
Na economia, na política, na tecnologia, entre outros tantos campos de convivência humana, a incerteza se junta à ambição e ao sonho para alimentar a ideia de que é possível ver o futuro antes que ele aconteça. O risco de errar é sempre grande.
Por Edson Pinto de Almeida, de São Paulo 13/08/2010
Por Edson Pinto de Almeida, de São Paulo 13/08/2010
Os supersticiosos podem achar que previsões são uma espécie de sortilégio. Perdem-se no tempo exemplos de personagens tidos como capazes de antecipar o futuro ou de fato investidos de tal qualidade - na maioria das vezes, dedicados a cultivar previsões relacionadas com tragédias. Nostradamus, Tirésias e Édipo, em Sófocles, as feiticeiras de McBeth, em Shakespeare, referem-se a acontecimentos com esse desfecho. Há outros exemplos no cinema. E também na economia, como o de Nouriel Roubini, que ganhou notoriedade por suas soturnas previsões desde bem antes de a atual crise se mostrar por completo.
Por mais que tenha graça a piada de que os economistas previram 12 das 2 últimas recessões, é preciso dar crédito aos avanços da econometria e da estatística. As inovações em tecnologia - outro campo fértil para previsões - garantem maior precisão de acerto para uma série de coisas. Para outras, não.
"Alguém conseguiu prever a queda do Muro de Berlim, em 1989, e tudo o que isso representou?", pergunta o pesquisador da IBM Jean Paul Jacob. É fato, no entanto, que "o financiamento das pesquisas nos Estados Unidos mudou o foco com o fim da Guerra Fria. As atenções voltaram-se para as indústrias de entretenimento e saúde." A própria IBM, segundo Jacob, deixou de dar prioridade aos mainframes para cálculos balísticos e lançamento de mísseis para desenvolver processadores para jogos e produtos para telemedicina.
Por mais que tenha graça a piada de que os economistas previram 12 das 2 últimas recessões, é preciso dar crédito aos avanços da econometria e da estatística. As inovações em tecnologia - outro campo fértil para previsões - garantem maior precisão de acerto para uma série de coisas. Para outras, não.
"Alguém conseguiu prever a queda do Muro de Berlim, em 1989, e tudo o que isso representou?", pergunta o pesquisador da IBM Jean Paul Jacob. É fato, no entanto, que "o financiamento das pesquisas nos Estados Unidos mudou o foco com o fim da Guerra Fria. As atenções voltaram-se para as indústrias de entretenimento e saúde." A própria IBM, segundo Jacob, deixou de dar prioridade aos mainframes para cálculos balísticos e lançamento de mísseis para desenvolver processadores para jogos e produtos para telemedicina.
Prever é tão difícil, dependendo das circunstâncias, que há enganos notáveis, como o do próprio presidente da Big Blue, Thomas J. Watson, quando afirmou, em 1943, que não existiria mercado mundial para mais do que cinco computadores. É certo que ele não está sozinho nesse clube. O próprio Bill Gates, achava, em 2004, que o "spam", a emissão volumosa e indiscriminada de e-mails, desapareceria em dois anos. Em 1974, Margaret Thatcher ainda duvidava que uma mulher pudesse ser primeira-ministra do Reino Unido.
Erros e acertos, na verdade, não desmerecem as previsões. Muitos podem achar que o fato de um molusco, o polvo Paul, adivinhar a vitória da Espanha na Copa do Mundo é algo que compromete o ofício de prever. Mas é bom lembrar que a conquista dos espanhóis também foi prevista por economistas em vários países. Aqui no Brasil, a LCA Consultores acertou, utilizando as mesmas ferramentas de análise de mercados.
Celso de Campos Toledo Neto, diretor da área de macroeconomia da LCA Consultores, escreveu artigo em que joga luzes sobre o assunto. "Há problemas tanto de demanda quanto de oferta no mundo das projeções econômicas. Do lado da demanda, há necessidade de informações simples e de fácil digestão."
Toledo dá um exemplo simulando uma pergunta sobre a previsão de inflação. Sua resposta: "Supondo que o PIB continue crescendo no mesmo ritmo do trimestre passado, que os preços de commodities e a taxa de câmbio se mantenham constantes e que não haja distúrbios pouco usuais nas expectativas, acredito em inflação de 4,5%, mas com chance de 50% de ficar dentro do intervalo entre 3,0% e 6,0%. Isso, se a distribuição dos choques inflacionários não se alterar em relação à dos últimos dez anos". Toledo imagina que a manchete do dia seguinte seria: economista prevê inflação de 4,5%.
