
Bancos: Enquanto isso, Itaú Unibanco trilha sozinho o caminho da internacionalização
Aline Lima, de São Paulo 10/08/2010
Aline Lima, de São Paulo 10/08/2010
Mais uma parceria firmada entre Bradesco e Banco do Brasil (BB) deixa clara a existência de um movimento de polarização no sistema financeiro brasileiro. Enquanto Itaú Unibanco trilha sozinho o caminho da internacionalização, Bradesco e BB unem forças para conquistar não só novos mercados como também aprimorar a gestão de seus negócios. Ontem, Bradesco e BB assinaram um memorando de entendimentos com o português Banco Espírito Santo (BES) para iniciar atividades no continente africano. A iniciativa vem se somar à criação de uma holding que irá relançar a bandeira de cartões elo, além de um projeto de compartilhamento dos terminais de autoatendimento (ATMs). Ambos os empreendimentos ganharam, ontem, a adesão também da Caixa Econômica Federal (CEF). O compartilhamento de caixas inclui ainda o Santander.
Embora essas parcerias contem com a presença de outras instituições financeiras, é a dobradinha Bradesco e BB que se repete em todas elas. "Temos muitas afinidades, 'know how' e disposição. Essa visão convergente vai ser aplicada naquilo que pode ser compartilhado", afirma Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco. "O Santander, por exemplo, que está conosco no projeto de ATMs, no segmento de cartões optou por ter a própria credenciadora", observa ele. De seu lado, o Itaú Unibanco age, no momento, para concluir o processo de licença bancária e se instalar na Suíça.
O convite para participar da holding BES África partiu, segundo Trabuco, do banco português. As conversas entre eles têm sido mantidas desde janeiro. A iniciativa não implica, na opinião do executivo, em uma revisão da estratégia do Bradesco, de foco no mercado nacional. "Trata-se de uma oportunidade, assim como foi a compra das operações do IBI no México", diz. O Bradesco conta com participação acionária de 6% no BES, e o BES, por sua vez, com uma fatia de 4% no capital do banco da Cidade de Deus.
Mas é fato que a exploração de atividade comercial bancária na África, principalmente em Angola e Moçambique, pode ser considerada a primeira grande tacada do Bradesco no mercado internacional. O banco conta com operações em Nova York, Luxemburgo e Londres, porém voltadas para a área de mercado de capitais. "Depois da América Latina, a África é a última fronteira econômica a ser explorada", afirma Trabuco. "Angola produz a mesma quantidade de petróleo que o Brasil. Por que deixar de experimentar?", questiona ele.
Já no caso do Banco do Brasil, a África aparece como o quarto destino internacional da instituição, depois de Japão, Estados Unidos e Argentina. "Vamos concluir, em breve, a participação em mais um país sul americano", afirma Alan Toledo, vice-presidente de negócios internacionais do BB. Até o fim do ano, o BB deve comprar ainda um banco nos Estados Unidos. As estratégias diferem de região para região. "Enquanto nos Estados Unidos e Japão os imigrantes brasileiros são o foco, na África e Argentina a ideia é apoiar empresas brasileiras, além de explorar o varejo local", explica Toledo.
As definições sobre a participação de cada sócio na BES África serão tomadas num prazo de até 90 dias. O valor a ser investido por Bradesco e Banco do Brasil vai depender da avaliação patrimonial da holding, a ser concluída nesse período. Toledo adianta, no entanto, que os custos não serão significativos se levados em consideração o tamanho das duas instituições. Da mesma forma, a marca a ser escolhida para operar no mercado africano passará por discussão. É possível que haja até uma marca diferente para cada país, já que alguns deles têm línguas diferentes, ou que se opte pela manutenção do nome BES. "No caso da Argentina, por exemplo, Patagônia é um nome muito forte para se manter", compara Toledo. O risco da empreitada, na avaliação de Trabuco, do Bradesco, é baixo, uma vez que a operação já existe. O perigo de que falte recursos para investimentos em infraestrutura no Brasil é também minimizado pelos executivos do Bradesco e do BB.
Valor Econômico
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