Captação: Padronização do título ajudaria a formar mercado, mas daria transparência a custos
As letras financeiras estão encontrando dificuldade para atingir um dos principais objetivos de sua criação em dezembro do ano passado: alongar o prazo de captação dos bancos de pequeno e médio portes.
Até agora, os R$ 8,1 bilhões em emissões que aconteceram estão concentrados nos grandes bancos, como Bradesco, Santander, Itaú e Banco do Brasil. Diversas instituições de menor porte afirmaram ao Valor não ter intenção de vender letras financeiras no curto prazo. "É uma excelente iniciativa, mas que não pegou por não trazer vantagem nem para os investidores, nem para os bancos", afirma Juliana Guimarães, diretora de investimentos do mineiro Bonsucesso.
Em uma ponta, os investidores não querem comprar um papel que tenha um vencimento de dois anos - prazo mínimo da letra - de instituições de pequeno e médio sem receber um prêmio pela falta de liquidez, vantagem dada hoje pelos Certificados de Depósito Bancário (CDBs). No outro extremo, os bancos não querem elevar seus custos de captação.
O dilema vem travando o lançamento das letras pelos bancos de menor porte. A própria Caixa Econômica Federal, banco do governo, já afirmou em entrevistas anteriores que o custo da operação via letra é elevado hoje.
"O fato de a letra financeira não poder ser resgatada antes de dois anos não é uma vantagem em si que mereça ser recompensada pelos bancos. Na prática, espera-se que o CDB também não seja resgatado antes do vencimento. Isso só não vai ocorrer em um momento de crise. Então, por que vou pagar mais se não estou esperando nenhum estresse?", diz Cristiano Gomes, diretor financeiro do banco Mercantil do Brasil.
Bancos como o PanAmericano e o Paraná, por exemplo, vêm preferindo realizar emissões externas e de CDBs. "Não basta criar um novo nome de produto. O investidor ainda quer liquidez", avalia Luís Palhares, tesoureiro do PanAmericano, em entrevista na semana passada. "Houve uma leitura equivocada. Ninguém dá dinheiro por prazo longo para banco médio sem ter liquidez", avalia Luis César Miara, diretor financeiro do Paraná Banco.
O impasse seria resolvido, na avaliação dos bancos, com o desenvolvimento de um mecanismo de revenda dos títulos entre investidores, o chamado mercado secundário. Por meio dele é que os compradores de letras financeiras teriam a desejada liquidez, sem cobrar um prêmio dos bancos.
O Daycoval ia testar o instrumento, mas acabou voltando atrás. Segundo Morris Dayam, diretor de relações com investidores do banco, os investidores estavam pedido prêmios superiores ao do CDB, o que acabou por inviabilizar a iniciativa. Segundo ele, a letra financeira só vai dar certo quando tiver mercado secundário.
"Para se alcançar isso, os títulos deveriam passar por um processo de padronização de termos e condições, o que no fim levaria o investidor a reconhecer o custo de captação de cada banco", afirma Arturo Profili, gestor da Capitânia.
Por enquanto, as ofertas que ocorreram foram privadas, já que a Comissão de Valores Mobiliários ainda trabalha na criação de regras que permitam a venda do papel a um público mais amplo. "As ofertas tiveram muito pouca transparência até agora. Ninguém sabe direito quanto se pagou, qual o prazo dos papéis e quem foram os compradores", diz Ricardo Gelbaun, diretor financeiro do BMG.
Outros dois bancos ouvidos pelo Valor, Pine, e Intercap, estão animados com as letras, apesar de ainda não terem feito emissões. "É preciso parar com essa mentalidade de liquidez diária. Quem quiser isso vai ter de aceitar receber menos", afirma Clive Botelho, vice-presidente comercial do banco Pine.
Para Alfredo Moraes, vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a principal vantagem que o instrumento pode trazer para os bancos de menor porte é o fato de poderem conter garantias capazes de melhorar sua classificação de risco, tornando-a superior àquela atribuída ao próprio banco emissor. Em tese, isso poderia reduzir o custo de captação das instituições.
O Banco Central, porém, vem dando pistas de que não quer mais que os bancos fiquem tão dependentes das vendas de CDBs. A instituição já informou ao mercado que, a partir de agora, é a letra financeira que deve ser usada como veículo de emissão de dívida subordinada, aquela que conta como capital para o banco. (Colaborou Aline Lima).
