Cartões: Brasileiro faz, em média, só 10 transações por ano, mas futuro é promissor
Adriana Cotias, de São Paulo 02/08/2010
Pouco usados no Brasil, apesar de, em quantidade, representarem a maior base entre os meios eletrônicos de pagamentos, os cartões de débito ensejam um futuro promissor, que contrasta com o quadro de ineficiência atual, apontado pelo Banco Central (BC) no seu diagnóstico sobre o setor. A última versão do documento traz que, dos 221,4 milhões de cartões de débito emitidos no Brasil até o último trimestre de 2009, só 57,7 milhões - ou seja, menos de um terço - estavam ativos. O uso também se mostra aquém do potencial. Cada cartão de débito realiza, em média, só 10 transações por ano, número significativamente inferior ao que se observa nas economias desenvolvidas, com 67 transações anuais. Essa conta, no caso do crédito, é mais favorável: são 18 transações aqui para 24 nos desenvolvidos.
Estudo mundial da First Data coloca o país, ao lado da Índia, como um dos emergentes de maior crescimento. Na onda da bancarização proporcionada pela ascensão social, as estimativas feitas pela Accenture são de que as transações vinculadas diretamente à conta bancária, que movimentaram R$ 129 bilhões em 2009, alcancem R$ 145,5 bilhões neste ano e deem um salto a R$ 205 bilhões em 2014.
Para tal evolução devem contribuir as novas bandeiras genuinamente nacionais: a elo, criada por Bradesco e Banco do Brasil, com uma linha de produtos desenhada para a população de baixa renda, que inclui cartões pré-pagos; além do tão esperado cartão da Caixa Econômica Federal, ainda no papel.
As instituições financeiras no Brasil nunca chegaram a incentivar abertamente o uso do débito. Como essas unidades movimentam valores pequenos e são menos rentáveis, as ações de marketing e mesmo a inteligência de prevenção a fraudes foram endereçadas prioritariamente aos cartões de crédito, aponta a presidente da First Data, Maria Fernanda Teixeira. Com a entrada das classes menos favorecidas da população no sistema financeiro formal, a tendência é que o débito passe a movimentar volumes maiores do que o crédito, diz. "Os bancos podem tirar proveito desse meio de pagamento para vender outros produtos."
Em alguma medida isso já vem sendo feito. O Bradesco, por exemplo, incorporou ao Visa Electron uma linha de crédito direto ao consumidor (CDC) que o cliente ativa no próprio terminal de pagamentos do lojista, parcelando a compra em até 40 meses, conta Márcio Parizotto, responsável pela área de produtos da Bradesco Cartões. O cartão BNDES, usado para compra de insumos e serviços pelas pequenas e médias empresas, também roda na plataforma de débito da Visa. "Ao se adicionar serviços, se aumenta a penetração e a rentabilidade da operação", diz.
Apesar dos esforços, do total de 55,9 milhões de cartões de débito emitidos pela instituição, a base ativa não foge muito da média do mercado. Para Parizotto, o próprio sucesso do cartão de crédito acaba induzindo à fraca performance do débito. "A modalidade de crédito é muito pujante em todas as classes sócio-econômicas, já é massificado. O brasileiro, mesmo antes de consumir um produto bancário, já tem um 'private label' na mão."
Entre os novos entrantes há ainda uma barreira cultural a transpor, acrescenta Denílson Molina, diretor de cartões do BB. Segundo conta, uma pesquisa do banco diagnosticou que não é incomum o cliente sacar nos caixas eletrônicos (ATM) para pagar suas compras com dinheiro, muitas vezes nos próprios terminais que ficam dentro de supermercados. "É um público que ainda desconhece o uso, acha que vai ser tarifado só porque é cartão. É um comportamento muito visto entre os beneficiários do INSS", exemplifica.
O BB já chegou a ter mais cartões de débito do que de crédito na sua base ativa. Os programas de fidelidade, que normalmente pontuam somente as faturas de crédito, foram estendidos às compras com débito diretamente da conta corrente. Com ações como essa, dos 58 milhões de cartões de débito, a ativação acabou ficando acima da média do mercado, em torno de 40%. Mas o foco recente tem sido aumentar o uso dos cartões de crédito, que é o segmento em que o banco ganha dinheiro, acrescenta Molina.
O hábito de carregar dinheiro está arraigado no brasileiro, especialmente entre a população de baixa renda, aponta o diretor da área de cartões do Santander, Cassius Schymura. "É muito comum, nos dias de pagamento de salário, a gente observar o saque de R$ 1 mil no ATM, que é o limite possível por dia, e o cliente passa a gerenciar o orçamento separando dinheiro em envelopes. Há a impressão de que, se o dinheiro ficar na conta corrente, ele não tem a gestão." Outro desafio, continua, é expandir a rede de aceitação, com as credenciadoras chegando ao pequeno comércio e às periferias. No Santander, da base de 12 milhões de cartões de débito emitidos, uma proporção de 25% está ativa.
