Mercado financeiro: perspectivas da semana

por Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin
23/11/2009
Material elaborado pelo economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto, apresenta os destaques
Repetindo a tendência observada nas últimas semanas, a segunda-feira se inicia sob ambiente positivo nos mercados internacionais. Desta vez, o bom humor é justificado por sinais de que a política monetária norte-americana seguirá expansionista por longo período, após declarações de membros do Federal Reserve. Neste contexto, o dólar volta a se depreciar, dando fôlego aos preços de commodities.
A Bovespa não operou na sexta-feira, fechando a semana passada com ganho acumulado de 1,5%, aos 66.327 pontos, menos de 1.000 pontos abaixo da máxima do ano alcançada há cerca de um mês. Há boa possibilidade da bolsa retornar para este pico em breve, embora com volatilidade e sem espaço para ir muito além disso no curto prazo. O ambiente externo tem oscilado de maneira significativa, refletindo receios diante da inconsistente recuperação da atividade econômica global no pós-crise.
A este respeito, nota-se que o bom desempenho dos preços de ativos de mercado nos últimos meses tem decorrido muito mais da excessiva liquidez existente, do que da confiança em relação à retomada do crescimento global. Ou seja, diante de taxas de juros muito reduzidas, os investidores têm aceitado um maior nível de risco, especialmente em ativos de países cujos sinais econômicos têm sido mais sólidos – como é o caso do Brasil.
Nos EUA, os dados recentes sugerem que a melhora da economia ainda está muito dependente de programas de estímulos do governo, como nos casos dos setores imobiliário e automotivo. A recuperação está em curso, mas sua chegada ao mercado de trabalho é lenta e impede a reativação de um círculo virtuoso mais dinâmico. Esta semana será marcada por um evento crucial na avaliação das perspectivas para a maior economia do mundo: após o feriado de Ação de Graças nesta quinta, ocorre a chamada “Black Friday”, que marca o início da temporada das vendas de Natal. O desempenho do varejo neste dia é considerado o principal termômetro do consumo no país, e será monitorado de perto pelos mercados.
No Brasil, prossegue o comportamento favorável dos indicadores de atividade, como observado nos números do Caged de outubro, cuja criação de vagas formais de trabalho foi a maior para este mês da série histórica. O mercado interno segue como importante motor da retomada da economia do país, que deverá levar a um forte ritmo de expansão do PIB em 2010 – embora com riscos de desequilíbrios (contas públicas, contas externas e inflação).
A agenda da semana é intensa em relação a dados econômicos. Nos EUA, a agenda fica concentrada até a quarta-feira por conta do feriado na quinta, e reúne dados do PIB, preços e vendas de imóveis, pedidos de bens duráveis, confiança do consumidor e gastos pessoais. Por aqui, merecem acompanhamento os números do crédito, resultado do setor público, contas externas, taxa de desemprego e índices de inflação.
Nos mercados, o início positivo que se apresenta para a semana não deve evitar a ocorrência de volatilidade nos preços, diante da agenda carregada no exterior.
Para Ficar Atento – Drivers da Semana
Taxa de desemprego – BRA: Após os dados positivos do Caged na última semana, o IBGE anunciará na quinta-feira a taxa de desemprego referente a outubro, que deve ter ficado próxima da observada em setembro (7,7%). As novas contratações vão sendo, por enquanto, compensadas pelo natural retorno das pessoas ao mercado de trabalho, o que amplia a PEA e limita a redução da taxa. De todo modo, o período é favorável ao emprego, inclusive por aspectos sazonais.
Crédito – BRA: O Banco Central anuncia na quarta-feira os números referentes às operações de crédito de outubro. Em geral, devem manter a tendência de aceleração do ritmo dos empréstimos totais e concessões diárias, embora com diferenças no comportamento entre os tomadores (desempenho mais fraco para PJ) e entre fornecedores (instituições públicas ainda predominam, embora as privadas devam começar a recuperar terreno).
Contas Externas – BRA: Diante do saldo comercial fraco em outubro, o déficit em transações correntes deve ter crescido neste mês (projetamos US$ 2,5 bilhões). Porém, as fortes entradas pela conta financeira (IED e carteira) provavelmente mais do que compensaram, deixando o balanço de pagamentos superavitário.
Thanksgiving Day / Black Friday – EUA: Nesta quinta será o feriado do Dia de Ação de Graças nos EUA, com os mercados permanecendo fechados no país. Na sexta ocorre a tradicional Black Friday, quando tradicionalmente se inicia o período de vendas de Natal – o desempenho das vendas neste dia é considerado um importante termômetro da força do consumo, tendo reflexos nas bolsas nos dias seguintes.
