Banco aposta em redes de varejo
Fernando Travaglini e Claudia Facchini, de São Paulo14/10/2009
Os bancos estão despejando bilhões de reais em recursos para turbinar suas parcerias com os varejistas, de olho na melhora das condições econômicas e no esperado aumento das vendas de fim de ano. O apetite se reflete em melhores condições de crédito ao consumo, com as redes de varejo deflagrando uma guerra de prazos nos parcelamentos sem juro para ganhar participação de mercado, disputa que só deve se acentuar com a aproximação do Natal. A Casas Bahia está com pagamentos em 17 vezes sem juros no cartão de crédito enquanto o Ponto Frio e o Extra chegam a até 15 vezes. Por trás dessa competição por prazos estão os dois maiores bancos privados do país, que sustentam o crédito dessas redes. "Temos alguns bilhões disponíveis para a área de cartões de redes de varejo até o fim do ano", diz Wagner Aguado, superintendente executivo da Bradesco Cartões, parceiro da Casas Bahia. Do outro lado, o Itaú Unibanco, ampliou não só os prazos no Ponto Frio e no Extra como elevou os limites de empréstimos em cerca de R$ 6 bilhões para os clientes do Wal-Mart, rede de supermercados que tem acordo com a instituição financeira. Com as condições econômicas menos nebulosas e a queda das taxas de inadimplência, os bancos retomaram seus esforços para dar sustentação à maior agressividade dos lojistas. "O nosso negócio depende do sucesso dos varejistas. Não posso atrapalhar o negócio deles", diz Aguado, do Bradesco. Mesmo quem trabalha com banco próprio está ampliando a concessão de crédito. O Banco Carrefour trabalha com prazos entre 10 e 15 vezes, mas em algumas promoções pode chegar a até 18 prestações iguais. O veículo para esse crescimento tem sido a venda parcelada no cartão de crédito, preferencialmente sem juros. As vendas a prazo podem responder por cerca de 60% do faturamento de fim de ano, estima José Tosi, ex-executivo da MasterCard que hoje presta consultoria por meio da Witbusiness. Segundo dados do Banco Central, o estoque de empréstimos para a compra a prazo sem juros atingiu R$ 56 bilhões em agosto, muitas vezes superior ao tradicional crédito direto ao consumidor, que está na casa dos R$ 9 bilhões de saldo e recuando mês-a-mês. Com a força dos cartões, viver sem uma parceria é cada vez mais difícil para o varejo. Alguns afirmam que não teriam condições financeiras de esticar as parcelas sem juros para um prazo acima de 12 vezes. Mais do que isso, o fluxo de caixa poderia ficar comprometido, afirma Gustavo Bach, diretor de marketing do site de varejo online Comprafácil. Isso acontece porque nas vendas parceladas o fluxo de recebimento do varejista segue a sequência de vencimento das prestações, ou seja, quanto mais longa a venda, mais demora para o varejista receber. Como não há diferença entre o preço à vista e a prazo, o lojista tem pouco interesse em ampliar os prazos. Entre as lojas virtuais, cujos pagamentos são feitos com cartão de crédito, o prazo vigente já está em 12 meses sem juros . Nos primeiros meses do ano, os sites haviam reduzido os parcelamentos sem juros para 10 ou 6 vezes. Mas o site da Casas Bahia mostrou que veio para disputar mercado nesse segundo semestre ao elevar os prazos para até 17 vezes sem juros. Por conta dessa dependência da venda a prazo, sempre que um varejista aumenta o número de prestações os concorrentes ligam imediatamente para seus bancos parceiros pedindo ampliação ainda maior do número de parcelas. "Ele ligam mesmo, porque o varejo é muito dinâmico", diz Aguado. Com a proximidade do fim de ano, esse tipo de pedido se intensifica. Essa é a cultura do varejo brasileiro e os bancos estão sendo obrigados a aceitar. "A Casas Bahia chega a até 24 vezes com juros. Esse aumento é fruto da nossa relação madura. O banco se esforça para atender necessidade do varejista, que precisa competir e conseguir aumentar o faturamento", completa o executivo do Bradesco. Mas essa concessão não é feita de graça, claro. Cada parceria tem suas características trabalhadas de forma diferentes. No caso do Bradesco, o contrato com as Casas Bahia prevê que o risco de inadimplência fique com a instituição financeira. Já com Lojas Colombo e Leader foi criada uma empresa que compartilha as perdas. No acordo entre Itaú Unibanco e Magazine Luiza também foi feita uma joint-venture para administrar uma financeira e os ganhos e perdas são repartidos. Em quase todos, no entanto, existe uma cláusula que cobra um determinado valor na medida em que aumenta o número de parcelas, explica Tosi. "É complicado para o banco emissor do cartão incentivar que esse prazo seja muito longo. A remuneração pelo risco não é suficiente. Deve haver acordo para que aconteça compensação pelo risco mais alto", afirma. O usual é que os bancos cobrem uma taxa de desconto para cada transação feita com o cartão. Se a compra é à vista, é cobrado um determinado valor, que sobe conforme aumenta o número de parcelas. Os bancos também estão enxergando uma possibilidade de ampliar a concessão de crédito em um segmento cuja inadimplência está sob controle e que é muito rentável, afinal eles pagam luvas para "comprar" esse canal de vendas, com acesso a clientes potenciais. Um exemplo de como esses acordos são bastante lucrativos é que o Itaú Unibanco pagou recentemente R$ 50 milhões ao Pão de Açucar para estender a sociedade na financeira que possuem até 2029. Porém, teve de pagar outros R$ 550 milhões quando da fusão dos dois bancos, pois o Unibanco tinha acordo com o Wal-Mart e ficou configurada quebra de exclusividade. O Pão de Açúcar também pagava ao banco multas por não atingir metas de desempenho estabelecidas para a carteira de crédito da financeira. A economia por não precisar mais pagar essas multas pode chegar a R$ 75 milhões neste ano.
O Itaú Unibanco também pagou recentemente R$ 120 milhões para fechar a parceria com as Lojas Marisa, sendo R$ 65 milhões apenas para assegurar a exclusividade no uso da base de clientes da rede no período do acordo. O banco também vinha trabalhando na renegociação do contrato com o Magazine Luiza na época em que o varejista tentava comprar o Ponto Frio. Além de pagar mais para renovar o prazo da parceria, o Itaú Unibanco avaliou que o modelo de negócio mudou, com a migração de pagamento via boletos bancários para cartões. O Bradesco aposta na compra do banco ibi, que pertencia à C&A e recentemente teve aprovação do Banco Central. Neste mês acontece assembleia para a troca de ações, mas um comitê de integração já trabalha no caso e os resultados estão "acima das expectativas", disse Aguado.
Fonte: O valor econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário