Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia de 2008, é conhecido por traduzir a linguagem econômica para as pessoas que não têm grande intimidade com a área. É, por isso, elogiado e criticado. Questiona diversos aspectos da teoria econômica, entre eles a vertente que não leva em conta as pessoas, variáveis não muito racionais, como agentes de imperfeição dos mercados financeiros e das tão faladas “bolhas”. Para ele, a economia keynesiana é a que oferece o melhor arsenal para tratar das recessões, e a realidade financeira deve penetrar a macroeconomia. Por tudo isso, é elogiado e criticado também.
Polêmicas à parte, não se pode negar que Krugman, em relação à crise mundial, é um daqueles que pode até dizer “eu avisei!”. Diferentemente de diversos de seus colegas, ele não havia considerado que fortes recessões fossem coisa do passado, tanto que, lançou, há cerca de dez anos, O Retorno da Grande Depressão. Uma grande depressão (nos moldes da que os americanos viveram a partir do crash da bolsa em 1929 até o final da Segunda Guerra Mundial) não retornou, mas os sinais de problemas estavam lá para quem pudesse e quisesse ver. Krugman os viu.
Veio a crise mundial e seu livro, muito apropriado para o momento, foi reeditado com o título A Crise de 2008 e a Economia da Depressão. “Este é um livro sobre economia”, diz ele. “Mas a economia, inevitavelmente, acontece no contexto político”, continua, dando o tom de multidisciplinaridade do seu pensamento. Para ele, o capitalismo triunfou (sobre o socialismo), não somente pelos méritos do sistema de mercado, que carrega consigo iniquidade e injustiça, mas porque não há, hoje, alternativa plausível a esse sistema.
Ele deixa, contudo, um alerta “A situação durará para sempre. Certamente haverá outras ideologias, outros sonhos; e eles emergirão, se a atual crise econômica persistir e se aprofundar”.
Governo forte
Se o capitalismo tende a perdurar, Krugman considera que ele será mais eficaz com regulação do sistema bancário e controles mais fortes e tradicionais na economia, como os que funcionaram nos cinquenta anos que se seguiram à Grande Depressão, desde que atualizados para o nosso tempo. Em sua coluna no New York Times, ele afirmou que o que realmente evitou uma nova Grande Depressão foi um governo forte, isto é, que não parou de gastar quando o setor privado estagnou.
Alfinetando gestões anteriores, ele acrescenta: “governo forte e administrado por pessoas que compreendem as virtudes dessa instituição”. Ferrenho crítico da administração George W. Bush, também não poupa Ronald Reagan: “Reagan estava errado: às vezes, o setor privado é o problema e o governo, a solução”.
“A situação econômica permanece terrível. Nós ainda não alcançamos o ponto no qual as coisas estejam realmente melhorando. Por ora, temos que comemorar os indicadores de que as coisas estão piorando mais lentamente”, afirmou Krugman em sua coluna no mês de agosto.
No dia 2 de dezembro, o economista da Princeton University estará no Brasil falando de futuro, durante a ExpoManagement 2009. Teremos, então, a oportunidade de saber se, até lá, sua visão permanecerá cinzenta, e também o que ele pensa sobre o destino da América Latina.
“Somos todos brasileiros”
Krugman sabe bem que, de crise, temos certo know-how. Em outubro do ano passado, podíamos ler em seu blog: “Somos todos brasileiros agora”. Segundo ele avaliou, as grandes economias estavam começando a conhecer o tipo de enfermidade que antes era associada aos mercados emergentes no final dos anos 1990 –e que constituíam alertas para a crise atual.
Em meados de 2008, Krugman afirmou, em entrevista à Folha de São Paulo, que o Brasil rumava para a posição de líder dos países emergentes, ainda que Índia e China crescessem a um ritmo maior do que o nosso (natural, pois começaram a crescer muito recentemente). Entretanto, também afirmou que nosso crescimento era menor do que seu potencial. A explicação? Uma suspeita (ele diz não ter certeza) recai sobre a educação: “Nos países asiáticos de elevado crescimento, a educação é surpreendentemente melhor do que se esperaria, mesmo o país tendo muita pobreza”. Essa é uma certeza.
Um ano depois, o economista declarou que a América Latina superará a crise mundial mais rapidamente que os países ricos, mas que ficará atrás das economias asiáticas, segundo informações da agência EFE. Como “somos todos brasileiros” há mais tempo, nós, os latino-americanos, estamos mais bem preparados para enfrentar esta turbulência do que estivemos em crises anteriores. No entanto, é preciso que os ricos se recuperem e impulsionem uma verdadeira recuperação global.
Comércio mundial e Prêmio Nobel
Esse mundo interconectado foi objeto do estudo que Krugman iniciou em 1979 e o levou ao Prêmio Nobel no ano passado. Nas palavras do comitê julgador, “por sua análise dos padrões do comércio e a respeito da localização da atividade econômica”. Integrando a geografia econômica e o comércio internacional, as pesquisas do economista explicam quais bens são produzidos em que localidades e por quê.
Com simplicidade e senso prático, ele demonstra por que o comércio mundial foi dominado por poucos países similares uns aos outros, que vendem produtos similares –o oposto do que postulam teorias comerciais tradicionais (que consideram que as diferenças entre países explicam por que alguns exportam produtos agrícolas e outros bens industriais). Consumidores gostam de variedade e escolhem entre produtores de diferentes países, permitindo aos países continuar trocando produtos parecidos –afinal, um cidadão alemão pode comprar um automóvel americano, ainda que a Alemanha fabrique automóveis; e vice-versa.
As empresas, por sua vez, tornam-se mais eficientes na produção, e crescem, conforme vendem mais, em larga escala, em vez de se concentrarem no mercado local. Seu modelo explica, também, sob quais condições de comércio as empresas escolhem algumas regiões, em detrimento de outras. Para o pesquisador, a globalização leva à concentração, tanto geográfica quanto por especialidades, o que favorece a maior concentração demográfica nos grandes centros urbanos –com todas as suas consequências danosas ao meio ambiente.
http://br.hsmglobal.com/notas/54552-krugman-o-mundo-abrasileirou
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