Atividade - EUA: Diversos indicadores de atividade saem até a véspera do feriado nos EUA. Destaque para a revisão inicial do PIB do 3º trimestre, gastos pessoais, pedidos de bens duráveis e índice de confiança do consumidor.
Setor Imobiliário – EUA: Dados de vendas de casas existentes e índice de preços de casas S&P Case-Shiller serão divulgados no início da semana, sendo bons sinalizadores do ritmo de recuperação do setor imobiliário do país.
Mercado de trabalho – Caged aponta melhor outubro da história
Os números do Ministério do Trabalho confirmaram a retomada das contratações em ritmo similar ao pré-crise em outubro, que inclusive teve o melhor desempenho para este mês da série histórica. A indústria foi o setor que mais contratou em outubro, ratificando a reação do setor, que foi o mais negativamente afetado no auge da crise externa.
Com as quase 231 mil vagas líquidas formais de trabalho criadas em outubro, o ano de 2009 já apresenta a geração de 1,16 milhão de novos empregos, desempenho abaixo do registrado no mesmo período de 2008 (2,15 milhões), mas muito positivo se for levado em consideração o contexto de pós-crise e a intensa recuperação nos últimos meses – o resultado de outubro foi o melhor para este mês de toda a série histórica (desde 1999).
Entre os setores, a maior contribuição para o resultado do mês veio da indústria de transformação, com 74,5 mil empregos – justamente o mais afetado no auge da crise, e que apresentou a maior demora em reagir. No acumulado do ano o setor com melhor desempenho é o de serviços, com 481 mil vagas abertas, seguido pela construção civil e comércio.
O retorno das contratações representa mais um sinal importante de retomada da atividade industrial no país. Após a fase de demissões, que acumularam 500 mil entre nov/08 e mar/09, período onde a produção cedeu de 10% a 15% em termos anuais, os meses recentes têm mostrado crescimento da produção na margem (com desaceleração das quedas anuais) e retorno das contratações – já somam 264 mil nos últimos 3 meses.
Nos demais segmentos de atividade, as perspectivas também são positivas para 2010. A construção civil será beneficiada pelo reaquecimento do mercado imobiliário e pelo aumento das obras e programas públicos. Os setores de serviços e comércio, por sua vez, são fortemente impactados pela crescente intensidade da demanda interna, cada vez mais fortalecida pelos ganhos de renda real, expansão do crédito e pelo próprio bom desempenho do mercado de trabalho, gerando um ciclo virtuoso que deverá permitir o expressivo crescimento da economia no próximo ano.
Neste contexto, a taxa de desemprego deve seguir com tendência de baixa nos próximos meses, embora tal movimento seja limitado pelo aumento do número de pessoas buscando uma vaga. Por outro lado, apesar do aspecto claramente benigno do aquecimento do mercado de trabalho, há um risco neste processo, que consiste no amplamente conhecido problema da escassez de mão-de-obra qualificada em alguns setores, o que se configura em mais um fator limitador (gargalo) ao crescimento sustentado do país. Sendo assim, novos investimentos em melhoria na qualidade de ensino e na qualificação dos trabalhadores são cada vez mais urgentes.
Índices de Inflação e Expectativas Futuras
A alta dos preços agrícolas levou os IGPs novamente ao terreno positivo, embora com variações reduzidas, diante do bom comportamento dos demais componentes dos índices. Os IPCs estão em moderada aceleração, com o fim da deflação dos alimentos e com pressões sazonais de final de ano, mas sem alterar o cenário benigno no curto prazo.
Sem grandes surpresas, os IPCs mantiveram a trajetória de ligeira aceleração, enquanto os índices gerais voltaram a exibir pequenas variações positivas, diante da alta dos preços agrícolas. As pressões observadas em itens como cana-de-açúcar, batata, tomate e milho proporcionaram a aceleração do IPA agrícola, o que foi fundamental para reverter a deflação recente dos IGPs. O IGP-10 de novembro e a 2º prévia do IGP-M apresentaram altas de 0,07% e 0,09% respectivamente, variações controladas pelo comportamento benigno dos preços industriais no atacado, e também dos demais componentes do índice (IPC e INCC).
O fato do IPA industrial se manter próximo de zero – até com ligeiras deflações – é um sinal importante de que não há fatores pressões de curto prazo nos preços aos consumidores, dada a grande correlação (com alguma defasagem temporal) existente entre os índices.
