Carolina Mandl, de São Paulo 06/08/2010
O fundo entrou em liquidação e tenta agora recuperar os créditos, mas as previsões mais otimistas não ultrapassam o ressarcimento de 40% do valor investido.
Um grupo de 17 investidores, quase todos "hedge funds" estrangeiros e um fundo de pensão brasileiro, perdeu boa parte de um total de R$ 800 milhões que aplicaram em um fundo de direitos creditórios, o Union National Financeiros e Mercantis. Os cotistas descobriram que o dinheiro investido em uma carteira com histórico de baixo nível de inadimplência tinha virado pó em setembro de 2009 - 96,2% dos créditos estavam atrasados. O fundo entrou em liquidação e tenta agora recuperar os créditos, mas as previsões mais otimistas não ultrapassam o ressarcimento de 40% do valor investido. A Union National, que criou o fundo, é uma empresa de factoring fundada em 1995. Além de idealizadora, ela era a cedente, a consultora de créditos e o agente de cobrança do Union.
Os sócios da Union, Maurice Kattan e André Kamkhaji, decidiram em 2006 replicar a operação da factoring em um fundo de direitos creditórios, permitindo que investidores participassem da atividade. Era uma forma de crescer sem ter de adicionar recursos próprios. O ganho da Union viria da prestação de serviço como consultoria de crédito, já que selecionava os papéis comprados pelo fundo, recebendo por isso cerca de 0,5% do patrimônio líquido ao ano.
Em fevereiro de 2006, a factoring, que girava cerca de R$ 70 milhões em operações de fomento, criou um fundo que começou com R$ 50 milhões, e parte dos créditos da própria Union migraria para a nova estrutura. Com a ajuda da distribuidora BCP Securities, o fundo captou recursos no exterior por meio de emissões de cotas entre setembro de 2006 e setembro de 2008, atingindo patrimônio de cerca de R$ 800 milhões, mais de dez vezes o porte da Union. Nesse período o fundo pagou aos cotistas rentabilidade equivalente a cerca de 140% do Certificado de Depósito Interfinanceiro.
Investidores consultados pelo Valor chamam a atenção para o fato de repentinamente a carteira ter se deteriorado. De março a setembro de 2009, a classificação de risco passou de "A+" para "CCC", segundo a agência Austin Ratings. O volume de créditos vencidos saiu de 13% para 96,2%. Segundo a Austin, o prazo de vencimento dos créditos da carteira foi se esticando. De uma média histórica de 90 dias, o fundo passou a 185 dias em meados de 2009. "Esse sempre é um indicador de postergação de problemas. Estica-se o prazo para ver se a empresa consegue quitar a dívida", explica Mauricio Bassi, da Austin.
Procurado pelo Valor, Kattan enviou e-mail afirmando que o FIDC está em fase de renegociação dos créditos. "Já tem uma grande parte dos devedores renegociados, e o resto em processos judiciais", escreveu.
Valor Econômico
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