Em dezembro, o governo anunciou que a partir do mês que vem só vai remunerar 73% do compulsório recolhido sobre recursos a prazo, percentual que cairá para 64% em abril. Se não quiserem deixar o dinheiro parado, os bancos terão de comprar ativos das instituições menores. Pelos cálculos do Banco Central, cerca de R$ 30 bilhões se enquadram na regra, volume que tem trazido inquietação às instituições de grande porte.
Executivos de bancos pequenos e médios relatam que as tesourarias dos grandes já batem em suas portas à procura de um novo destino para o compulsório. "Só neste começo de mês já tivemos demanda por CDI equivalente a todo o estoque que temos no banco. Bancos com quem antes não fazíamos negócio estão nos procurando", diz Morris Dayan, diretor-executivo do Daycoval.
Bancos como Bicbanco e Indusval também relatam cenários similares, com grandes instituições em busca tanto de carteiras de crédito quanto de CDI. "Diante da intensa manifestação dos bancos, já fechamos alguns negócios", afirma Milto Bardini, vice-presidente do Bicbanco.
Em muitas instituições, a procura mais intensa por seus ativos já tem levado inclusive à redução das taxas pagas nas captações. O executivo de um banco médio diz que no início da semana fechou a primeira venda de carteira a um grande banco que estava fora desse mercado desde o episódio do PanAmericano. A taxa paga também foi equivalente à que era paga antes da descoberta das fraudes no banco de Silvio Santos.
O Bonsucesso ainda não fechou venda de ativos. "De concreto, ainda não temos nada, mas já dá para sentir que trará efeito", diz Jorge Lipiani, diretor-executivo do Bonsucesso.
A melhora no cenário de captação não tem sido sentida da mesma forma por todas as instituições. Alguns bancos por enquanto não foram procurados.
O Valor apurou que, neste momento, os grandes bancos estão dando preferência aos médios não tão alavancados ou que não estejam envolvidos com crédito para a compra de veículos ou consignado. A avaliação das instituições é que a medida do Banco Central foi incisiva, o que deixou os grandes bancos reticentes, inicialmente, sentindo-se pressionados a dar recursos a todo mundo. Ao mesmo tempo, nem todos os bancos a quem os grandes querem ceder recursos estão com necessidade de captação neste momento. Alguns estão em confortável posição de caixa.
Executivos de bancos de pequeno e médio portes já trabalham com a hipótese de que apenas parte do dinheiro do compulsório deixado sem remuneração seja usado para a compra de carteiras e DIs. "Alguns bancos devem preferir deixar o dinheiro parado a emprestar a determinados riscos", diz o executivo de uma instituição.
Amanhã, segundo o Valor apurou, a Febraban, associação que reúne as grandes instituições, e a ABBC, que congrega as instituições menores, terão reunião em Brasília com o Banco Central para discutir a eficácia da retirada da remuneração de parte do compulsório. A reunião não é confirmada pelas entidades.
Entre os principais temas está a possibilidade de nem todas as instituições serem beneficiadas pela medida, o que criaria uma distorção no mercado.
Outro assunto em pauta é que a decisão do BC não resolverá o problema estrutural de captação das instituições menores, que vem de longa data. Em 2009, para ajudar o "funding" dos bancos, o governo criou o Depósito a Prazo com Garantia Especial (DPGE), que garante via Fundo Garantidor de Créditos aplicações de até R$ 20 milhões. Agora, justamente quando o BC começou a limitar a emissão do DPGE, outro incentivo - desta vez pelo compulsório - precisou entrar em ação.
Fonte: Valor Econômico
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