Aos 43 anos de idade, formada em administração de empresas, com MBA em finanças, casada, um filho e há mais de dez anos na mesma companhia, Marcela Drehmer, diretora financeira da Braskem, é o perfil típico da executiva de finanças brasileira. As características comuns às profissionais da área foram descobertas em uma pesquisa feita pelo IBEF Mulher, núcleo feminino do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF SP), com 140 participantes. Foram entrevistadas profissionais de cargos seniores, como gerentes, diretoras e CFOs.
De acordo com o levantamento, 59% das executivas de finanças têm entre 35 e 45 anos, 62% são casadas, 42% estão há mais de 10 anos na mesma empresa e 77% têm pós-graduação, sendo 47% na área de finanças. O programa de ensino executivo preferido é o MBA, escolha de 73% das entrevistadas. A graduação mais comum é administração de empresas, opção de 34% das profissionais. Em seguida aparecem ciências contábeis (20%) e economia (20%).
Esta é a segunda vez que a pesquisa é realizada. Na primeira edição, organizada há três anos, havia um número bem menor de associadas ao IBEF Mulher, 60. "Além de mais mulheres na área financeira, notamos que há mais profissionais do sexo feminino em cargos de comando agora", diz Luciana Medeiros Von Adamek, coordenadora do IBEF Mulher.
Segundo Luciana, não há números precisos que deem a verdadeira proporção de mulheres em cargos do alto escalão na área, mas ela estima que cerca de 18% desses postos sejam ocupados por profissionais do sexo feminino. "Nas funções de base há uma divisão mais equilibrada, com os homens ocupando metade das vagas, mas à medida que se sobe de cargo a presença feminina diminui", diz.
Mesmo com a dominância masculina, Marcela, da Braskem, diz que não enfrentou barreiras pelo fato de ser mulher. "Sempre me concentrei no que é importante e isso nunca foi relevante ", afirma a executiva.
Há 18 anos em São Paulo e no grupo Odebrecht, a executiva soteropolitana passou por praticamente todas as atividades dentro da área financeira antes de chegar à diretoria. Marcela lembra que seu primeiro estágio foi em contas a pagar e a receber. Depois, ao longo da carreira, foi passando por outras áreas, como a de balanços e aquisições e fusões.
Manter a motivação após tantos anos de atuação na mesma companhia é simples para Marcela. "Estou há muito tempo nessa empresa e sempre tenho um desafio maior pela frente. Isso me motiva, assim como o reconhecimento que recebo por isso."
Formada em engenharia de produção, Ivanyra Correia, CFO da Penske Logistics na América do Sul, também direcionou sua carreira para a área financeira desde o começo da vida profissional. "Achei que aprenderia mais, naquele momento, se trabalhasse no setor financeiro", conta a executiva. Tanto que, ainda na faculdade, fez estágio no BNDES. Depois, quando trainee, passou pelo então Banco Nacional e, mais adiante, entrou no Unibanco, onde ficou até 1996, ano em que decidiu cursar um MBA na renomada escola de negócios Wharton, da Universidade da Pensilvânia.
Ivanyra achou que era hora de se capacitar porque notou que a qualificação do executivo financeiro estava mudando naquela época, consequência de uma transformação no cenário, que deixava de ser inflacionário. "A partir daí o profissional de finanças no Brasil precisou começar a pensar no médio e longo prazo", afirma a executiva.
Além da experiência acadêmica fora do país, Ivanyra queria também uma vivência profissional no exterior. Foi por isso que, após a conclusão do MBA, a executiva começou a trabalhar no Bank of America. "Amadureci e fiquei mais preparada após essa experiência", diz.
De volta ao Brasil, Ivanyra continuou trabalhando no banco americano. Depois conquistou a posição de gerente geral de finanças na Votorantim Metais e a de superintendente financeira e de tesouraria na Amanco. Desde 2008, a executiva ocupa o cargo de CFO na Penske, onde responde pela região da América do Sul e pela Índia.
Para liderar equipes multiculturais, a receita da executiva é conhecer de perto a cultura, o contexto e a economia locais. "Para distribuir as metas é preciso entender como esses times funcionam", explica.
Assim como aconteceu com Ivanyra, a experiência internacional também foi um marco na carreira da executiva Bárbara Fortes, diretora financeira da L'Occitane. Nos sete anos dedicados à Natura, quase três foram passados no México. Em 2005, ela e mais três gestores da empresa brasileira foram convidados a dar início aos negócios da companhia no país. Coube a Bárbara a gerência de projetos, financeira e de tecnologia da informação. "Começamos a operação do zero, numa sala pequena, alugada. Foi um grande desafio", diz ela.
Bárbara teve uma ascensão profissional rápida. Logo após se formar na quinta turma do curso de economia e finanças do Ibmec-RJ, começou a trabalhar na empresa de telecomunicações Vésper. Ali ficou dois anos, até entrar na Natura como coordenadora de planejamento financeiro. Saiu da companhia como gerente sênior de finanças rumo à L'Occitane, onde passou a ocupar o cargo de diretora financeira com apenas 30 anos. "Nunca enfrentei obstáculos pela questão de gênero ou mesmo pela pouca idade", diz Bárbara, que agora está começando um mestrado executivo na universidade canadense McGill.
Essa não é a primeira experiência acadêmica internacional da executiva. Durante o período em que morou no México, ela aproveitou para fazer uma especialização em negócios internacionais e comércio exterior no Instituto Tecnológico Autônomo do México. Completam a formação de Bárbara um curso de um ano de direito para executivos no Insper e um programa de desenvolvimento de lideranças desenvolvido pela Fundação Dom Cabral na Natura.
Fonte: Valor Econômico
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