Revista Você s/a nº161, 01/11/2011, por Eugênio Mussak
Referências e ídolos são importantes fontes de inspiração, porém, cuidado com as imitações. Não vale a pena viver a vida de outra pessoa
A recente morte de Steve Jobs provocou uma enxurrada de referências à sua fantástica contribuição para o mundo. Cultivar ídolos sempre fascinou o ser humano, como pode ser percebido por meio dos mitos aos quais recorremos com freqüência. Ulisses, Hércules e Davi estão aí para nos inspirar; essa é a função dos heróis. Se você está para fazer um curso ou assistir a uma palestra de liderança, é muito provável que vá ouvir os nomes de pessoas como Mandela ou Gandhi. Não há nada de errado em usar – e até reverenciar – os nomes deles.
Usar esses personagens como referência é útil porque eles criaram novas possibilidades para si e para muitos outros. Nesse sentido, Jobs é um exemplo daqueles que não surgem dois no mesmo século. Ambicioso que sou, eu adoraria ser um Steve Jobs. Gostaria muito de ser um visionário tão fantástico, um aglutinador de talentos tão eficaz e um empreendedor tão audaz. Mas fico pensando que, para ser tudo isso, eu teria de deixar de ser eu mesmo, com meus valores e minhas conquistas pessoais. Se eu tivesse de deixar de lado meu próprio eu, provavelmente abriria mão de ser alguém assim tão especial. Jobs foi o único, mas cada pessoa, a seu modo, também é. Ele criou a marca da maçã, e você pode criar sua própria fruta.
Jobs era budista, e o budismo aconselha: “Medite, viva puramente, seja simples, faça seu trabalho com maestria. E, como a Lua, saia de trás das nuvens e brilhe”. Esse maravilhoso conselho de Sidarta pode ser aplicado em todos os lugares, desde que haja uma pessoa e uma intenção.
Serviu para criar uma nova maçã, pode servir para criar uma nova jabuticaba. E, para ser bom, junte-os aos bons.
Os produtos imaginados por Jobs não foram desenvolvidos necessariamente por ele, e sim por técnicos capazes e igualmente apaixonados. A imaginação e o conhecimento, quando se juntam, produzem coisas fantásticas.
Porém, cuidado com as imitações. Os dois Steves, “pais da Apple”, entre seus erros e acertos, aconselharam as pessoas a serem elas mesmas.
Worzniak, o outro Steve, e sócio de primeira hora de Jobs, termina sua autobiografia encorajando os jovens a seguir, acima de tudo, suas próprias ideias e paixões. Jobs, em seu famoso discurso para os alunos da Universidade Stanford em 2005, disse: “Seu tempo é limitado, portanto não o desperdice vivendo a vida de outra pessoa”. A discussão sobre se a Apple continuará sendo a mesma sem ele é inútil. É claro que não será. Poderá até ser melhor, mas será a Apple sem Jobs.
Fonte: Sapiens Sapiens
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