
Companhias abertas respondem por mais de um terço do financiamento eleitoral, mas pouco divulgam sobre o tema.
Por Fernando Torres, Graziella Valenti e Silvia Fregoni, de São Paulo19/08/2010
As companhias abertas deixam muito a desejar em transparência quando a questão é doação à eleição. Apesar de essas empresas responderem por parte relevante do financiamento das campanhas, os acionistas pouco sabem sobre a prática tanto antes quanto depois das doações. Na campanha presidencial de 2006, por exemplo, as abertas foram responsáveis por mais de um terço dos recursos levantados pelos candidatos líderes.
A maioria das empresas não divulga ou não possui uma política sobre doações. Dessa forma, o investidor não consegue saber se é prática ou não destinar recursos a essa finalidade nem a estratégia por trás da medida. Para tomar conhecimento dos valores doados, precisam recorrer ao site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Mesmo após a contribuição, são raras as empresas que prestam contas aos seus acionistas. "As companhias deveriam ser mais transparentes. Afinal, o dinheiro é dos acionistas", destaca Alexandre Di Miceli, coordenador do Centro de Estudos em Governança (CEG), da Fipecafi. Segundo ele, o correto seria ter uma política divulgada. As decisões sobre a doação e os valores deveriam sempre passar pelo conselho de administração, diz.
As doações devem ser consideradas despesas nos balanços. Mas, se não são materialmente relevantes para o resultado, as empresas não são obrigadas pelas regras contábeis a detalhá-las. Uma das poucas que o fazem é a BM&FBovespa. Nas eleições municipais de 2008, doou R$ 2,6 milhões e divulgou em nota explicativa.
Embora a atual corrida à presidência esteja em fase de arrecadação, as companhias que foram as maiores doadoras entre as abertas em 2006 não informaram se pretendem colaborar neste ano nem com quanto.
Conforme a legislação, as empresas podem doar até 2% do faturamento bruto do ano anterior. A companhia de bebidas Ambev foi uma das poucas a dizer que deve contribuir em 2010. "Nossa participação, como sempre, será com valores bem inferiores ao limite." Segundo a empresa, a prática é "não privilegiar partidos, regiões ou grupos políticos, doando quantias proporcionais à representatividade dos mesmos".
O Itaú Unibanco destaca-se por ter política definida, e o investidor pode esperar uma permanente doação. Geraldo Soares, diretor de relações com investidores, diz que o objetivo é contribuir para a democracia. Assim, as doações são feitas em nome de partidos e não de candidatos. Em 2006, antes da fusão, o Itaú foi o segundo maior financiador de ambos os partidos.
O código de melhores práticas do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) recomenda que as empresas tenham política definida para doações em geral, não apenas as políticas. Gilberto Mifano, presidente do conselho do instituto, diz que a sugestão é que essa política traga uma descrição da relação entre a estratégia e o negócio, além da capacidade de geração de valor. Mifano não vê necessidade de comunicado para informar a doação. "Já seria bom se as empresas detalhassem o gasto em nota explicativa."
Di Miceli acredita que assunto merece mais atenção do que recebe atualmente no Brasil. Para ele, é importante que a empresa mostre que a doação está alinhada com sua estratégia. Caso contrário, quem deveria contribuir é o controlador e não a empresa, em que a despesa é dividida com os demais acionistas, que não participam da decisão.
No levantamento sobre 2006, o Valor identificou que alguns empresários fizeram doações como pessoa física. É o caso de Eike Batista, bilionário controlador do grupo EBX, que doou R$ 1 milhão a Lula. Neste ano, ele deve repetir o comportamento de contribuir como pessoa física. Os sócios da Grendene, Pedro e Alexandre Grendene, doaram R$ 1 milhão cada um ao candidato petista, além das contribuições feitas em nome da empresa, que destinou recursos também para Alckmin. O maior acionista da Porto Seguro, Jayme Garfinkel, doou como R$ 25 mil a Lula e R$ 50 mil ao tucano.