Em 2009 os IGPs encerrarão o ano com deflação pela primeira vez na história. Até novembro, o IGP-10 acumula queda de 1,62%, enquanto o IGP-M (até a 2º prévia) tem variação negativa de 1,48%. Isto também terá influência benigna sobre os IPCs através de reajustes menores de preços atrelados aos IGPs, como aluguéis e tarifas de determinados serviços públicos.
Entre os índices ao consumidor, o IPC-Fipe teve alta de 0,34% na segunda quadrissemana do mês, acima do observado no levantamento anterior (0,31%). Por um lado, o grupo alimentação contribuiu para a aceleração do índice, ao praticamente eliminar a deflação recente. Por outro, os grupos que sofreram fortes pressões nas últimas semanas (habitação e transportes) já passaram a exibir variações menores.
Já o IPC-S da 3º semana de novembro divulgado nesta manhã também seguiu trajetória semelhante, ao mostrar alta de 0,22%, pouco superior à registrada na 2º semana (0,20%). O comportamento dos grupos não foi diferente do indicado acima no caso da Fipe, com alimentação acelerando para 0,13% (de 0,01%), enquanto os grupos habitação e transportes perderam fôlego, com variações de 0,26% e 0,33% respectivamente. Refletindo aspectos sazonais, os itens de vestuário subiram 0,82% na semana, sendo o grupo de maior elevação no período.
Outros índices de inflação serão divulgados na seqüência desta semana: IPCA-15, IGP-M e 3º quadri da Fipe.
Expectativas Futuras: Houve apenas um pequeno ajuste na mediana das projeções para o IPCA em 2010, com ligeira alta para 4,43% (de 4,41%) de acordo com o Boletim Focus divulgado nesta manhã. Ao longo das últimas semanas não foram verificadas alterações significativas nas expectativas inflacionárias, que seguem ligeiramente abaixo da meta.
Economia Internacional
A recuperação da economia norte-americana segue instável, com dados ainda controversos e sem indicar consistência. Houve boa melhora nos meses subseqüentes à pior fase da crise, porém os dados mais recentes sugerem dificuldades na continuidade deste movimento. Com isso, há pouco espaço para a retirada dos estímulos nos próximos meses.
Estados Unidos: A última semana marcou a divulgação de diversos índices de atividade no país, sem apresentar uma tendência clara. Após um período de números melhores, dados recentes sugerem ainda pouca consistência, tanto no consumo, como no setor imobiliário e na indústria.
Após 3 meses de crescimento mais forte, a indústria apresentou estabilidade em outubro na margem (+0,1% ante setembro), porém com uma queda mais intensa em relação ao outubro de 2008 (7,1%, ante recuo de 5,9% em setembro). Os índices regionais de atividade industrial de novembro, por sua vez, apontaram sinais distintos: enquanto o Empire de NY recuou inesperadamente para 23,5 pontos (de 34,6), o índice do Fed Philadelphia subiu para 16,7, após ter recuado em outubro.
No setor imobiliário, as obras residenciais iniciadas tiveram inesperada queda de 10% em outubro (M/M), enquanto as permissões de novas obras recuaram 4% na mesma base de comparação. A explicação para este desempenho frágil pode estar na preocupação das famílias quanto à manutenção dos incentivos do governo aos compradores de imóveis, cuja validade seria até o final de novembro – recentemente foi definida pela extensão do programa para abril/2010, o que deve possibilitar números melhores em novembro.
O setor varejista mostrou dados apenas moderados em outubro. Apesar do crescimento na margem de 1,4%, este dado veio em cima de uma revisão para pior no resultado de setembro (de -1,5% para -2,3%). Adicionalmente, quando se exclui bens relacionados a transportes, a expansão cai para apenas 0,2%. Na comparação anual, o ritmo de queda segue desacelerando, o que sugere a possibilidade de voltar a crescer em breve.
Tais indicadores sinalizam que ainda está distante o momento em que o Federal Reserve deverá iniciar o processo de retirada dos estímulos monetários concedidos, cenário que acaba mantendo a tendência de enfraquecimento global do dólar.
Para esta semana, a agenda reserva a divulgação de dados econômicos até a quarta-feira, já que na quinta será comemorado o feriado de Ação de Graças. Até lá, serão conhecidos números referentes ao PIB, vendas e preços de imóveis, consumo pessoal, pedidos de bens duráveis, confiança do consumidor e a ata da última reunião do FOMC.
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