
Já existem 45 FIDCs do setor, com R$ 2 bilhões de patrimônio, sob a guarda da CVM
Carolina Mandl, de São Paulo 19/08/2010
Sempre encarado com desconfiança por causa do ambiente de informalidade que o cerca, o setor de factorings começa a ganhar fôlego maior com a injeção de recursos de investidores do mercado de capitais. Empresas de fomento mercantil têm lançado fundos de direitos creditórios (FIDC) onde depositam seus recebíveis e que têm suas cotas compradas por investidores, principalmente de family offices. Estimulados pela perspectiva de crescimento do crédito no país, já existem 45 fundos de fomento empresarial, com cerca de R$ 2 bilhões de patrimônio, segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
De certa forma, esse movimento confere mais transparência ao segmento, que passa a se submeter à fiscalização da CVM nos FIDCs. As factorings, que acabam de ter uma regulamentação aprovada no Senado (o texto voltou para a Câmara), nunca ficaram sob a alçada do Banco Central porque o adiantamento de recursos praticado pelo fomento mercantil não é enquadrado como crédito. É o mesmo que fazem, por exemplo, as credenciadoras de cartões.
O movimento de migração das factorings para fundos começou por motivos fiscais. Enquanto uma factoring paga Imposto sobre Operações Financeiras a cada movimentação, o fundo está isento. No Imposto de Renda, se o antigo dono da factoring atuar como um cotista pessoa física do fundo, a alíquota de IR cai de 34% para 15%. "Cria-se um ambiente bem mais favorável para a operação", diz Eduardo Herszkowicz, advogado do escritório Souza, Cescon.
Mas os donos dessas empresas também estão sendo atraídos pela possibilidade de captar recursos no mercado e multiplicar em várias vezes o tamanho do seu negócio. Ao contrário das instituições financeiras, as empresas de fomento empresarial não podem alavancar suas atividades com dinheiro de terceiros. Com os fundos, isso se torna possível. O dono da factoring compra parte das cotas do fundo - em geral, aquelas que vão servir como uma espécie de colchão para garantir eventuais perdas da carteira, as cotas subordinadas - e captam mais dinheiro. Além do ganho com suas cotas, as factorings ainda lucram como consultoras de crédito, selecionando os papéis comprados. Algumas empresas ainda conservam as operações puras de factoring.
Em meio ao cenário de custos mais baixos e recursos mais abundantes, as taxas cobradas pelas factorings também estão em queda nos anos recentes, movimento que já incomoda os bancos voltados para médias empresas. "Agora atuamos de uma forma bem próxima à de um banco em termos de taxas oferecidas aos clientes", diz Marcos Mansur, sócio da SRM, antiga factoring que se transformou em uma gestora de fundos de fomento empresarial. Lançado em 2006, o primeiro fundo da SRM tinha R$ 20 milhões. Hoje são seis fundos com R$ 370 milhões de patrimônio e 220 investidores.
Entretanto, factorings de menor porte, com carteira inferior a R$ 5 milhões, não têm vantagem na migração para uma estrutura de fundo. Isso porque os custos com registro na CVM, custódia e agência de rating, por exemplo, podem acabar anulando os ganhos fiscais. "Está aumentando consideravelmente a concorrência neste setor. É difícil para as pequenas conseguirem equiparar suas taxas às de factoring com fundos", diz Hamilton de Brito Junior, vice-presidente do sindicato das empresas de São Paulo (Sinfac-SP) e sócio da Credere, que não tem ainda um fundo.
Em meio à explosão de lançamento de fundos de factorings, há um caso relevante de insucesso na indústria. O maior fundo, o Union Financeiros Mercantis, entrou em liquidação, deixando 17 cotistas com um prejuízo de R$ 800 milhões, conforme informou o Valor em 6 de agosto.
Carolina Mandl, de São Paulo 19/08/2010
Sempre encarado com desconfiança por causa do ambiente de informalidade que o cerca, o setor de factorings começa a ganhar fôlego maior com a injeção de recursos de investidores do mercado de capitais. Empresas de fomento mercantil têm lançado fundos de direitos creditórios (FIDC) onde depositam seus recebíveis e que têm suas cotas compradas por investidores, principalmente de family offices. Estimulados pela perspectiva de crescimento do crédito no país, já existem 45 fundos de fomento empresarial, com cerca de R$ 2 bilhões de patrimônio, segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
De certa forma, esse movimento confere mais transparência ao segmento, que passa a se submeter à fiscalização da CVM nos FIDCs. As factorings, que acabam de ter uma regulamentação aprovada no Senado (o texto voltou para a Câmara), nunca ficaram sob a alçada do Banco Central porque o adiantamento de recursos praticado pelo fomento mercantil não é enquadrado como crédito. É o mesmo que fazem, por exemplo, as credenciadoras de cartões.
O movimento de migração das factorings para fundos começou por motivos fiscais. Enquanto uma factoring paga Imposto sobre Operações Financeiras a cada movimentação, o fundo está isento. No Imposto de Renda, se o antigo dono da factoring atuar como um cotista pessoa física do fundo, a alíquota de IR cai de 34% para 15%. "Cria-se um ambiente bem mais favorável para a operação", diz Eduardo Herszkowicz, advogado do escritório Souza, Cescon.
Mas os donos dessas empresas também estão sendo atraídos pela possibilidade de captar recursos no mercado e multiplicar em várias vezes o tamanho do seu negócio. Ao contrário das instituições financeiras, as empresas de fomento empresarial não podem alavancar suas atividades com dinheiro de terceiros. Com os fundos, isso se torna possível. O dono da factoring compra parte das cotas do fundo - em geral, aquelas que vão servir como uma espécie de colchão para garantir eventuais perdas da carteira, as cotas subordinadas - e captam mais dinheiro. Além do ganho com suas cotas, as factorings ainda lucram como consultoras de crédito, selecionando os papéis comprados. Algumas empresas ainda conservam as operações puras de factoring.
Em meio ao cenário de custos mais baixos e recursos mais abundantes, as taxas cobradas pelas factorings também estão em queda nos anos recentes, movimento que já incomoda os bancos voltados para médias empresas. "Agora atuamos de uma forma bem próxima à de um banco em termos de taxas oferecidas aos clientes", diz Marcos Mansur, sócio da SRM, antiga factoring que se transformou em uma gestora de fundos de fomento empresarial. Lançado em 2006, o primeiro fundo da SRM tinha R$ 20 milhões. Hoje são seis fundos com R$ 370 milhões de patrimônio e 220 investidores.
Entretanto, factorings de menor porte, com carteira inferior a R$ 5 milhões, não têm vantagem na migração para uma estrutura de fundo. Isso porque os custos com registro na CVM, custódia e agência de rating, por exemplo, podem acabar anulando os ganhos fiscais. "Está aumentando consideravelmente a concorrência neste setor. É difícil para as pequenas conseguirem equiparar suas taxas às de factoring com fundos", diz Hamilton de Brito Junior, vice-presidente do sindicato das empresas de São Paulo (Sinfac-SP) e sócio da Credere, que não tem ainda um fundo.
Em meio à explosão de lançamento de fundos de factorings, há um caso relevante de insucesso na indústria. O maior fundo, o Union Financeiros Mercantis, entrou em liquidação, deixando 17 cotistas com um prejuízo de R$ 800 milhões, conforme informou o Valor em 6 de agosto.
Valor Econômico
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