Há um descompasso de preços entre compradores e vendedores.
Por Anousha Sakoui e Miles Johnson, Financial Times, de Londres 31/08/2010
Havia grandes esperanças de que uma série de novas companhias abririam o capital este ano na Europa, garantindo combustível para o seu crescimento e deixando para trás a crise financeira internacional.
Em vez disso, muitas companhias britânicas conhecidas tiveram seus planos frustrados, depois que a crise da dívida soberana na Europa provocou turbulências no mercado.
Muitas seguiram adiante, mas algumas enfrentaram hostilidades dos investidores a planos ambiciosos demais.
"O retorno da capacidade do investidor institucional de decidir sobre o destino das emissões de ações tem sido um tema importante em 2010", afirma Linda Main, diretora de mercados de capitais da auditoria KPMG para o Reino Unido. "As companhias que estabeleceram números estonteantes para si mesmas foram punidas no preço final ou até mesmo tiveram que desistir das emissões."
Segundo a Dealogic, em maio mais ofertas públicas iniciais de ações foram canceladas na Europa do que em qualquer outro período comparável. Algumas retiradas ocorreram por bons motivos, como a da Pets ah Home, que em vez de fazer a oferta foi adquirida pelo fundo Kohlberg Kravis & Roberts. Mas a varejista New Look, a companhia de gás e petróleo Fairfield Energy e a Ferrous Resources - que explora minério de ferro no Brasil - estiveram entre as ofertas iniciais de ações canceladas por causa de dificuldades nos mercados de capitais.
"O ano passado terminou com muito otimismo", diz Charlie Foreman, consultor de mercados de capitais da Lazard. "Havia promessas de boas companhias com boas avaliações, mas isso tudo foi frustrado pelo descompasso das expectativas de preço entre os compradores e os vendedores, juntamente com a contínua volatilidade do mercado, que criou um impasse, especialmente entre os fundos de participações e os investidores."
Das companhias que prosseguiram com a operação, muitas não conseguiram as avaliações que esperavam ou os preços de suas ações caíram assim que elas começaram a ser negociadas no mercado.
A listagem em março da Promethean World, uma fabricante de quadros-brancos interativos, ofereceu aos investidores a oportunidade de entrar em uma companhia de crescimento acelerado. No entanto, depois do anúncio dos resultados do primeiro semestre, na semana passada, as ações caíram mais de 20%, uma vez que a companhia alertou que as margens brutas de vendas serão menores do que as esperadas.
As ações agora estão sendo negociadas a um preço 36% menor que o de lançamento, o pior desempenho de uma grande listagem no Reino Unido neste ano, excluindo a listagem de Global Depositary Receipts (GDRs), segundo a Dealogic.
Esse é um exemplo do tipo de negócio em que os fundos de participação usam os mercados de ofertas de ações para sair de seus investimentos ou pagar dívidas. Apesar de uma certa crença popular em contrário, as ofertas de companhias apoiadas por fundos de participação vêm tendo um desempenho melhor que o conjunto das ofertas após o início dos negócios das ações em bolsa, segundo Craig Coben, diretor de mercados de capitais do Bank of America Merrill Lynch para a Europa.
As ações da Essar Energy, a maior oferta pública inicial de ações feita no Reino Unido desde o começo do aperto de crédito, caíram mais de 7% no primeiro dia de negociação, em maio. Na ocasião, a companhia foi a pior estreia de uma grande abertura de capital em Londres em quase oito anos. A operação foi afetada pelos temores dos investidores com a crise da dívida soberana da Europa e por dúvidas em relação à governança da companhia nos dias que antecederam a listagem. A Essar, que agora faz parte do índice FTSE 100, ainda está sendo negociada a um valor 4% abaixo do preço de emissão das ações.
Entretanto, foi a abertura de capital da Ocado, companhia varejista online, que despertou mais atenção. A empresa, que ainda não teve nenhum lucro antes dos impostos, desafiou seus detratores e captou 200 milhões de libras com sua oferta pública inicial. Mas a companhia teve que reduzir sua faixa de preço de 200 pence a 275 pence para 180 pence.
Ela também bateu o recorde na contratação do maior número de bancos vistos na coordenação de uma abertura de capital no Reino Unido em quase 13 anos, segundo a Dealogic. Decorrido pouco mais de um mês da listagem, a ação da Ocado acumulava uma desvalorização de 20% na sexta-feira.
