Uma certeza que todo empreendedor deve ter é que em algum momento da vida sua empresa precisará de crédito.
Seja para fazer um novo investimento, no dia a dia da operação ou mesmo para ter um fôlego em um momento em que os investimentos estejam em fase de amadurecimento.
O processo para aprovação de crédito pode ser demorado e desgastante para toda a empresa. As demandas dos bancos não acabam: balanços, documentos societários, fluxos de caixa, dados operacionais, perguntas muitas vezes indiscretas. Parece uma lista sem fim do gerente de relacionamento, que se mostra pouco preocupado com o fato da empresa precisar do recurso para pagar uma conta grande que já bate à porta, ou fazer o investimento antes da concorrência.
A verdade é que este gerente está sim muito preocupado, mas ele não irá decidir se emprestará o dinheiro, ou as condições do contrato. O comitê de crédito do banco o fará. O comitê é especializado em analisar o risco de cada empréstimo, avaliando todos os pontos da empresa, do negócio e do cenário econômico que podem levar aquele cliente a não pagar conforme acordado.
O gerente enfrentará todos os outros gerentes do banco solicitando crédito para diversos clientes diferentes, em um comitê com recursos limitados. É ele quem fará o papel de advogado da sua empresa, na defesa de que ela tem mais vantagens competitivas, melhor gestão dos recursos e, obviamente, gerará caixa e terá condições de repagar o banco. E quando o comitê questionar aquele calcanhar de Aquiles da companhia, o gerente precisa estar munido de argumentos que justifiquem que a ela conseguirá superá-lo, ou que não seria um risco material. Caso contrário, um gerente melhor preparado e com uma tese de investimento mais bem contada estará assinando o contrato com seu respectivo cliente no dia seguinte, enquanto você recebe a ligação com a negativa.
Portanto, é fundamental que o gerente saiba o que está acontecendo no dia a dia da sua empresa e quais são as perspectivas. A melhor forma de mitigar o stress do comitê de crédito é antecipar-se e diversificar. Seja próximo dos seus bancos, procure outros que têm apetite para o seu negócio e faça o exercício de mostrar o racional da empresa antes de precisar dos recursos. A proximidade despertará interesse e confiança por parte dos bancos.
A demonstração de que a empresa está no controle do seu negócio e tem um planejamento bem detalhado do fluxo de caixa também contará muitos pontos. Ao solicitar montantes e prazos adequados ao fluxo de recebimentos, a empresa demonstra que aquele recurso será a solução, e não a postergação do seu problema. Além disso, uma alavancagem saudável da companhia é vista com bons olhos e demonstra conhecimentos financeiros, uma vez que ajuda a companhia a reduzir o custo de capital (o capital próprio deve ser remunerado na taxa dos investimentos disponíveis no mercado, mais um prêmio de risco). Analisar e negociar os contratos, não aceitando cláusulas abusivas transparece o zelo também com outros contratos, tanto operacionais quanto financeiros e, por isso, seu risco pode ser considerado menor.
Com estas atitudes, a empresa poderá ser apresentada ao comitê de crédito como séria e com fundamentos sólidos, que busca se antecipar para uma expansão, ou se proteger de um possível enfraquecimento de mercado. O que é bem diferente da empresa que não percebeu um futuro furo de caixa e agora está à busca de uma solução.
Após desenvolvida esta relação com o banco, pode ser que o gerente não mais te ligue para pedir informações, mas para oferecer oportunidades de crédito que sejam alinhadas ao seu negócio. Além de captar o recurso certo (e não aquele que está disponível), a companhia terá mais fôlego para negociar melhores condições contratuais, além de taxas e tarifas mais atrativas.
Roberto Mendes é CFO e Diretor de Relações com Investidores da Localiza e Mentor Endeavor e escreveu este artigo em parceria com Mariana Campolina é gerente de Relações com Investidores da Localiza.
Fonte: Endeavor
Nenhum comentário:
Postar um comentário