Adriana Cotias, de São Paulo 02/08/2010
Pouco usados no Brasil, apesar de, em quantidade, representarem a maior base entre os meios eletrônicos de pagamentos, os cartões de débito ensejam um futuro promissor, que contrasta com o quadro de ineficiência atual, apontado pelo Banco Central (BC) no seu diagnóstico sobre o setor. A última versão do documento traz que, dos 221,4 milhões de cartões de débito emitidos no Brasil até o último trimestre de 2009, só 57,7 milhões - ou seja, menos de um terço - estavam ativos. O uso também se mostra aquém do potencial. Cada cartão de débito realiza, em média, só 10 transações por ano, número significativamente inferior ao que se observa nas economias desenvolvidas, com 67 transações anuais. Essa conta, no caso do crédito, é mais favorável: são 18 transações aqui para 24 nos desenvolvidos.
Estudo mundial da First Data coloca o país, ao lado da Índia, como um dos emergentes de maior crescimento. Na onda da bancarização proporcionada pela ascensão social, as estimativas feitas pela Accenture são de que as transações vinculadas diretamente à conta bancária, que movimentaram R$ 129 bilhões em 2009, alcancem R$ 145,5 bilhões neste ano e deem um salto a R$ 205 bilhões em 2014.
Para tal evolução devem contribuir as novas bandeiras genuinamente nacionais: a elo, criada por Bradesco e Banco do Brasil, com uma linha de produtos desenhada para a população de baixa renda, que inclui cartões pré-pagos; além do tão esperado cartão da Caixa Econômica Federal, ainda no papel.
As instituições financeiras no Brasil nunca chegaram a incentivar abertamente o uso do débito. Como essas unidades movimentam valores pequenos e são menos rentáveis, as ações de marketing e mesmo a inteligência de prevenção a fraudes foram endereçadas prioritariamente aos cartões de crédito, aponta a presidente da First Data, Maria Fernanda Teixeira. Com a entrada das classes menos favorecidas da população no sistema financeiro formal, a tendência é que o débito passe a movimentar volumes maiores do que o crédito, diz. "Os bancos podem tirar proveito desse meio de pagamento para vender outros produtos."
Em alguma medida isso já vem sendo feito. O Bradesco, por exemplo, incorporou ao Visa Electron uma linha de crédito direto ao consumidor (CDC) que o cliente ativa no próprio terminal de pagamentos do lojista, parcelando a compra em até 40 meses, conta Márcio Parizotto, responsável pela área de produtos da Bradesco Cartões. O cartão BNDES, usado para compra de insumos e serviços pelas pequenas e médias empresas, também roda na plataforma de débito da Visa. "Ao se adicionar serviços, se aumenta a penetração e a rentabilidade da operação", diz.
Apesar dos esforços, do total de 55,9 milhões de cartões de débito emitidos pela instituição, a base ativa não foge muito da média do mercado. Para Parizotto, o próprio sucesso do cartão de crédito acaba induzindo à fraca performance do débito. "A modalidade de crédito é muito pujante em todas as classes sócio-econômicas, já é massificado. O brasileiro, mesmo antes de consumir um produto bancário, já tem um 'private label' na mão."
Entre os novos entrantes há ainda uma barreira cultural a transpor, acrescenta Denílson Molina, diretor de cartões do BB. Segundo conta, uma pesquisa do banco diagnosticou que não é incomum o cliente sacar nos caixas eletrônicos (ATM) para pagar suas compras com dinheiro, muitas vezes nos próprios terminais que ficam dentro de supermercados. "É um público que ainda desconhece o uso, acha que vai ser tarifado só porque é cartão. É um comportamento muito visto entre os beneficiários do INSS", exemplifica.
O BB já chegou a ter mais cartões de débito do que de crédito na sua base ativa. Os programas de fidelidade, que normalmente pontuam somente as faturas de crédito, foram estendidos às compras com débito diretamente da conta corrente. Com ações como essa, dos 58 milhões de cartões de débito, a ativação acabou ficando acima da média do mercado, em torno de 40%. Mas o foco recente tem sido aumentar o uso dos cartões de crédito, que é o segmento em que o banco ganha dinheiro, acrescenta Molina.
O hábito de carregar dinheiro está arraigado no brasileiro, especialmente entre a população de baixa renda, aponta o diretor da área de cartões do Santander, Cassius Schymura. "É muito comum, nos dias de pagamento de salário, a gente observar o saque de R$ 1 mil no ATM, que é o limite possível por dia, e o cliente passa a gerenciar o orçamento separando dinheiro em envelopes. Há a impressão de que, se o dinheiro ficar na conta corrente, ele não tem a gestão." Outro desafio, continua, é expandir a rede de aceitação, com as credenciadoras chegando ao pequeno comércio e às periferias. No Santander, da base de 12 milhões de cartões de débito emitidos, uma proporção de 25% está ativa.
Valor Econômico
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