Avaliações ambiciosas demais têm sido parte do problema. "A falta de realismo em relação ao preço é um problema real", afirma Dan Nickols, da Old Mutual Asset Managers. "Eles precisam de algum tipo de desconto para atrair os investidores."
Mas nem tudo está ruim. A SuperGroup, que controla a etiqueta de moda Superdry, acumulava até sexta-feira uma valorização de 96,8% sobre o preço de lançamento de sua ação, fazendo dela a listagem de melhor desempenho no Reino Unido neste ano.
A ação da administradora de fundos Jupiter conseguiu o feito raro de subir muito no primeiro dia de negociação, com a companhia conseguindo sacudir o estigma que abalava o setor, provocado pela oferta da concorrente Gartmore, que a essa altura viu o preço de sua ação cair pela metade desde a estreia na bolsa em dezembro. A Jupiter estabeleceu o preço na ponta mais baixa da faixa esperada e é um dos grande negócios de melhor desempenho no Reino Unido neste ano, com valorização de 22,5% até sexta-feira, segundo a Dealogic.
Para Andy Brough, gestor de fundos da Schroders, isso é um bom exemplo de como abrir o capital de uma empresa. "A administração ainda tem uma grande participação acionária e eles conseguiram uma avaliação realista, que levou em conta a volatilidade do mercado. A colocação das ações foi feita por um executivo-chefe que as distribuiu para acionistas de longo prazo."
"Quando os mercados estão em alta, é fácil intimidar os investidores fazendo-os pensar que eles deveriam comprar ofertas, mas quando os mercados estão caindo, você pode muito bem comprar no mercado secundário. As coisas são sempre mais baratas quando você compra de segunda mão."
Os banqueiros estão na linha de fogo do fraco desempenho. Emmanuel Gueroult, diretor-adjunto de mercados de capitais do Morgan Stanley para a Europa, diz que os vendedores precisam escolher consultores que não tenham medo de dizer a eles o que pensam.
"A multiplicidade de coordenadores existentes hoje nas operações às vezes cria um comportamento perverso, a ponto de que pouquíssimos ousam ser totalmente transparentes com os vendedores a respeito das expectativas de preço."
Por Anousha Sakoui e Miles Johnson, Financial Times, de Londres 31/08/2010
Havia grandes esperanças de que uma série de novas companhias abririam o capital este ano na Europa, garantindo combustível para o seu crescimento e deixando para trás a crise financeira internacional.
Em vez disso, muitas companhias britânicas conhecidas tiveram seus planos frustrados, depois que a crise da dívida soberana na Europa provocou turbulências no mercado.
Muitas seguiram adiante, mas algumas enfrentaram hostilidades dos investidores a planos ambiciosos demais.
"O retorno da capacidade do investidor institucional de decidir sobre o destino das emissões de ações tem sido um tema importante em 2010", afirma Linda Main, diretora de mercados de capitais da auditoria KPMG para o Reino Unido. "As companhias que estabeleceram números estonteantes para si mesmas foram punidas no preço final ou até mesmo tiveram que desistir das emissões."
Segundo a Dealogic, em maio mais ofertas públicas iniciais de ações foram canceladas na Europa do que em qualquer outro período comparável. Algumas retiradas ocorreram por bons motivos, como a da Pets ah Home, que em vez de fazer a oferta foi adquirida pelo fundo Kohlberg Kravis & Roberts. Mas a varejista New Look, a companhia de gás e petróleo Fairfield Energy e a Ferrous Resources - que explora minério de ferro no Brasil - estiveram entre as ofertas iniciais de ações canceladas por causa de dificuldades nos mercados de capitais.
"O ano passado terminou com muito otimismo", diz Charlie Foreman, consultor de mercados de capitais da Lazard. "Havia promessas de boas companhias com boas avaliações, mas isso tudo foi frustrado pelo descompasso das expectativas de preço entre os compradores e os vendedores, juntamente com a contínua volatilidade do mercado, que criou um impasse, especialmente entre os fundos de participações e os investidores."
Das companhias que prosseguiram com a operação, muitas não conseguiram as avaliações que esperavam ou os preços de suas ações caíram assim que elas começaram a ser negociadas no mercado.
