Educação financeira em pauta
A saúde financeira da população de um país é tão importante que a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu a expressão na lista de itens que colaboram para a saúde individual. Por isso, é hora de o Brasil tratá-la como questão de saúde pública, tanto nas famílias como nas escolas, segundo professor do Ibmec São Paulo.A administração das finanças pessoais é um assunto que deveria começar a ser discutido nas escolas brasileiras. Essa foi a opinião contundente de Ricardo Humberto Rocha, professor do Ibmec São Paulo, em sua palestra na ExpoManagement 2007. “Há mais de dez anos estive no Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, e eles já tinham um trabalho feito nas escolas, com cartilhas e revistas em quadrinhos, ensinando às crianças o que é política monetária”, explicou. Tão importante é o assunto, segundo ele, que a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu a expressão “saúde financeira” na lista de itens que colaboram para a saúde individual. “Quando o indivíduo tem as finanças em ordem, ele toma decisões e enfrenta melhor as adversidades. E isso ajuda não só nos estudos, mas também nos aspectos familiares”, afirmou Rocha.Para o professor, a educação financeira é um processo trabalhoso, porque contínuo, complexo e requer esforço para ser compreendido, mas é fundamental, já que se mostra obrigatório entender o mundo em que se vive e os riscos do sistema financeiro. “Devo elogiar a mídia no Brasil, que tem se esforçado para fazer matérias didáticas sobre o assunto –informações existem e muitos dizem que hoje só não sabe quem não quer. A questão é: nós estamos preparados para entendê-las?”, disse ele. “Antes a família se reunia e tentava entender o mundo. Esse processo foi interrompido e hoje a família terceirizou para a escola a educação de seus filhos. Porém a escola não tem condições de ensinar tudo o que a família ensinava. A escola precisa começar a preparar as pessoas para procurar oportunidades e não para procurar um emprego. E os profissionais do mercado financeiro que estão sendo formados precisam ser pessoas que minimizem o atrito entre o cliente e o mercado financeiro, pessoas mais bem preparadas.”Isso faz sentido em um mundo em que as pessoas estão vivendo mais e precisam de um planejamento financeiro de longo prazo. “Temos de começar a pensar em um processo atemporal de poupança, em investimentos para a próxima geração. Isso passa pela transmissão de valores éticos e fiduciários, especialmente quando se trata da gestão dos recursos alheios. Em países como Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Chile, por exemplo, isso é uma realidade. No Chile, o sistema previdenciário foi extinto ainda no governo Pinochet. Sem o grande pai, as pessoas tiveram de começar a programar seu futuro.”
PAPÉIS DA ESCOLA E DA FAMÍLIADiante de tudo isso, a família e o professor têm papel fundamental na mudança dessa concepção, especialmente diante de alguns postulados que já se tornaram parte da cultura brasileira. A família precisa voltar a aprofundar suas ligações e criar vínculos com o sucesso, além de fornecer modelos, acredita Rocha. “E o papel do professor é de mediador, também a partir do exemplo.”Segundo ele, entre as idéias que merecem reflexão estão:
Eliminar o complexo de Macunaíma. “Se admito que meu filho cole em uma prova, não posso reclamar se for roubado. Há pessoas que já ensinam a aproveitar: ‘Se não sabe, vê se cola, que eu tô pagando’.”
Quebrar o arquétipo de que aqui quem tem privilégios se dá bem. Não se pode desestimular desde o princípio.
Elevar o padrão psíquico. “As pessoas precisam ser vencedoras. A família precisa encontrar o hábito de conversar sobre o mundo.”
Rocha deu o exemplo de dois países que reverteram padrões éticos e psíquicos de sua população recentemente: a Coréia do Sul, a partir da Guerra da Coréia, investiu maciçamente em educação; e a Finlândia, país neutro na Guerra Fria, com uma ditadura de direita e um dos países mais corruptos da Europa, hoje tem um dos menores graus de corrupção do mundo, depois de forte investimento em educação.
Rocha, Ricardo Humberto
O autor é professor do Ibmec São Paulo. Esta matéria foi apresentada na ExpoManagement 2007 e foi coberta por Lizandra Magon de Almeida, colaboradora da HSM Management Update.
http://www.hsm.com.br
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