Quitar dívidas ou fazer poupança não é a prioridade dos brasileiros para o dinheiro que sobra na carteira depois das despesas essenciais. Essas são as duas opções mais citadas por todos os outros latino-americanos entrevistados em uma pesquisa global da consultoria Nielsen. Enquanto argentinos, mexicanos, colombianos, chilenos, venezuelanos e peruanos estão mais preocupados em pagar contas e guardar dinheiro, no Brasil desponta em primeiro lugar o entretenimento fora de casa.
Foram entrevistadas 3,5 mil pessoas na América Latina, divididas de acordo com a representatividade populacional e econômica de cada país. A pesquisa foi feita pela internet.
Atividades como ir ao cinema, ao teatro, ou jantar com a família em restaurantes devem ser o destino dos recursos excedentes para 39% dos brasileiros no último trimestre de 2011. O entretenimento já tinha sido apontado como prioridade em todos os outros trimestres do ano, sendo que chegou a ser escolhido por 42% dos entrevistados entre julho e setembro. A média para a América Latina fechou o ano em 31%.
"Como reflexo da atividade econômica, a base da pirâmide consegue ter participação cada vez maior em gastos que outrora não tinha e que eram alvos de desejo. Há uma demanda reprimida por entretenimento. Em algum momento deve haver um ponto de equilíbrio, em que a opção por lazer deve ficar em níveis medianos", afirma Claudio Czarnobai, analista de mercado da Nielsen.
Nas respostas, em que os entrevistados podem apontar quantas opções desejarem, inclusive todas, quitar dívidas ainda aparece em segundo plano. Apesar de não ter ultrapassado a opção por entretenimento, a escolha de pagar empréstimos e dívidas no cartão de crédito teve avanço expressivo ao longo de 2011. Começou o ano como destino dos recursos excedentes para 29% dos entrevistados e fechou como prioridade para 35% deles.
A inadimplência do consumidor cresceu 21,5% em 2011 com relação ao ano anterior, no maior avanço desde 2002, segundo a Serasa Experian. "O fim de 2011 e a entrada de 2012 foram os momentos iniciais de queda da inadimplência. O brasileiro começa a perceber que precisa pagar suas dívidas para organizar as contas", diz Czarnobai.
Ansioso por entretenimento e com dívidas para pagar, o brasileiro põe as aplicações em poupança em terceiro plano. Essa é uma escolha de 32% dos entrevistados (veja abaixo).
O levantamento da Nielsen na América Latina também mostra o brasileiro como o mais otimista da região. O índice de confiança ficou em 112 pontos no quarto trimestre, estável em relação ao terceiro e com um avanço expressivo em relação aos 95 dos primeiros meses de 2011. O Brasil manteve a posição de quinto maior índice do mundo, atrás de Índia, Filipinas, Indonésia e Arábia Saudita.
Os brasileiros dividem com outros nove países o nível mais alto de confiança, que inclui indicadores maiores do que 101. Países com índice entre 90 e 100 estão no nível médio e os abaixo de 89 têm confiança baixa.
"Algumas movimentações em outros países acabaram mudando a configuração do ranking mundial", diz o analista da Nielsen. No quarto trimestre, a confiança caiu em 24 dos 27 mercados europeus. Já os Estados Unidos mostraram uma recuperação, com avanço de seis pontos, para 83. Ficaram ainda um pouco abaixo da média global, que ganhou um ponto em relação ao terceiro trimestre e ficou em 89.
Foram entrevistadas 28 mil pessoas em 56 países. Hungria, Portugal, Grécia, Croácia e Coreia do Sul registraram os menores índices de confiança.
A segurança no emprego contribui para esse otimismo - 71% dos brasileiros entrevistados consideram excelentes ou boas as perspectivas locais de trabalho para os próximos 12 meses. O percentual evoluiu com relação aos 65% de janeiro a março. A média para todos os países da América Latina é de 48%.
Enquanto 16% dos latino-americanos apontaram a estabilidade no emprego como a maior preocupação para os próximos seis meses, a questão só aparece em primeiro lugar para 7% dos brasileiros. Por aqui, a atenção maior é dada ao equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, com 18% das respostas.
"Essa intenção de não se entregar demais ao trabalho tem bastante a ver com a maior oferta de vagas. Com o sentimento de estabilidade, esse brasileiro se questiona agora como aproveitar o que o trabalho tem rendido", afirma Czarnobai, ressaltando que isso deve se refletir em uma busca maior por entretenimento fora do lar. Depois do balanço entre trabalho e vida pessoal, o brasileiro preocupa-se com a saúde e, em seguida, com o endividamento.
Toda essa confiança do brasileiro deve se refletir em mais consumo em 2012 - 45% dos entrevistados acham que os próximos doze meses devem ser um período excelente ou bom para comprarem o que querem. Muito mais do que os 24% do começo do ano. Indício de que, mais uma vez, poupar não deve estar no topo das prioridades.
Fonte: Valor Econômico
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