O economista tem razão quando diz que a omissão de informações sobre as premissas adotadas no cálculo sobre inflação cria a falsa impressão de que há intenção de prever o futuro. Reconhece, no entanto, que alguns economistas gostam de assumir o papel de profeta e fazem questão de dar "palpites". Como jornais e revistas não são relatórios ou atas do Banco Central, é razoável esperar certa simplificação, para que a leitura das notícias seja palatável.
Em sentido amplo, está se falando aqui de um mercado de previsões, ou tentativas de explorar possibilidades de antecipar acontecimentos nas mais diferentes áreas, por aleatórias que sejam, com oferta e demanda de informações e "agentes" em ambos os lados. A mesma expressão se aplica, porém, a um "mercado de previsões" propriamente dito. É um ramo novo no Brasil, mas desenvolvido há bastante tempo nos Estados Unidos. Seu funcionamento baseia-se numa suposta inteligência coletiva, espécie de "sabedoria das multidões", que dá título ao livro de James Surowiecki (Record-2006), editor da área de negócios da revista "New Yorker" (ver pág. 9).
O princípio da sabedoria coletiva está condicionado a certas circunstâncias: diversidade de opinião (cada um sabe alguma coisa a respeito do fato), independência (a opinião de cada pessoa não é determinada pelas opiniões de outros), descentralização (capacidade de trabalhar com conhecimento local) e a existência de um instrumento para transformar avaliações pessoais em uma decisão coletiva. Ou, como explica Surowiecki: "Se você pedir que um grupo suficientemente grande de pessoas diferentes e independentes faça uma previsão ou estime uma probabilidade, e então fizer uma média dessas estimativas, os erros cometidos por cada um deles na hora de oferecer uma resposta cancelam uns aos outros". Surowiecki diz que em cada palpite há dois componentes: informação e erro. "Subtraia o erro, e o que resta é a informação."
O livro traz vários exemplos, mas um que ilustra bem o princípio da sabedoria coletiva é o da explosão que destruiu a nave espacial Challenger às 11h38 de 28 de janeiro de 1986. Sem que houvesse qualquer boato que implicasse a empresa Thiokol, fabricante dos anéis de vedação do foguete, suas ações caíram quase 12%, enquanto os papéis das outras três empresas envolvidas oscilaram levemente e voltaram a subir. Foi como se o mercado de ações acertasse na antevisão de culpa pelo acidente, seis meses antes do veredicto final.
Foi também na década de 1980 que o cientista político e psicólogo americano Philip Tetlock, professor da Universidade da Califórnia, fez um estudo sobre previsões, relatado no livro "Expert Political Judgement". O ponto de partida foi a afirmação do filósofo Isaiah Berlin de que existem dois tipos de pensadores: os especialistas em alguma coisa ("marmotas") e os que circulam por várias áreas ("raposas"). Tetlock distribuiu centenas de questionários, pedindo a diferentes grupos que fizessem prognósticos. Depois criou novos grupos, de otimistas e pessimistas, esquerdistas e direitistas. As "raposas" apresentaram maior grau de acerto. Tetlock concluiu que, no caso dos especialistas ("marmotas"), o conhecimento demasiado atrapalha, porque querem chegar logo a uma conclusão categórica. As "raposas" obtiveram os melhores resultados, pois têm a mente mais aberta e se atualizam mais rapidamente.
O economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio da Rio Bravo Investimentos, dedica ao assunto um capítulo de seu novo livro, a ser lançado pela Editora Campus, "Cartas a um Jovem Economista". As previsões em economia dizem respeito a ambientes complexos - que operam com leis conhecidas, mas em um sistema grande demais, assim como a meteorologia. "Há coisas que acontecem que não são produto do acaso, como furacões e tempestades, fenômenos físicos perfeitamente explicáveis, mas o momento em que acontecem, assim como os fenômenos sociais do mercado, do ponto de vista da teoria, é indeterminado."