As letras financeiras estão encontrando dificuldade para atingir um dos principais objetivos de sua criação em dezembro do ano passado: alongar o prazo de captação dos bancos de pequeno e médio portes.
Até agora, os R$ 8,1 bilhões em emissões que aconteceram estão concentrados nos grandes bancos, como Bradesco, Santander, Itaú e Banco do Brasil. Diversas instituições de menor porte afirmaram ao Valor não ter intenção de vender letras financeiras no curto prazo. "É uma excelente iniciativa, mas que não pegou por não trazer vantagem nem para os investidores, nem para os bancos", afirma Juliana Guimarães, diretora de investimentos do mineiro Bonsucesso.
Em uma ponta, os investidores não querem comprar um papel que tenha um vencimento de dois anos - prazo mínimo da letra - de instituições de pequeno e médio sem receber um prêmio pela falta de liquidez, vantagem dada hoje pelos Certificados de Depósito Bancário (CDBs). No outro extremo, os bancos não querem elevar seus custos de captação.
O dilema vem travando o lançamento das letras pelos bancos de menor porte. A própria Caixa Econômica Federal, banco do governo, já afirmou em entrevistas anteriores que o custo da operação via letra é elevado hoje.
"O fato de a letra financeira não poder ser resgatada antes de dois anos não é uma vantagem em si que mereça ser recompensada pelos bancos. Na prática, espera-se que o CDB também não seja resgatado antes do vencimento. Isso só não vai ocorrer em um momento de crise. Então, por que vou pagar mais se não estou esperando nenhum estresse?", diz Cristiano Gomes, diretor financeiro do banco Mercantil do Brasil.
Bancos como o PanAmericano e o Paraná, por exemplo, vêm preferindo realizar emissões externas e de CDBs. "Não basta criar um novo nome de produto. O investidor ainda quer liquidez", avalia Luís Palhares, tesoureiro do PanAmericano, em entrevista na semana passada. "Houve uma leitura equivocada. Ninguém dá dinheiro por prazo longo para banco médio sem ter liquidez", avalia Luis César Miara, diretor financeiro do Paraná Banco.
O impasse seria resolvido, na avaliação dos bancos, com o desenvolvimento de um mecanismo de revenda dos títulos entre investidores, o chamado mercado secundário. Por meio dele é que os compradores de letras financeiras teriam a desejada liquidez, sem cobrar um prêmio dos bancos.
O Daycoval ia testar o instrumento, mas acabou voltando atrás. Segundo Morris Dayam, diretor de relações com investidores do banco, os investidores estavam pedido prêmios superiores ao do CDB, o que acabou por inviabilizar a iniciativa. Segundo ele, a letra financeira só vai dar certo quando tiver mercado secundário.
"Para se alcançar isso, os títulos deveriam passar por um processo de padronização de termos e condições, o que no fim levaria o investidor a reconhecer o custo de captação de cada banco", afirma Arturo Profili, gestor da Capitânia.
Por enquanto, as ofertas que ocorreram foram privadas, já que a Comissão de Valores Mobiliários ainda trabalha na criação de regras que permitam a venda do papel a um público mais amplo. "As ofertas tiveram muito pouca transparência até agora. Ninguém sabe direito quanto se pagou, qual o prazo dos papéis e quem foram os compradores", diz Ricardo Gelbaun, diretor financeiro do BMG.
Outros dois bancos ouvidos pelo Valor, Pine, e Intercap, estão animados com as letras, apesar de ainda não terem feito emissões. "É preciso parar com essa mentalidade de liquidez diária. Quem quiser isso vai ter de aceitar receber menos", afirma Clive Botelho, vice-presidente comercial do banco Pine.
Para Alfredo Moraes, vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a principal vantagem que o instrumento pode trazer para os bancos de menor porte é o fato de poderem conter garantias capazes de melhorar sua classificação de risco, tornando-a superior àquela atribuída ao próprio banco emissor. Em tese, isso poderia reduzir o custo de captação das instituições.
O Banco Central, porém, vem dando pistas de que não quer mais que os bancos fiquem tão dependentes das vendas de CDBs. A instituição já informou ao mercado que, a partir de agora, é a letra financeira que deve ser usada como veículo de emissão de dívida subordinada, aquela que conta como capital para o banco. (Colaborou Aline Lima).
Fonte: Valor Econômico
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