As empresas estão correndo para aproveitar o momento de taxas em queda e volta da oferta de linhas de crédito para renegociar seus empréstimos feitos no auge da crise. Além de reduzir custos, há um temor de que com a expectativa de alta da Selic no próximo ano os bancos puxem novamente os juros bancários para cima.
Na verdade, um movimento de elevação de taxas já começou para alguns nichos de mercado, como mostram dados preliminares de outubro divulgados pelo Banco Central. Mas a forte competição que se desenha para o fim do ano pode trazer o custo dos empréstimos ainda um pouco mais para baixo.
"Temos de reduzir as taxas para nos mantermos competitivos", diz Nilton Pelegrino, diretor de crédito do Bradesco. Silvio de Carvalho, diretor do Itaú Unibanco, acredita que ainda há espaço para o spread "cair um pouco" em função da melhora do risco de crédito.
Pouco antes de atender o Valor, a superintendente financeira da indústria de cosméticos Beraca, Ana Paula Sudan, fechou uma operação de capital de giro com taxas de CDI mais 0,48% ao mês, metade do custo das linhas obtidas no primeiro semestre deste ano. "Além da necessidade de caixa, tivemos problemas de inadimplência de clientes, o que sangrou nosso caixa. Tivemos de captar recursos no começo do ano e agora estamos trocando por operações mais baratas para redistribuir nosso endividamento", diz.
No primeiro semestre do ano, quando as condições ainda eram bastante desfavoráveis, empresas de médio porte que precisaram de capital tiveram de assumir spread cerca de três vezes superior ao período pré-crise. Os prazos também encolheram e a carência desapareceu.
Agora, o juro voltou a cair e os prazos se alargaram. Na Beraca, que fatura R$ 100 milhões ao ano, a linha passou de doze para 24 meses, com uma carência de três meses para o pagamento. "Essa folga é importante nesse período de fim de ano por conta dos gastos de folha de pagamento e de férias", completou a executiva.
O diretor financeiro de uma empresa de porte médio também relata que fechou uma operação de capital de giro com juros de CDI mais 0,8% ao mês, prazo de doze meses e garantia de 50% em duplicatas. "São as mesmas bases e no mesmo banco de antes da crise", diz o executivo que prefere não se identificar. No auge da turbulência, esse spread de 0,8% chegou a subir para 4%.
O cenário de oferta abundante de crédito e briga por taxas é ainda mais agressivo no segmento de grandes empresas. "Recebemos muitas ligações na nossa tesouraria para tomar preço e os juros estão cada vez menores. No atacado há uma verdadeira guerra de taxas", relatou o diretor de um grande banco.
"Eu não preciso de crédito, mas se você me oferecer uma taxa mais baixa eu quito minha dívida com o outro banco e faço uma operação com a sua instituição". Esse é o discurso mais ouvido pelos executivos que trabalham nesse nicho.
Já existe até mesmo uma volta, ainda lenta, dos planos de investimentos das empresas de porte médio, relata Maércio Soncini, vice-presidente do Banco Fibra. Segundo ele, as conversas ainda estão limitadas a companhias com bom crescimento, dos setores de bens duráveis ou da cadeia imobiliária, por exemplo.
Esse cenário, no entanto, está restrito a poucas companhias que contam com oferta abundante de crédito e podem tomar empréstimos com taxas flutuantes - atreladas à variação do DI. No segmento de pequenas empresas, ainda há escassez de recursos e os juros, que são prefixados, voltaram a apontar para cima.
A referência dos bancos para definir suas taxas prefixadas para os clientes são os juros negociados no mercado futuro. Quando a tesouraria do banco olha para esse mercado, as taxas de um ano, que casam com o prazo dos empréstimos, já estão mais altas do que nos meses anteriores. Isso encarece a captação das instituições e parte já é repassada para o custo final das linhas.
O swap de 360 dias, considerado o piso do crédito bancário em termos de custo de captação, que chegou a 9,18% entre julho e agosto, fechou outubro em 9,92% - próximo ao patamar de abril. A consequência é que nos empréstimos que usam taxas prefixadas, como as linhas para pessoas físicas e pequenas empresas, já não há muito espaço para queda das taxas de juros.
De fato, dados preliminares do Banco Central referentes ao mês de outubro mostraram que o juro médio para empresas subiu de 26,3% ao ano, para 26,4% ao ano. Nas linhas para os pessoas físicas, essa alta foi mais forte, passando de 43,6% ao ano para 46% ao ano.
A explicação, segundo o diretor de um grande banco, é que a elevação da taxa básica é algo inevitável. "Com certeza a Selic vai subir no próximo ano e por isso acho que não há mais espaço para quedas no juro bancário".
Por outro lado, os prazos ainda podem se estender. Em algumas modalidades de crédito, como no financiamento de veículos, o número de parcelas é ainda mais efetivo do que redução dos juros para estimular as compras. Especificamente nessas linhas houve um encurtamento no número de prestações e se tornou mais comum parcelamentos em até 48 meses, contra os famosos 60 meses vistos no ano passado.
Além disso, com as margens mais comprimidas pela redução do apetite por crédito nos trimestres anteriores, analistas acreditam que as instituições possam aproveitas a volta do crédito para recuperar parte da rentabilidade no último trimestre e salvar o balanço do ano. O Santander, por exemplo, anunciou que está reformulando sua área de veículos para privilegiar retorno em detrimento de volume.
Fonte O valor Econômico
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