O mercado de ações é um exemplo. "Imagine que haja uma teoria com fundamento sobre o que vai acontecer com a Petrobras. Isso importa menos do aquilo que o mercado acha que vai acontecer com o papel", diz Franco. Cada pessoa acredita que o importante é o pensamento do mercado e não o que está mesmo acontecendo. Pela teoria dos mercados eficientes, esses deslocamentos deveriam se cancelar, mas muitas vezes os desvios são avassaladores. "É parte da nossa realidade que ela seja inerentemente imprevisível no curto prazo. Por causa disso, uma indústria importante é essa de prever o futuro, de se armar para lidar com o futuro."
Em 2008 e 2009, os erros de previsão para o Ibovespa foram imensos, para cima e para baixo. "A leitura dessas análises deve ser feita com cautela", afirma o administrador de investimentos Fábio Colombo. "No caso do mercado de ações, quanto menor o prazo, maior a dificuldade de previsão, devido às oscilações do dia-a-dia da economia e dos humores dos participantes do mercado. Em outras palavras, quanto maior o horizonte de análise, maior a probabilidade de o investimento em bolsa seguir o resultado das empresas em seus balanços."
Uma das razões pelas quais não é possível prever quando uma crise financeira irromperá é que esses eventos não espelham necessariamente os fundamentos econômicos reais. Nos Estados Unidos, o PIB varia, ano a ano, metade do que variou há cinco décadas. Já o índice Standard & Poors 500 exibe nos últimos 20 anos um desvio padrão médio maior do que há 50 anos, como nota o economista Richard Bookstaber, autor de "Mercado Financeiro - A crise Anunciada" (Campus/Elsevier - 2008).
Para Álvaro Bandeira, economista-chefe da Ágora Corretora, a avaliação estatística e bom senso fazem a diferença nas previsões. Não dá para impedir a sofisticação do mercado, mas é possível fechar a porta para extremos. "O comportamento humano é imprevisível. Há uma tendência a agir como manada. Se você assume risco e ganha dinheiro, eu vou assumir mais risco para ganhar mais."
Muitas vezes, os instrumentos para combater a incerteza provocam mais risco. Foi assim com os derivativos, que deveriam funcionar como uma espécie de "airbag", na definição do professor de economia da EAESP-FGV Paulo Sandroni. "Eliminaram a incerteza, mas trouxeram um problema. A velocidade aumentou mais do que a capacidade do 'airbag' de assimilar o impacto. O risco se expandiu de tal maneira que se tornou insustentável. Havia mais títulos no mercado que já não se sabia qual era o contrato subjacente original. A saída é impedir que o mercado aumente a velocidade."
Quem está no mercado de ações tende a ser mais otimista. "É mais fácil ganhar dinheiro quando as coisas dão certo do que quando dão errado", diz Franco. "No mundo das consultorias, o pessoal é mais equilibrado, mas também há um viés otimista, embora isso tenha a ver com a clientela. Há os especialistas em cenários, e alguns que sempre olham o pior. As empresas costumam ouvir os dois lados. O otimista, para ganhar convicção na hora de investir. E o pessimista, para saber o que vai dar errado."
As agências de "rating" são pessimistas por excelência, pois avaliam o risco, não o retorno. O pior que pode acontecer para uma agência de risco é ser otimista e errar. Se a previsão for de catástrofe e nada acontecer, sua reputação permanece intacta. É o que se chama de "hedge intelectual".
O desafio de dominar o ciclo econômico é cada vez maior. Desde o século XVII, a intervalos de cerca de sete anos há uma crise. "Como não conseguimos prever isso?", indaga Franco. A resposta parece ser a ilusão de que se aprendeu alguma coisa e que, por isso, o colapso não se repetirá. As lições de Keynes estão sempre em voga. Para Franco porém, intervenção não é panaceia e pode até gerar crise. "O que tivemos até agora foi uma lição de humildade. Aprendemos que as crises são intrinsecamente imprevisíveis, o que não quer dizer que haja método nessa loucura. O economista, no fundo, é ótimo médico-legista."
Erros e acertos, na verdade, não desmerecem as previsões. Muitos podem achar que o fato de um molusco, o polvo Paul, adivinhar a vitória da Espanha na Copa do Mundo é algo que compromete o ofício de prever. Mas é bom lembrar que a conquista dos espanhóis também foi prevista por economistas em vários países. Aqui no Brasil, a LCA Consultores acertou, utilizando as mesmas ferramentas de análise de mercados.
Celso de Campos Toledo Neto, diretor da área de macroeconomia da LCA Consultores, escreveu artigo em que joga luzes sobre o assunto. "Há problemas tanto de demanda quanto de oferta no mundo das projeções econômicas. Do lado da demanda, há necessidade de informações simples e de fácil digestão."