A listagem em março da Promethean World, uma fabricante de quadros-brancos interativos, ofereceu aos investidores a oportunidade de entrar em uma companhia de crescimento acelerado. No entanto, depois do anúncio dos resultados do primeiro semestre, na semana passada, as ações caíram mais de 20%, uma vez que a companhia alertou que as margens brutas de vendas serão menores do que as esperadas.
As ações agora estão sendo negociadas a um preço 36% menor que o de lançamento, o pior desempenho de uma grande listagem no Reino Unido neste ano, excluindo a listagem de Global Depositary Receipts (GDRs), segundo a Dealogic.
Esse é um exemplo do tipo de negócio em que os fundos de participação usam os mercados de ofertas de ações para sair de seus investimentos ou pagar dívidas. Apesar de uma certa crença popular em contrário, as ofertas de companhias apoiadas por fundos de participação vêm tendo um desempenho melhor que o conjunto das ofertas após o início dos negócios das ações em bolsa, segundo Craig Coben, diretor de mercados de capitais do Bank of America Merrill Lynch para a Europa.
As ações da Essar Energy, a maior oferta pública inicial de ações feita no Reino Unido desde o começo do aperto de crédito, caíram mais de 7% no primeiro dia de negociação, em maio. Na ocasião, a companhia foi a pior estreia de uma grande abertura de capital em Londres em quase oito anos. A operação foi afetada pelos temores dos investidores com a crise da dívida soberana da Europa e por dúvidas em relação à governança da companhia nos dias que antecederam a listagem. A Essar, que agora faz parte do índice FTSE 100, ainda está sendo negociada a um valor 4% abaixo do preço de emissão das ações.
Entretanto, foi a abertura de capital da Ocado, companhia varejista online, que despertou mais atenção. A empresa, que ainda não teve nenhum lucro antes dos impostos, desafiou seus detratores e captou 200 milhões de libras com sua oferta pública inicial. Mas a companhia teve que reduzir sua faixa de preço de 200 pence a 275 pence para 180 pence.
Ela também bateu o recorde na contratação do maior número de bancos vistos na coordenação de uma abertura de capital no Reino Unido em quase 13 anos, segundo a Dealogic. Decorrido pouco mais de um mês da listagem, a ação da Ocado acumulava uma desvalorização de 20% na sexta-feira.
Avaliações ambiciosas demais têm sido parte do problema. "A falta de realismo em relação ao preço é um problema real", afirma Dan Nickols, da Old Mutual Asset Managers. "Eles precisam de algum tipo de desconto para atrair os investidores."
Mas nem tudo está ruim. A SuperGroup, que controla a etiqueta de moda Superdry, acumulava até sexta-feira uma valorização de 96,8% sobre o preço de lançamento de sua ação, fazendo dela a listagem de melhor desempenho no Reino Unido neste ano.
A ação da administradora de fundos Jupiter conseguiu o feito raro de subir muito no primeiro dia de negociação, com a companhia conseguindo sacudir o estigma que abalava o setor, provocado pela oferta da concorrente Gartmore, que a essa altura viu o preço de sua ação cair pela metade desde a estreia na bolsa em dezembro. A Jupiter estabeleceu o preço na ponta mais baixa da faixa esperada e é um dos grande negócios de melhor desempenho no Reino Unido neste ano, com valorização de 22,5% até sexta-feira, segundo a Dealogic.
Para Andy Brough, gestor de fundos da Schroders, isso é um bom exemplo de como abrir o capital de uma empresa. "A administração ainda tem uma grande participação acionária e eles conseguiram uma avaliação realista, que levou em conta a volatilidade do mercado. A colocação das ações foi feita por um executivo-chefe que as distribuiu para acionistas de longo prazo."
"Quando os mercados estão em alta, é fácil intimidar os investidores fazendo-os pensar que eles deveriam comprar ofertas, mas quando os mercados estão caindo, você pode muito bem comprar no mercado secundário. As coisas são sempre mais baratas quando você compra de segunda mão."
Os banqueiros estão na linha de fogo do fraco desempenho. Emmanuel Gueroult, diretor-adjunto de mercados de capitais do Morgan Stanley para a Europa, diz que os vendedores precisam escolher consultores que não tenham medo de dizer a eles o que pensam.
"A multiplicidade de coordenadores existentes hoje nas operações às vezes cria um comportamento perverso, a ponto de que pouquíssimos ousam ser totalmente transparentes com os vendedores a respeito das expectativas de preço."
Valor Econômico
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