Bancos de varejo estimulam caderneta com crescimento do crédito imobiliário
Aline Lima e Adriana Cotias De São Paulo
16/11/2010
Aline Lima e Adriana Cotias De São Paulo
16/11/2010
O processo de bancarização da sociedade brasileira começa a produzir reflexos na forma como as instituições financeiras obtêm recursos para emprestar. Na estrutura de captação dos bancos de varejo, os depósitos a prazo têm perdido velocidade e é a caderneta de poupança que aparece com maior ritmo de crescimento.
A poupança tem tido estímulo direto na rede bancária para fazer frente ao escoamento do crédito imobiliário. Os bancos não têm incentivado as captações em CDB a não ser para atender a demandas pontuais para a carteira comercial, uma vez que a farta liquidez internacional tem colaborado para a disponibilidade de recursos.
Essa fotografia pôde ser observada nas demonstrações financeiras de Bradesco, Itaú Unibanco e Santander, os três grandes bancos que divulgaram seus resultados do terceiro trimestre até agora. Somados, os estoques em poupança das instituições cresceram 23% nos 12 meses encerrados em setembro, para R$ 132,9 bilhões. Embora o saldo de depósitos a prazo seja mais do que o dobro disso (R$ 275,1 bilhões), ele sofreu, nesse mesmo intervalo de tempo, uma redução de 8%.
Para intensificar a oferta de cadernetas de poupança, o Santander, por exemplo, dispensou valor mínimo para abertura de conta e reduziu a quantia da programação mensal de depósitos para R$ 10. A estratégia tem por objetivo suportar a demanda por crédito imobiliário, linha que apresenta forte expansão e deve manter o ritmo acelerado nos próximos anos. Muitos empreendimentos, depois do ciclo de investimento, estão entrando em fase de maturação, o que requer financiamento ao mutuário. "E esse é um produto que representa relacionamento de longo prazo com o cliente", lembra Edson Franco, superintendente executivo de investimentos do banco.
De tudo que os bancos captam na poupança, 65% é direcionado para o crédito imobiliário e 30% o Banco Central retém na forma de compulsório, até para fazer frente ao descasamento de prazos da caderneta, com liquidez em 30 dias, e o crédito imobiliário, com até 30 anos, explica Luiz Antônio França, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito e Poupança (Abecip). Outros 5% são de uso livre.
Os depósitos em poupança no Santander alcançaram R$ 27,9 bilhões em setembro, evolução de 22% em relação ao mesmo mês de 2009. Franco conta que o maior crescimento ocorreu justamente no segmento de menor renda. "A simplicidade do produto e o fato de ser o investimento mais conhecido da população brasileira foram fatores importantes na escolha para o segmento", diz. "Mas é preciso respeitar a decisão e o perfil do cliente investidor", ressalta.
Os depósitos a prazo, em compensação, caíram 24,9% no Santander nos 12 meses encerrados em setembro. Com a farta liquidez internacional, os bancos não têm incentivado captações em CDB, a não ser para atender demandas pontuais para a carteira comercial, segundo o analista da Austin Rating Luiz Miguel Santacreu. Nas empresas de pequeno e médio portes, há mais procura por capital de giro nessa época do ano para pagamento do 13º salário e renovação de estoques para o Natal.
Não à toa, os depósitos a prazo mostraram reação nesse terceiro trimestre. No Santander, eles cresceram 9,8% na comparação entre o terceiro e o segundo trimestres. No Bradesco, boa parte da velocidade foi imprimida no terceiro trimestre, quando se verifica uma evolução de 4,5% ante o crescimento de 4,9% no período de 12 meses encerrado em setembro. No Itaú Unibanco, a expansão de 1,2% dos depósitos a prazo no terceiro trimestre contribuiu para que o desempenho não ficasse negativo em relação a setembro de 2009 (o ganho acumulado nessa linha, em 12 meses, foi de apenas 0,1%).
Valor Econômico
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