Depois de cair tanto, mesmo após o processo de capitalização, há quem avalie que momento seria de compra dos papéis da estatal.
Por Antonio Perez De São Paulo
25/10/2010
Por Antonio Perez De São Paulo
25/10/2010
O inferno astral da Petrobras parece não ter fim. Alvejada por relatórios negativos de grandes bancos e escaramuças eleitorais, a ação preferencial (PN, sem voto) da estatal caiu 7,9% na semana passada, levando o tombo no ano a 32,5% e o papel para o menor nível desde março de 2009. Tamanha queda faz sentido? Depois de tanto apanhar, o papel já não estaria barato? Para muitos analistas a ação da Petrobras representa uma ótima oportunidade de investimento e a estatal, apesar de todos os problemas que cercaram a capitalização, não merecia ser transformada na "Geni" da bolsa.
A ação da Petrobras está em um nível muito atraente, sobretudo para o investidor de longo prazo, que espera obter ganhos num período de um ou dois anos, afirma Alexandre Espírito Santos, economista da Way Investimentos e diretor do curso de Relações Internacionais da ESPM-RJ. "A Petrobras está apenas sendo punida por questões momentâneas, como o medo do uso político da empresa, mas os fundamentos da companhia são sólidos", afirma o economista.
Espírito Santo ressalta que o múltiplo Preço/Lucro (P/L, que dá uma ideia do prazo do retorno dos investimentos) da estatal estimado para 2011 está por volta de 8 vezes, abaixo das petroleiras internacionais. "É um nível muito atraente, que indica que o papel pode estar barato", diz o economista, que vê o P/L justo da Petrobras por volta de 12 vezes. E para o P/L se ajustar ao "nível justo", ressalta Espírito Santo, o preço do papel (o P da fórmula) tem que subir.
Ele lembra que a desvalorização das ações da estatal antes da megacapitalização era esperada, dado que os investidores queriam comprar os papéis a preços menores na oferta. O que não faz muito sentido são as quedas recentes, diz Espírito Santo, ressaltando que os problemas apontados por alguns bancos para diminuir os preços-alvos da ação - como aumento do risco de ingerência política e diluição dos minoritários - já eram para lá de conhecidos. "É claro que existe um problema da governança, mas eu acho que o risco de a empresa perder o rumo e virar uma espécie de Eletrobras (estatal do setor elétrico) é muito pequeno", afirma.
O potencial de ganho com as reservas de petróleo do pré-sal, que fazem da Petrobras a petroleira mais promissora do mundo, superam de longe o chamado "risco político", avalia Espírito Santo. "Não dá para ignorar as enormes jazidas de petróleo descobertas e a capacidade técnica da Petrobras para explorar essas reservas", diz. "Quem quer montar uma carteira de ações para o médio prazo não pode desprezar as ações da Petrobras".
O movimento recente de queda dos papéis da Petrobras foi exagerado, avalia em relatório do Santander Vicente Falanga Neto. "As questões levantadas pelo mercado (para derrubar as ações da companhia) não representam nenhuma novidade, isto é, já estavam 'precificadas' nas ações", afirma o analista, que na semana passada reiterou a recomendação de compra paras as PNs da estatal, com preço-lavo de R$ 41,65 para o fim de 2011. Isso embute um potencial de valorização de 72% ante o fechamento de sexta, a R$ 24,21.
Ele lembra que a influência do governo na estatal só aumentou nos últimos anos e, mesmo assim, a Petrobras "superou a maior parte de seus pares globais nesse período". E o governo já havia afirmado há mais de um ano que aproveitaria a oferta para elevar sua participação no capital da empresa. Ou seja, a diluição dos minoritários não deve servir de álibi para a derrubada do papel este mês.
O analista ressalta que o próprio governo será castigado caso haja uma politização forte da gestão da companhia. Se a geração de fluxo de caixa da Petrobras cair em razão de investimentos em projetos menos rentáveis, diz o analista, o governo ganharia menos dividendos e, sobretudo, perderia a confiança dos investidores privados, que ainda são essenciais. "Os mercados de capitais e dívida podem perder a confiança em financiar a empresa", afirma. "E sem esse capital, o governo não teria condições de concretizar seu 'sonho do pré-sal'."
A queda recente das ações também não pode ser atribuída ao risco de execução, que já era conhecido pelo mercado, diz o analista do Santander. Ele ressalta que a empresa vem trabalhando no desenvolvimento do processo de exploração no pré-sal desde 2007 e já começou a produção no campo de Tupi. "A empresa já possui o know-how operacional e histórico de transformação de barris em fluxo de caixa, em um país com baixo risco geopolítico", afirma Falanga Neto, lembrando, contudo, que o potencial de alta decorrente dos 5 bilhões de barris vem após o quarto ano (de exploração). "Essa é uma história que exige um pouco de paciência, mas que oferece um potencial de alta."
Na contramão de outras instituições internacionais, como Barclays e Morgan Stanley, que rebaixaram a recomendação para as ações da Petrobras, o Bank of America Merrill Lynch reiterou na semana passada a recomendação de compra para as ações preferenciais da Petrobras. O preço-alvo estimado é de R$ 49 por papel preferencial, o que significa uma valorização esperada de 102,4%.
O crescimento potencial está acima dos pares globais", destaca a instituição, em relatório assinado pelos analistas Frank McGann e Conrado Vegner. Eles estimam um múltiplo P/L de 7,7 vezes para Petrobras em 2011 e 2012, o que torna o papel da estatal brasileiro muito "descontado". "As preocupações do mercado se referem a eventos que já aconteceram, como a própria capitalização", afirmam. "Os investidores devem olhar para frente, o crescimento da empresa e o potencial de retorno são notavelmente maiores do que se esperava antes da capitalização."
Parte do mercado vê o investimento da Petrobras na produção de refino, por exemplo, como uma decisão política, já que a atividade é menos rentável que a de exploração. Para os analistas do BofA, o risco de investimento em refino já é conhecido e não pode servir de gatilho para uma desvalorização dos papéis.
Os investidores também não devem se preocupar com a gestão da Petrobras após o fim do governo do presidente Lula, avaliam os analistas. Uma vitória de Dilma Rousseff, a candidata governista, garante a continuidade na linha de condução da companhia, até porque Dilma foi presidente do conselho de administração da estatal.
Caso o tucano José Serra seja o vencedor, o papel pode até se beneficiar da perspectiva de que o governo seja "menos agressivo" em projetos de investimento com retorno menor. "Os investimentos da Petrobras já estão bem definidos por um plano estratégico, e não sofrerão grandes alterações mesmo se Serra ganhar as eleições."
Do lado externo, o preço do petróleo, outro ponto-chave para o sucesso da Petrobras, também deve permanecer em um nível que dê suporte aos planos da companhia. "Com a expansão monetária nos Estados Unidos, espera-se um ambiente de alta liquidez", afirmam os analistas do BofA.
Valor Econômico
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