Estratégia: Títulos públicos federais deixam de ser porto seguro para ganhos fáceis com queda dos juros
Carolina Mandl Do Recife
22/11/2010
Os fundos de pensão estão trocando o antigo porto seguro dos títulos públicos federais por ativos da economia real em busca de ganhos maiores. Participações em empresas, imóveis e obras de infraestrutura vão a passos largos ocupar o espaço dos papéis do governo, que hoje representam 45% dos R$ 489,2 bilhões do patrimônio da indústria, segundo gestores ouvidos pelo Valor.
O motivo é simples: com a queda da taxa de juros, os títulos públicos já estão encostando na rentabilidade que os fundos precisam gerar para pagar as aposentadorias, a chamada meta atuarial, que é de 6% mais a variação da inflação medida pelo IPCA ao ano. No último leilão, em 9 de novembro, o Tesouro pagou 5,99% ao ano para os títulos com vencimento em agosto de 2014; 5,98% ao ano para agosto de 2016; e 5,96% ao ano para agosto de 2020.
Carolina Mandl Do Recife
22/11/2010
Os fundos de pensão estão trocando o antigo porto seguro dos títulos públicos federais por ativos da economia real em busca de ganhos maiores. Participações em empresas, imóveis e obras de infraestrutura vão a passos largos ocupar o espaço dos papéis do governo, que hoje representam 45% dos R$ 489,2 bilhões do patrimônio da indústria, segundo gestores ouvidos pelo Valor.
O motivo é simples: com a queda da taxa de juros, os títulos públicos já estão encostando na rentabilidade que os fundos precisam gerar para pagar as aposentadorias, a chamada meta atuarial, que é de 6% mais a variação da inflação medida pelo IPCA ao ano. No último leilão, em 9 de novembro, o Tesouro pagou 5,99% ao ano para os títulos com vencimento em agosto de 2014; 5,98% ao ano para agosto de 2016; e 5,96% ao ano para agosto de 2020.
Com a carteira recheada de notas e letras do Tesouro, já neste ano os fundos correm o risco de não alcançar a rentabilidade que precisam. E o cenário só tende a piorar com a tendência de queda dos juros básicos. (veja gráfico acima)
Diante disso, só a Petros, dona um patrimônio de R$ 53 bilhões, vai trocar nos próximos cinco anos R$ 5 bilhões da carteira de títulos públicos por investimentos em projetos de infraestrutura e imóveis. Hoje, os papéis do governo representam 36% dos ativos do fundo dos trabalhadores da Petrobras. "Estamos migrando o portfólio para os ativos reais da economia", diz Wagner Pinheiro, presidente da fundação.
A Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, que tem outros R$ 139,2 bilhões em carteira, está montando equipes especializadas em analisar cadeias produtivas, como o setor de óleo e gás. O objetivo é investir em empresas, diretamente ou via fundos de participação, que produzam insumos ou serviços ligados a essa indústria. "O objetivo é captar todas as oportunidades que as cadeias podem gerar. Se ficarmos na zona de conforto, só com a renda fixa pública, não vamos honrar a meta atuarial", afirma Vitor Gonçalves, diretor de planejamento da Previ.
Em outra ponta, a fundação vai direcionar R$ 4 bilhões até 2013 para investimentos em imóveis, que vai passar a representar 5% do patrimônio do fundo ante os 3% atuais. No radar, estão projetos fora do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, onde a disputa pelos ativos é mais acirrada.
Por causa dos fluxos de caixa que geram, as obras de infraestrutura tendem a receber muitos recursos dos fundos de pensão. Na semana passada, Petros, Previ e Funcef (dos trabalhadores da Caixa) anunciaram que vão investir até R$ 1,5 bilhão para ficar com uma participação de até 20% no trem-bala, que vai ligar Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas.
Mesmo os fundos de pensão de menor porte estão diversificando o portfólio. O Fibra, dos funcionários de Itaipu, vai alocar uma parte maior dos R$ 1,8 bilhão de seu patrimônio para fundos de investimento em participações, o "private equity", segundo Marcos Aurélio Lutz, gerente financeiro do Fibra. Atualmente 5% dos ativos da fundação já estão em fundos que compram fatias de empresas. As ações de empresas de menor porte também nos planos.
A Ceres, dos trabalhadores da Embrapa, está começando a aplicar em fundos voltados para a incorporação de projetos imobiliários, tanto residencial quanto de plantas indústrias e escritórios. Segundo Luciano Fernandes, diretor de investimentos da Ceres, neste ano estão sendo aplicados R$ 15 milhões e outros R$ 40 milhões vão ser alocados em 2011.
