusas. Por mais tentadores que sejam as quantias envolvidas, os princípios e os valores falam sempre muito mais alto.
Quando penso nestes aspectos, vem-me à memória uma notícia divulgada pela mídia há alguns anos atrás, sobre um fato ocorrido com um Servidor Público de Divinópolis, no centro-oeste de Minas Gerais. Ao passar por uma agência bancária para sacar R$ 2,00 no caixa eletrônico, o sistema disparou e liberou para ele uma quantia em torno de R$ 6.000,00. Não tinha ninguém por perto, mas ele não hesitou, mesmo com muitas dívidas, seus valores e a ética falaram-lhe mais forte. Imediatamente, apanhou a quantia e procurou o gerente da agência para devolver o dinheiro. Por mais incrível que possa parecer, o gerente não quis receber o dinheiro, afirmando que não havia detectado nenhum erro nas máquinas ou na câmera de segurança.
Pois bem, o nosso protagonista pegou o dinheiro, levou para casa e o guardou no guarda-roupa do seu pequeno quarto de dormir. Pensou consigo mesmo, conforme afirmou mais tarde à imprensa, que se o dinheiro não era dele, ele não tinha o direito de gastá-lo. Após três dias, a instituição bancária entrou em contato com ele perguntando sobre o saque e ele então apanhou o dinheiro e o devolveu na sua totalidade, apesar das dificuldades financeiras que passava. O servidor morava com os pais e o irmão mais velho em um bairro da periferia. A renda da família se resumia à pensão da aposentadoria do pai ao salário mínimo do servidor, que somavam cerca de R$700,00 na época.
Certamente e infelizmente algumas pessoas dirão que ele foi um idiota, principalmente considerando o fato de que o gerente não quis receber o dinheiro de volta. Para estes e tantos outros corruptos de plantão que circulam por aí nas organizações e na sociedade, a frase proferida por ele quando entrevistado deveria servir de exemplo: "Não há dinheiro que pague uma consciência tranquila. Espero estar passando uma boa lição de vida para meu filho"...
A honestidade e a integridade que resultam da falta de oportunidade para ser desonesto, não é virtude, é acaso ou oportunismo. O servidor, na sua simplicidade, veio nos mostrar que, mesmo em situações difíceis e tentadoras, ainda existem pessoas cujos Valores e Ética falam sempre mais alto, não importa qual seja a oferta. Quiçá esta lição não ficasse somente para o seu filho, mas fosse aprendida por todos aqueles que andam enlameando nosso País com uma onda crescente de vergonha e corrupção! Que a "CHAVE" predomine nas nossas organizações e na nossa sociedade abrindo cada vez mais o caminho para a construção de uma nação mais limpa, honesta e transparente.
Júlio César Vasconcelos - Gestor de Pessoas e Consultor Organizacional, graduado em Gestão de Recursos e Produção pela Pontifícia Universidade de Campinas, pós-graduado em Gestão de Pessoas pelo CEPEMG-Newton Paiva, especializado em Consultoria Organizacional pela Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento – ABTD-MG, Master Business Administration – MBA pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, com mais de 30 (trinta) anos de experiência nas áreas de Produção, Administração, Gestão pela Qualidade Total, Recursos Humanos e Responsabilidade Social Corporativa em empresas de grande porte dos segmentos de siderurgia, mineração e filantropia. Professor dos Cursos de Pós-graduação de Gestão de Pessoas do SENAC-MG e Centro de Estudos e Pesquisas do Estado de Minas Gerais CEPEMG/Newton Paiva. Facilitador (instrutoria) de diversos cursos voltados para o desenvolvimento de lideranças organizacionais. Vivência internacional e inglês fluente. Escritor de diversos artigos relacionados à Gestão de Pessoas na Coluna RH do Jornal Estado de Minas e outros jornais regionais. Premiado pela Associação Brasileira de Recursos Humanos – ABRH-MG em 2005 com o Projeto “Planejamento Estratégico de Gestão de Pessoas em uma Empresa Familiar do Ramo Siderúrgico”, modalidade As Melhores Práticas de Gestão de Pessoas.
Fonte: RH
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