“A educação sozinha não faz mudanças, mas nenhuma grande mudança se faz sem a educação.”
(Bernardo Toro)
A morte do cinegrafista Santiago Andrade, atingido por um rojão durante protesto contra o aumento das passagens de ônibus no Rio de Janeiro, é um triste reflexo de nossa sociedade.
Em lugar de evoluir, estamos regredindo no que concerne ao convívio social. Motoristas que trafegam pelo acostamento e motociclistas que propositadamente avariam espelhos retrovisores. Pessoas que utilizam vagas destinadas a deficientes quando sua única necessidade especial é demonstrar esperteza e ganhar alguns minutos. Pichadores que danificam patrimônio público e privado como se estivessem produzindo obras de arte. Trabalhadores que apresentam falsos atestados médicos. Pessoas queimadas em praças públicas, decapitadas em celas, agredidas em virtude de sua orientação sexual. Torcidas que se digladiam nas ruas e em estádios de futebol. Crimes do colarinho branco. Exemplos de falta de escrúpulo, intolerância, desrespeito aos direitos e à dignidade do outro.
Num mundo sem fronteiras, acessível à velocidade de um clique, tornamo-nos individualistas e egoístas. Uma sociedade de consumo, viciada em tecnologia e relações virtuais, reality shows e exposição de perfis projetados em redes sociais, em busca de inserção, reconhecimento e aprovação. Sociedade sem limites, que clama por liberdade, mas não deseja o ônus da responsabilidade.
O fatídico evento no Rio pode ser analisado sob diversos prismas. Do direito democrático à manifestação pública, assegurado a todo cidadão, à violência, sempre injustificada, praticada por uma minoria. Da inconsequência dos dois jovens acusados pelo crime e seu eventual aliciamento por grupos organizados, ao questionamento se o episódio teria igual repercussão fosse vitimado um policial ou mesmo outro manifestante. Enquanto isso, legisladores oportunistas aproveitam para postular a elaboração de novas leis, como se não já as tivéssemos em demasia, carentes apenas de sua aplicação.
Diante deste contexto, negligencia-se que a raiz de nossos problemas continua na falta de educação. A educação que disciplina, estimula a reflexão, promove a consciência e contribui para a identificação de um sentido para a vida e um propósito no mundo.
Entretanto, curiosamente encontramos, neste mesmo momento, o “exemplo” da prefeitura do município de São Paulo, que numa visão econômica e utilitarista decidiu reduzir o número de itens que compõem o kit de material didático entregue aos alunos do ensino infantil e fundamental. Assim, a quantidade de lápis e cadernos foi reduzida e itens como canetas, tinta guache e pincel foram simplesmente suprimidos sob a alegação de “racionalizar” e “evitar desperdícios”.
O pensador inglês Samuel Johnson, pontuou com correção: “O fim supremo da educação é o discernimento em diferenciar o bem e o mal, o genuíno do impostor – e de preferir o bem e o genuíno ao mal e ao impostor”.
O lápis a menos, na escola de hoje, será o rojão a mais, nas ruas de amanhã.
* Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17 países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e comportamento” (Flor de Liz, 2011), “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional” (Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.br
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