O direcionamento do portfólio dos fundos para a economia real, porém, não é um tema tranquilizador para os gestores até em termos psicológicos. "Isso envolve uma questão comportamental. O gestor vai ter de estar aberto para correr mais risco", avalia Gonçalves, da Previ. Mais do que isso, eles vão ter de estar preparados para o prejuízo. "Os fundos vão buscar mais risco. E nesse caminho é inevitável haver também mais perdas", diz Estevam Brayn, coordenador-geral de monitoramento atuarial da Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar).
Para o Banco Mundial, que presta consultoria para o sistema de previdência complementar no Brasil, a redução da taxa de juros no Brasil representa o maior desafio que a indústria de fundos de pensão tem no país. Segundo Dimitri Vittas, consultor do Banco Mundial, uma solução para as fundações seria reduzir o juro real pago pelos planos de 6% para 3% ao ano. "Essa é uma tendência mundial."
O que dá um pouco mais de tranquilidade aos gestores é o fato de os fundos de pensão terem passado pelo menos os últimos cinco anos preocupados em formar um colchão de proteção com títulos públicos de vencimento daqui a décadas. Na Previ, por exemplo, 40% da carteira de renda fixa está alocada em papéis públicos de longo prazo que dão um rendimento real de 8% ao ano.
Diante disso, só a Petros, dona um patrimônio de R$ 53 bilhões, vai trocar nos próximos cinco anos R$ 5 bilhões da carteira de títulos públicos por investimentos em projetos de infraestrutura e imóveis. Hoje, os papéis do governo representam 36% dos ativos do fundo dos trabalhadores da Petrobras. "Estamos migrando o portfólio para os ativos reais da economia", diz Wagner Pinheiro, presidente da fundação.
A Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, que tem outros R$ 139,2 bilhões em carteira, está montando equipes especializadas em analisar cadeias produtivas, como o setor de óleo e gás. O objetivo é investir em empresas, diretamente ou via fundos de participação, que produzam insumos ou serviços ligados a essa indústria. "O objetivo é captar todas as oportunidades que as cadeias podem gerar. Se ficarmos na zona de conforto, só com a renda fixa pública, não vamos honrar a meta atuarial", afirma Vitor Gonçalves, diretor de planejamento da Previ.
Em outra ponta, a fundação vai direcionar R$ 4 bilhões até 2013 para investimentos em imóveis, que vai passar a representar 5% do patrimônio do fundo ante os 3% atuais. No radar, estão projetos fora do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, onde a disputa pelos ativos é mais acirrada.
Por causa dos fluxos de caixa que geram, as obras de infraestrutura tendem a receber muitos recursos dos fundos de pensão. Na semana passada, Petros, Previ e Funcef (dos trabalhadores da Caixa) anunciaram que vão investir até R$ 1,5 bilhão para ficar com uma participação de até 20% no trem-bala, que vai ligar Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas.
Mesmo os fundos de pensão de menor porte estão diversificando o portfólio. O Fibra, dos funcionários de Itaipu, vai alocar uma parte maior dos R$ 1,8 bilhão de seu patrimônio para fundos de investimento em participações, o "private equity", segundo Marcos Aurélio Lutz, gerente financeiro do Fibra. Atualmente 5% dos ativos da fundação já estão em fundos que compram fatias de empresas. As ações de empresas de menor porte também nos planos.
A Ceres, dos trabalhadores da Embrapa, está começando a aplicar em fundos voltados para a incorporação de projetos imobiliários, tanto residencial quanto de plantas indústrias e escritórios. Segundo Luciano Fernandes, diretor de investimentos da Ceres, neste ano estão sendo aplicados R$ 15 milhões e outros R$ 40 milhões vão ser alocados em 2011.
O direcionamento do portfólio dos fundos para a economia real, porém, não é um tema tranquilizador para os gestores até em termos psicológicos. "Isso envolve uma questão comportamental. O gestor vai ter de estar aberto para correr mais risco", avalia Gonçalves, da Previ. Mais do que isso, eles vão ter de estar preparados para o prejuízo. "Os fundos vão buscar mais risco. E nesse caminho é inevitável haver também mais perdas", diz Estevam Brayn, coordenador-geral de monitoramento atuarial da Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar).
Para o Banco Mundial, que presta consultoria para o sistema de previdência complementar no Brasil, a redução da taxa de juros no Brasil representa o maior desafio que a indústria de fundos de pensão tem no país. Segundo Dimitri Vittas, consultor do Banco Mundial, uma solução para as fundações seria reduzir o juro real pago pelos planos de 6% para 3% ao ano. "Essa é uma tendência mundial."
O que dá um pouco mais de tranquilidade aos gestores é o fato de os fundos de pensão terem passado pelo menos os últimos cinco anos preocupados em formar um colchão de proteção com títulos públicos de vencimento daqui a décadas. Na Previ, por exemplo, 40% da carteira de renda fixa está alocada em papéis públicos de longo prazo que dão um rendimento real de 8% ao ano.
A repórter viajou a convite da Abrapp
Valor Econômico
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