Toledo dá um exemplo simulando uma pergunta sobre a previsão de inflação. Sua resposta: "Supondo que o PIB continue crescendo no mesmo ritmo do trimestre passado, que os preços de commodities e a taxa de câmbio se mantenham constantes e que não haja distúrbios pouco usuais nas expectativas, acredito em inflação de 4,5%, mas com chance de 50% de ficar dentro do intervalo entre 3,0% e 6,0%. Isso, se a distribuição dos choques inflacionários não se alterar em relação à dos últimos dez anos". Toledo imagina que a manchete do dia seguinte seria: economista prevê inflação de 4,5%.
O economista tem razão quando diz que a omissão de informações sobre as premissas adotadas no cálculo sobre inflação cria a falsa impressão de que há intenção de prever o futuro. Reconhece, no entanto, que alguns economistas gostam de assumir o papel de profeta e fazem questão de dar "palpites". Como jornais e revistas não são relatórios ou atas do Banco Central, é razoável esperar certa simplificação, para que a leitura das notícias seja palatável.
Em sentido amplo, está se falando aqui de um mercado de previsões, ou tentativas de explorar possibilidades de antecipar acontecimentos nas mais diferentes áreas, por aleatórias que sejam, com oferta e demanda de informações e "agentes" em ambos os lados. A mesma expressão se aplica, porém, a um "mercado de previsões" propriamente dito. É um ramo novo no Brasil, mas desenvolvido há bastante tempo nos Estados Unidos. Seu funcionamento baseia-se numa suposta inteligência coletiva, espécie de "sabedoria das multidões", que dá título ao livro de James Surowiecki (Record-2006), editor da área de negócios da revista "New Yorker" (ver pág. 9).
O princípio da sabedoria coletiva está condicionado a certas circunstâncias: diversidade de opinião (cada um sabe alguma coisa a respeito do fato), independência (a opinião de cada pessoa não é determinada pelas opiniões de outros), descentralização (capacidade de trabalhar com conhecimento local) e a existência de um instrumento para transformar avaliações pessoais em uma decisão coletiva. Ou, como explica Surowiecki: "Se você pedir que um grupo suficientemente grande de pessoas diferentes e independentes faça uma previsão ou estime uma probabilidade, e então fizer uma média dessas estimativas, os erros cometidos por cada um deles na hora de oferecer uma resposta cancelam uns aos outros". Surowiecki diz que em cada palpite há dois componentes: informação e erro. "Subtraia o erro, e o que resta é a informação."
O livro traz vários exemplos, mas um que ilustra bem o princípio da sabedoria coletiva é o da explosão que destruiu a nave espacial Challenger às 11h38 de 28 de janeiro de 1986. Sem que houvesse qualquer boato que implicasse a empresa Thiokol, fabricante dos anéis de vedação do foguete, suas ações caíram quase 12%, enquanto os papéis das outras três empresas envolvidas oscilaram levemente e voltaram a subir. Foi como se o mercado de ações acertasse na antevisão de culpa pelo acidente, seis meses antes do veredicto final.
Foi também na década de 1980 que o cientista político e psicólogo americano Philip Tetlock, professor da Universidade da Califórnia, fez um estudo sobre previsões, relatado no livro "Expert Political Judgement". O ponto de partida foi a afirmação do filósofo Isaiah Berlin de que existem dois tipos de pensadores: os especialistas em alguma coisa ("marmotas") e os que circulam por várias áreas ("raposas"). Tetlock distribuiu centenas de questionários, pedindo a diferentes grupos que fizessem prognósticos. Depois criou novos grupos, de otimistas e pessimistas, esquerdistas e direitistas. As "raposas" apresentaram maior grau de acerto. Tetlock concluiu que, no caso dos especialistas ("marmotas"), o conhecimento demasiado atrapalha, porque querem chegar logo a uma conclusão categórica. As "raposas" obtiveram os melhores resultados, pois têm a mente mais aberta e se atualizam mais rapidamente.
O economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio da Rio Bravo Investimentos, dedica ao assunto um capítulo de seu novo livro, a ser lançado pela Editora Campus, "Cartas a um Jovem Economista". As previsões em economia dizem respeito a ambientes complexos - que operam com leis conhecidas, mas em um sistema grande demais, assim como a meteorologia. "Há coisas que acontecem que não são produto do acaso, como furacões e tempestades, fenômenos físicos perfeitamente explicáveis, mas o momento em que acontecem, assim como os fenômenos sociais do mercado, do ponto de vista da teoria, é indeterminado."
O mercado de ações é um exemplo. "Imagine que haja uma teoria com fundamento sobre o que vai acontecer com a Petrobras. Isso importa menos do aquilo que o mercado acha que vai acontecer com o papel", diz Franco. Cada pessoa acredita que o importante é o pensamento do mercado e não o que está mesmo acontecendo. Pela teoria dos mercados eficientes, esses deslocamentos deveriam se cancelar, mas muitas vezes os desvios são avassaladores. "É parte da nossa realidade que ela seja inerentemente imprevisível no curto prazo. Por causa disso, uma indústria importante é essa de prever o futuro, de se armar para lidar com o futuro."
Em 2008 e 2009, os erros de previsão para o Ibovespa foram imensos, para cima e para baixo. "A leitura dessas análises deve ser feita com cautela", afirma o administrador de investimentos Fábio Colombo. "No caso do mercado de ações, quanto menor o prazo, maior a dificuldade de previsão, devido às oscilações do dia-a-dia da economia e dos humores dos participantes do mercado. Em outras palavras, quanto maior o horizonte de análise, maior a probabilidade de o investimento em bolsa seguir o resultado das empresas em seus balanços."
Uma das razões pelas quais não é possível prever quando uma crise financeira irromperá é que esses eventos não espelham necessariamente os fundamentos econômicos reais. Nos Estados Unidos, o PIB varia, ano a ano, metade do que variou há cinco décadas. Já o índice Standard & Poors 500 exibe nos últimos 20 anos um desvio padrão médio maior do que há 50 anos, como nota o economista Richard Bookstaber, autor de "Mercado Financeiro - A crise Anunciada" (Campus/Elsevier - 2008).
Para Álvaro Bandeira, economista-chefe da Ágora Corretora, a avaliação estatística e bom senso fazem a diferença nas previsões. Não dá para impedir a sofisticação do mercado, mas é possível fechar a porta para extremos. "O comportamento humano é imprevisível. Há uma tendência a agir como manada. Se você assume risco e ganha dinheiro, eu vou assumir mais risco para ganhar mais."
Muitas vezes, os instrumentos para combater a incerteza provocam mais risco. Foi assim com os derivativos, que deveriam funcionar como uma espécie de "airbag", na definição do professor de economia da EAESP-FGV Paulo Sandroni. "Eliminaram a incerteza, mas trouxeram um problema. A velocidade aumentou mais do que a capacidade do 'airbag' de assimilar o impacto. O risco se expandiu de tal maneira que se tornou insustentável. Havia mais títulos no mercado que já não se sabia qual era o contrato subjacente original. A saída é impedir que o mercado aumente a velocidade."
Quem está no mercado de ações tende a ser mais otimista. "É mais fácil ganhar dinheiro quando as coisas dão certo do que quando dão errado", diz Franco. "No mundo das consultorias, o pessoal é mais equilibrado, mas também há um viés otimista, embora isso tenha a ver com a clientela. Há os especialistas em cenários, e alguns que sempre olham o pior. As empresas costumam ouvir os dois lados. O otimista, para ganhar convicção na hora de investir. E o pessimista, para saber o que vai dar errado."
As agências de "rating" são pessimistas por excelência, pois avaliam o risco, não o retorno. O pior que pode acontecer para uma agência de risco é ser otimista e errar. Se a previsão for de catástrofe e nada acontecer, sua reputação permanece intacta. É o que se chama de "hedge intelectual".
O desafio de dominar o ciclo econômico é cada vez maior. Desde o século XVII, a intervalos de cerca de sete anos há uma crise. "Como não conseguimos prever isso?", indaga Franco. A resposta parece ser a ilusão de que se aprendeu alguma coisa e que, por isso, o colapso não se repetirá. As lições de Keynes estão sempre em voga. Para Franco porém, intervenção não é panaceia e pode até gerar crise. "O que tivemos até agora foi uma lição de humildade. Aprendemos que as crises são intrinsecamente imprevisíveis, o que não quer dizer que haja método nessa loucura. O economista, no fundo, é ótimo médico-legista."
Valor Econômico
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