
Mercados: Decisão do BC americano aumenta apetite por títulos de renda fixa em reais
Cristiane Perini Lucchesi e Lucinda Pinto, de São Paulo 12/08/2010
A decisão do Fed (Banco Central americano) de voltar a comprar títulos do Tesouro americano traz ainda maior interesse em investimentos de renda fixa em reais, pois aumenta o diferencial entre os juros interno e externo para prazos mais longos. É boa notícia para o Tesouro Nacional, que vai poder vender seus títulos prefixados de prazos longo a juros menores, com destaque para os de vencimento em 2021, que pretende tornar um benchmark. Mas traz pressão extra de apreciação sobre o câmbio, o que significa mais trabalho para o Ministério da Fazenda e Banco Central para manter as cotações do dólar acima do R$ 1,75.
Ao comprar pela primeira vez títulos indexados à inflação, o Fed atua reduzindo juros de prazos mais longos e não apenas os nominais, mas também os reais, descontada a inflação. O investidor externo se vê ainda mais estimulado a fazer o "carry trade" com o real, por meio do qual o investidor se financia em dólares, pagando juros baixos, e investe nos polpudos juros brasileiros, assumindo o risco cambial (não faz hedge). Se o dólar subir contra o real, o investidor perde, mas se cair, ganha.
Com isso, estimula também a emissão de títulos de renda fixa de empresas e bancos brasileiros no exterior, o que aumenta o ingresso de recursos no país com maior pressão no câmbio. A taxa dos títulos do Tesouro americano é referência para esses papéis, sobre a qual recai o spread de risco-Brasil e o spread da empresa.
Ontem, após a decisão do Fed (que vai atuar sem aumentar seus passivos, hoje na casa dos US$ 2 trilhões), os juros dos títulos do Tesouro dos EUA de vencimento em dez anos caíram quase um ponto percentual (exatos 0,96 ponto), para 2,685% ao ano. É uma queda impressionante, de 26% em um dia.
Houve queda imediata nos juros de longo prazo em toda a América Latina, mas não na mesma proporção. Os projetados nos contratos futuros da BM&FBovespa de vencimento em 2017 foram a 11,64% ao ano, na comparação com os 11,70% de anteontem. O diferencial de taxas cresceu bruscamente de um dia para outro, de 8,055 pontos percentuais para 9,015 pontos.
Para investir em reais, os investidores externos compram diretamente títulos públicos ou passam a integrar fundos de renda fixa oferecidos especialmente para eles pelos bancos e grandes gestores. Os fundos de hedge atuam na BM&FBovespa, fazendo o "carry trade" nos mercados futuro de dólar e de DDI, o cupom cambial, que é o custo dos investimentos em dólar no país. Ficam vendidos em dólar em relação ao real. Essas posições, que estavam em US$ 6,4 bilhões anteontem, tendem a crescer. Ao aumentar a demanda pela moeda americana no mercado futuro, esse dólar fica caro em relação ao à vista, o que eleva o cupom cambial, que é justamente a diferença entre essas duas taxas.
Com o cupom mais polpudo, os próprios bancos brasileiros ficam estimulados a ficar vendidos em dólar no mercado à vista, pagando a Libor (taxa interbancária de Londres) e recebendo o cupom cambial mais curto. A decisão do Fed, portanto, aumenta também esse diferencial de juros nas transações de arbitragem dos bancos, que diferem do "carry trade" porque nelas não há risco cambial envolvido. As posições vendidas dos bancos são estimadas em US$ 9,7 bilhões.
A grande dúvida é como o governo vai reagir a um provável maior ingresso de dólares. Na primeira semana no mês, o ingresso foi de US$ 1,8 bilhão (o fluxo positivo foi todo financeiro) e o Banco Central comprou US$ 1,5 bilhão, segundo estima o Bradesco. Com isso, as reservas crescem. O Tesouro pode ajudar a comprar. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem declarado que não vai permitir mais valorização.
Ontem, o dólar subiu 0,68%, a R$ 1,770 na venda, maior preço em duas semanas. Mas, segundo Diego Donadio, estrategista do BNP Paribas, houve realização de lucros, pois parte dos analistas acreditava que o Fed seria ainda mais agressivo e injetaria liquidez no mercado, ampliando seus passivos. A decisão do Fed, segundo ele, reforça as expectativas de que as taxas de juros ficarão estáveis na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), no início de setembro.
