A história da humanidade está repleta de lições importantes para o futuro. Ao olhar com atenção, até mesmo na Segunda Guerra Mundial surgem aprendizados valiosos que podem ser utilizados no mundo corporativo. Ao analisarmos os oponentes desse embate, sem entrar no mérito de intenções e resultados, percebemos que a melhor estratégia de guerra foi elaborada por um dos personagens mais marcantes da humanidade: Hitler - que, apesar dos pesares, foi um grande estrategista com uma ótima capacidade de liderança e que contava com um exército e equipe altamente disciplinados.
A Alemanha, ao longo da Segunda Guerra, teve qualidade superior em questão de estratégias militares, códigos de comunicação e aviões de guerra, além de ter contado com um exército muito bem treinado. Do outro lado do conflito, tínhamos um homem já com idade avançada, que havia contabilizado inúmeras perdas, totalmente idealista e marcado por muitos erros ao longo da sua vida política: Winston Churchill, primeiro-ministro britânico.
Churchill, usando seu conhecimento político adquirido durante os seus primeiros 50 anos de vida, entendeu que Adolf Hitler tinha uma grande fragilidade: estava totalmente sozinho com a sua inteligência. O britânico foi capaz de ver que o alemão estava tão focado em seu mundo intelectual e na alta qualidade dos equipamentos alemães e exército que não tinha condições de avaliar o que acontecia ao seu redor.
Hitler era tão inteligente quanto míope. Seu foco em estratégia e planejamento o cegou, sendo o responsável pelo desentendimento entre a Alemanha e a Rússia, o que provavelmente selou a derrota alemã. Ao mesmo tempo, algo não imaginado aconteceu: socialistas e capitalistas compuseram uma aliança contra a Alemanha, formando o grupo dos Aliados. Churchill arquitetou uma aliança vitoriosa e inverteu o cenário de guerra e, aliado aos norte-americanos e russos, venceu a Alemanha.
Quando nos lembramos do Dia "D" e da invasão da Normandia podemos descobrir mais algumas diferenças entre as mentalidades dos líderes da época. Garbo, o famoso espião duplo, nos ajuda nesse ponto. Ele informou a Hitler que os Aliados começariam a invasão por Pas de Calais, porém, a informação era falsa, e foi divulgada conforme orientação dos ingleses. Sabendo como funciona o modelo mental de Hitler, Churchil o enganou e optou por um lugar sem porto. Um modelo mental com alto foco apenas em determinado ponto - incapaz de avaliar o que acontece ao redor - não imaginaria que, em uma guerra, uma nação iria inventar histórias e falsas lutas para desorientar os oponentes, como aconteceu na ocasião.
Ao aplicar esse exemplo da Segunda Guerra às empresas, percebemos que, às vezes, estamos totalmente restritos na execução, no planejamento e no comando. A declaração difundida é foco, foco e mais foco. No caso de Hitler e Churchill, a principal razão pela qual as estratégias obtiveram êxito foi, de certa forma, o oposto disso: foi preciso levantar os olhos e buscar soluções no mundo ao redor. Uma mentalidade mais aberta foi capaz de trazer soluções. Hoje em dia, ao olhar, por exemplo, para a Apple e o Google - IOS e Android, respectivamente - vemos, novamente, que as mentalidades abertas criam um ambiente criativo e fértil para ideias diferentes nascerem e se desenvolverem.
Muita coisa aconteceu desde a Segunda Guerra. A inteligência reforçou-se com o êxito e se tornou cada vez mais míope. Esse movimento torna-se tão intenso que nos faz questionar: ao ser inteligente é possível ser flexível, analisar suas derrotas e mudar a maneira como se está fazendo as coisas? Até que ponto ter foco concentrado em determinado ponto não faz com deixemos de ver que maneiras simples e rápidas de se fazer as coisas estão ao nosso alcance, tão adjacentes quanto invisíveis?
Seria a inteligência um paradoxo? Ou será que aprenderemos algum dia com as experiências passadas, mesmo aquelas ruins? É bom trabalharmos focados, mas com liberdade suficiente para sermos criativos. Caso contrário, o risco é contaminarmos a inteligência com a miopia, o que pode ser fatal.
Alexandre Leite Possui especialização em Marketing e Estratégia pela Stanford Business School. Pós Graduação em Pesquisa Operacional e Modelos de Simulações pela Harvard Extension School e graduação em engenharia civil pela FESP- Faculdade de Engenharia de São Paulo. É Diretor executivo da Ecobenefícios.
Fonte: RH
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