Por Fernando Torres, Graziella Valenti e Silvia Fregoni, de São Paulo19/08/2010
As companhias abertas deixam muito a desejar em transparência quando a questão é doação à eleição. Apesar de essas empresas responderem por parte relevante do financiamento das campanhas, os acionistas pouco sabem sobre a prática tanto antes quanto depois das doações. Na campanha presidencial de 2006, por exemplo, as abertas foram responsáveis por mais de um terço dos recursos levantados pelos candidatos líderes.
A maioria das empresas não divulga ou não possui uma política sobre doações. Dessa forma, o investidor não consegue saber se é prática ou não destinar recursos a essa finalidade nem a estratégia por trás da medida. Para tomar conhecimento dos valores doados, precisam recorrer ao site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Mesmo após a contribuição, são raras as empresas que prestam contas aos seus acionistas. "As companhias deveriam ser mais transparentes. Afinal, o dinheiro é dos acionistas", destaca Alexandre Di Miceli, coordenador do Centro de Estudos em Governança (CEG), da Fipecafi. Segundo ele, o correto seria ter uma política divulgada. As decisões sobre a doação e os valores deveriam sempre passar pelo conselho de administração, diz.
As doações devem ser consideradas despesas nos balanços. Mas, se não são materialmente relevantes para o resultado, as empresas não são obrigadas pelas regras contábeis a detalhá-las. Uma das poucas que o fazem é a BM&FBovespa. Nas eleições municipais de 2008, doou R$ 2,6 milhões e divulgou em nota explicativa.
Embora a atual corrida à presidência esteja em fase de arrecadação, as companhias que foram as maiores doadoras entre as abertas em 2006 não informaram se pretendem colaborar neste ano nem com quanto.
Conforme a legislação, as empresas podem doar até 2% do faturamento bruto do ano anterior. A companhia de bebidas Ambev foi uma das poucas a dizer que deve contribuir em 2010. "Nossa participação, como sempre, será com valores bem inferiores ao limite." Segundo a empresa, a prática é "não privilegiar partidos, regiões ou grupos políticos, doando quantias proporcionais à representatividade dos mesmos".
O Itaú Unibanco destaca-se por ter política definida, e o investidor pode esperar uma permanente doação. Geraldo Soares, diretor de relações com investidores, diz que o objetivo é contribuir para a democracia. Assim, as doações são feitas em nome de partidos e não de candidatos. Em 2006, antes da fusão, o Itaú foi o segundo maior financiador de ambos os partidos.
O código de melhores práticas do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) recomenda que as empresas tenham política definida para doações em geral, não apenas as políticas. Gilberto Mifano, presidente do conselho do instituto, diz que a sugestão é que essa política traga uma descrição da relação entre a estratégia e o negócio, além da capacidade de geração de valor. Mifano não vê necessidade de comunicado para informar a doação. "Já seria bom se as empresas detalhassem o gasto em nota explicativa."
Di Miceli acredita que assunto merece mais atenção do que recebe atualmente no Brasil. Para ele, é importante que a empresa mostre que a doação está alinhada com sua estratégia. Caso contrário, quem deveria contribuir é o controlador e não a empresa, em que a despesa é dividida com os demais acionistas, que não participam da decisão.
No levantamento sobre 2006, o Valor identificou que alguns empresários fizeram doações como pessoa física. É o caso de Eike Batista, bilionário controlador do grupo EBX, que doou R$ 1 milhão a Lula. Neste ano, ele deve repetir o comportamento de contribuir como pessoa física. Os sócios da Grendene, Pedro e Alexandre Grendene, doaram R$ 1 milhão cada um ao candidato petista, além das contribuições feitas em nome da empresa, que destinou recursos também para Alckmin. O maior acionista da Porto Seguro, Jayme Garfinkel, doou como R$ 25 mil a Lula e R$ 50 mil ao tucano.
Valor Econômica
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