André Massaro
Vivemos um momento curioso no Brasil. Crédito nunca foi uma das coisas mais abundantes por aqui, mas, recentemente, com a relativa estabilização da economia e da moeda, as pessoas estão começando a se sentir mais à vontade para se endividar e, por sua vez, os agentes financiadores perceberam que, para poderem ganhar dinheiro, terão que fazer aquilo para o que foram originalmente concebidos: financiar.Os efeitos dessa recente flexibilização do crédito são visíveis. Comércio extremamente aquecido, pessoas consumindo como nunca e a preocupação primordial de muitas pessoas “mas será que a parcela cabe no meu orçamento?”, que prenuncia o desastre financeiro.
Os níveis de endividamento do brasileiro médio estão crescendo de forma perigosa. Alguns políticos e burocratas do governo dizem que nossos níveis de endividamento são baixos em relação aos outros países (o que é verdadeiro). Mas essa informação, se analisada isoladamente, pode nos levar a conclusões equivocadas. O índice de endividamento médio do brasileiro é, de fato, menor que o de um americano ou europeu, por exemplo. Mas é importante termos em mente que os brasileiros pagam juros muito superiores aos que os americanos ou europeus pagam. Apenas para termos um exemplo, a taxa que o brasileiro paga pelo crédito rotativo de seu cartão de crédito é, em média, dezessete vezes superior àquela paga por um americano.
Isso significa, na prática, que apesar de ter um endividamento menor, o brasileiro “quebra” muito mais rápido, por conta do efeito devastador de nossas taxas de juros insanas. O índice de endividamento, nesse caso, não nos diz absolutamente nada. É um endividamento menor, mas potencialmente muito mais nocivo.O que as empresas e os empregadores têm a ver com isso? Em princípio, nada. A obrigação da empresa é pagar, em dia e corretamente, seus funcionários. O que cada funcionário faz com seu dinheiro é problema dele.
Mas essa é outra conclusão, assim como a questão dos índices de endividamento, deve ser colocada em perspectiva. Hoje não só o consumo está aquecido, o mercado de trabalho também está. A maioria dos trabalhadores, de alguma forma, percebe isso, e eles estão bastante “confortáveis” para assumir dívidas e tratar suas finanças de forma mais pródiga. Mas como será no dia em que essa “lua de mel” acabar?Depois da euforia, vem a ressaca... Vem a constatação de que as finanças domésticas estão completamente comprometidas por “parcelas que cabiam no orçamento”, pequenas dívidas que viraram encrencas monumentais e coisas do gênero. Nesse momento, aquilo que, inicialmente, não era um problema do empregador, vira um problema (e dos grandes...).
Começam as pressões sobre o departamento de pessoal, por adiantamentos e “vales”. O empresário acaba descobrindo que, sem querer, está virando banqueiro. E pior! Não está ganhando nada com isso... A produtividade cai, decorrência do stress causado pelo desequilíbrio e pelas pressões financeiras. Acontece o fenômeno conhecido como “presenteísmo”, no qual o funcionário vai para a empresa, cumpre seu horário, ocupa seu local físico, mas não consegue exercer plenamente sua capacidade de trabalho (por estar “com a cabeça em outro lugar”, possivelmente pensando em dívidas e cobranças).
Existem estudos que indicam que o presenteísmo representa, para as empresas, um custo maior que o absenteísmo puro e simples. Funcionários desatentos e desmotivados têm maior inclinação a cometer erros e sofrer acidentes de trabalho. Isso custa, e adivinhem para quem vai essa conta? Para o empregador, naturalmente...Em um mundo ideal, a empresa pagaria o salário aos empregados (integralmente e tempestivamente) e esses usariam os recursos recebidos da forma mais racional e sensata possível, e tudo estaria resolvido. Mas no mundo real, os empregadores precisam começar a se preocupar com a forma como seus empregados administram suas próprias finanças, sob o risco de acabarem gerando um problema (inclusive financeiro) para elas mesmas.
André Massaro é especialista em finanças pessoais e autor do livro MoneyFit (Matrix Editora). Contato: http://www.moneyfit.com.br/
Os níveis de endividamento do brasileiro médio estão crescendo de forma perigosa. Alguns políticos e burocratas do governo dizem que nossos níveis de endividamento são baixos em relação aos outros países (o que é verdadeiro). Mas essa informação, se analisada isoladamente, pode nos levar a conclusões equivocadas. O índice de endividamento médio do brasileiro é, de fato, menor que o de um americano ou europeu, por exemplo. Mas é importante termos em mente que os brasileiros pagam juros muito superiores aos que os americanos ou europeus pagam. Apenas para termos um exemplo, a taxa que o brasileiro paga pelo crédito rotativo de seu cartão de crédito é, em média, dezessete vezes superior àquela paga por um americano.
Isso significa, na prática, que apesar de ter um endividamento menor, o brasileiro “quebra” muito mais rápido, por conta do efeito devastador de nossas taxas de juros insanas. O índice de endividamento, nesse caso, não nos diz absolutamente nada. É um endividamento menor, mas potencialmente muito mais nocivo.O que as empresas e os empregadores têm a ver com isso? Em princípio, nada. A obrigação da empresa é pagar, em dia e corretamente, seus funcionários. O que cada funcionário faz com seu dinheiro é problema dele.
Mas essa é outra conclusão, assim como a questão dos índices de endividamento, deve ser colocada em perspectiva. Hoje não só o consumo está aquecido, o mercado de trabalho também está. A maioria dos trabalhadores, de alguma forma, percebe isso, e eles estão bastante “confortáveis” para assumir dívidas e tratar suas finanças de forma mais pródiga. Mas como será no dia em que essa “lua de mel” acabar?Depois da euforia, vem a ressaca... Vem a constatação de que as finanças domésticas estão completamente comprometidas por “parcelas que cabiam no orçamento”, pequenas dívidas que viraram encrencas monumentais e coisas do gênero. Nesse momento, aquilo que, inicialmente, não era um problema do empregador, vira um problema (e dos grandes...).
Começam as pressões sobre o departamento de pessoal, por adiantamentos e “vales”. O empresário acaba descobrindo que, sem querer, está virando banqueiro. E pior! Não está ganhando nada com isso... A produtividade cai, decorrência do stress causado pelo desequilíbrio e pelas pressões financeiras. Acontece o fenômeno conhecido como “presenteísmo”, no qual o funcionário vai para a empresa, cumpre seu horário, ocupa seu local físico, mas não consegue exercer plenamente sua capacidade de trabalho (por estar “com a cabeça em outro lugar”, possivelmente pensando em dívidas e cobranças).
Existem estudos que indicam que o presenteísmo representa, para as empresas, um custo maior que o absenteísmo puro e simples. Funcionários desatentos e desmotivados têm maior inclinação a cometer erros e sofrer acidentes de trabalho. Isso custa, e adivinhem para quem vai essa conta? Para o empregador, naturalmente...Em um mundo ideal, a empresa pagaria o salário aos empregados (integralmente e tempestivamente) e esses usariam os recursos recebidos da forma mais racional e sensata possível, e tudo estaria resolvido. Mas no mundo real, os empregadores precisam começar a se preocupar com a forma como seus empregados administram suas próprias finanças, sob o risco de acabarem gerando um problema (inclusive financeiro) para elas mesmas.
André Massaro é especialista em finanças pessoais e autor do livro MoneyFit (Matrix Editora). Contato: http://www.moneyfit.com.br/
Site: Empreendendor
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