Cristiane Perini Lucchesi e Lucinda Pinto, de São Paulo 12/08/2010
A decisão do Fed (Banco Central americano) de voltar a comprar títulos do Tesouro americano traz ainda maior interesse em investimentos de renda fixa em reais, pois aumenta o diferencial entre os juros interno e externo para prazos mais longos. É boa notícia para o Tesouro Nacional, que vai poder vender seus títulos prefixados de prazos longo a juros menores, com destaque para os de vencimento em 2021, que pretende tornar um benchmark. Mas traz pressão extra de apreciação sobre o câmbio, o que significa mais trabalho para o Ministério da Fazenda e Banco Central para manter as cotações do dólar acima do R$ 1,75.
Ao comprar pela primeira vez títulos indexados à inflação, o Fed atua reduzindo juros de prazos mais longos e não apenas os nominais, mas também os reais, descontada a inflação. O investidor externo se vê ainda mais estimulado a fazer o "carry trade" com o real, por meio do qual o investidor se financia em dólares, pagando juros baixos, e investe nos polpudos juros brasileiros, assumindo o risco cambial (não faz hedge). Se o dólar subir contra o real, o investidor perde, mas se cair, ganha.
Com isso, estimula também a emissão de títulos de renda fixa de empresas e bancos brasileiros no exterior, o que aumenta o ingresso de recursos no país com maior pressão no câmbio. A taxa dos títulos do Tesouro americano é referência para esses papéis, sobre a qual recai o spread de risco-Brasil e o spread da empresa.
Ontem, após a decisão do Fed (que vai atuar sem aumentar seus passivos, hoje na casa dos US$ 2 trilhões), os juros dos títulos do Tesouro dos EUA de vencimento em dez anos caíram quase um ponto percentual (exatos 0,96 ponto), para 2,685% ao ano. É uma queda impressionante, de 26% em um dia.
Houve queda imediata nos juros de longo prazo em toda a América Latina, mas não na mesma proporção. Os projetados nos contratos futuros da BM&FBovespa de vencimento em 2017 foram a 11,64% ao ano, na comparação com os 11,70% de anteontem. O diferencial de taxas cresceu bruscamente de um dia para outro, de 8,055 pontos percentuais para 9,015 pontos.
Para investir em reais, os investidores externos compram diretamente títulos públicos ou passam a integrar fundos de renda fixa oferecidos especialmente para eles pelos bancos e grandes gestores. Os fundos de hedge atuam na BM&FBovespa, fazendo o "carry trade" nos mercados futuro de dólar e de DDI, o cupom cambial, que é o custo dos investimentos em dólar no país. Ficam vendidos em dólar em relação ao real. Essas posições, que estavam em US$ 6,4 bilhões anteontem, tendem a crescer. Ao aumentar a demanda pela moeda americana no mercado futuro, esse dólar fica caro em relação ao à vista, o que eleva o cupom cambial, que é justamente a diferença entre essas duas taxas.
Com o cupom mais polpudo, os próprios bancos brasileiros ficam estimulados a ficar vendidos em dólar no mercado à vista, pagando a Libor (taxa interbancária de Londres) e recebendo o cupom cambial mais curto. A decisão do Fed, portanto, aumenta também esse diferencial de juros nas transações de arbitragem dos bancos, que diferem do "carry trade" porque nelas não há risco cambial envolvido. As posições vendidas dos bancos são estimadas em US$ 9,7 bilhões.
A grande dúvida é como o governo vai reagir a um provável maior ingresso de dólares. Na primeira semana no mês, o ingresso foi de US$ 1,8 bilhão (o fluxo positivo foi todo financeiro) e o Banco Central comprou US$ 1,5 bilhão, segundo estima o Bradesco. Com isso, as reservas crescem. O Tesouro pode ajudar a comprar. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem declarado que não vai permitir mais valorização.
Ontem, o dólar subiu 0,68%, a R$ 1,770 na venda, maior preço em duas semanas. Mas, segundo Diego Donadio, estrategista do BNP Paribas, houve realização de lucros, pois parte dos analistas acreditava que o Fed seria ainda mais agressivo e injetaria liquidez no mercado, ampliando seus passivos. A decisão do Fed, segundo ele, reforça as expectativas de que as taxas de juros ficarão estáveis na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), no início de setembro.
Valor Econômico
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