Ritmo de produção e taxa de juros podem provocar diferença de US$ 7 no valor previsto para o petróleo que será vendido à Petrobras.
Por Fernando Torres, de São Paulo 23/08/2010
Leo Pinheiro/Valor Economico
Prédio da Petrobras no Rio: custo de exploração do pré-sal ainda é incógnita
Existe explicação para que haja diferenças relevantes de preço quando se tenta aferir o valor "justo" de um barril de petróleo que ainda será explorado, como no caso da venda de 5 bilhões de barris pela União à Petrobras, com intuito de fazer um aumento de capital na estatal.
Para se chegar a um preço considerado correto para o óleo, os especialistas precisam fazer diversas contas, que envolvem inúmeras premissas. Qualquer pequena mudança nas variáveis afeta o resultado final.
A primeira conta que é preciso fazer é descobrir a receita que a Petrobras terá com a venda dos 5 bilhões de barris no futuro. Se eles já estivessem estocados e fossem todos vendidos hoje, bastaria multiplicar o número de barris pelo preço do petróleo no mercado internacional. Mas não é o caso: eles estão enterrados a quilômetros de distância debaixo da terra e a centenas de quilômetros da costa brasileira.
Assim, é preciso estimar uma curva de produção para saber quando os barris cedidos nessa operação começarão a ser retirados da camada pré-sal. Os especialistas calculam um prazo de cinco a dez anos para o início da produção. Para que se ganhe escala e se atinja o pico, levaria mais alguns anos. Segundo previsões de mercado, os 5 bilhões só terminariam de ser retirados da camada pré-sal daqui a mais de 30 anos, depois de 2040.
Com base na produção anual estimada, multiplica-se o número de barris por um preço, também projetado, para o petróleo no mercado internacional no futuro. A maior parte dos analistas trabalha com um intervalo de US$ 70 a US$ 80, sendo que o preço do óleo retirado pela Petrobras pode sofrer um desconto, tendo em vista sua composição.
Feito isso, é preciso levar em conta também o custo de exploração do petróleo (que envolve a perfuração dos poços) e também de produção, depois que as plataformas estiverem operando. Isso pode variar de US$ 10 a US$ 20, dependendo das premissas. Nesse caso, ressalta-se que ainda não há informações suficientes sobre o custo de extração do petróleo da camada pré-sal, uma fronteira ainda desconhecida.
Depois de se encontrar o lucro bruto nominal que será obtido com a venda do petróleo no futuro, é preciso saber quanto esse dinheiro, que entrará nos cofres da Petrobras ao longo de mais de 30 anos, valeria a preço de hoje, uma vez que os juros fazem o valor do dinheiro mudar no tempo.
Para fazer isso, os analistas usam taxas de desconto, normalmente tendo como referência a taxa básica de juros do país (podendo ser maior ou menor), que acreditam ser o custo de capital da companhia envolvida. Assim, eles trazem os fluxos futuros de caixa da companhia a valor presente.
Esse valor tem que ser mais do que suficiente para cobrir o preço que a Petrobras pagará ao governo agora pelos 5 bilhões de barris e também para garantir uma margem de lucro à companhia.
Dadas as incertezas envolvidas no processo de produção, e que os campos que serão cedidos não são de reservas provadas, a estatal quer pagar o mínimo possível para tentar garantir que, no caso de a realidade ser muito pior do que foi calculado, ela ainda assim não saia no prejuízo.
Da mesma forma, a União não quer que o barril seja vendido com base no cenário mais pessimista traçado, para não dar um lucro excessivo à companhia.
Em relatório divulgado no fim de maio a investidores, o Credit Suisse apresentou simulações que encontravam valores bastante diferentes para os barris, a depender das premissas usadas.
Num cenário favorável de petróleo a US$ 80 no mercado internacional, taxa de desconto de 7,5% e produção em grande escala a partir de 2015, o banco apontava o barril a US$ 10,5.
Numa condição mais desafiadora de petróleo a US$ 70, taxa de desconto de 10% e produção em grande escala a partir de 2019, o preço justo cai a US$ 3,6. Nos dois exemplos, o banco considerou custo de produção de US$ 10 por barril.
O cenário base do banco, na época, era de barril a US$ 6, com taxa de desconto de 7,5%, mas produção em grandes volumes apenas a partir de 2019.
Na semana passada, o J.P. Morgan também divulgou estudos sobre o preço do barril. Tendo como premissa uma produção mais rápida do que a prevista anteriormente para a exploração do campo de Franco (um dos que devem ser cedidos pela União), o banco diz que o preço do barril subiria a US$ 6, ante previsão anterior de US$ 4,5, no cenário base.
Nos comunicados divulgados pela estatal ao mercado, ela mesma alertava sobre a disparidade dos preços em operações envolvendo cessão de reservas em todo o mundo. Entre 2008 e agosto de 2009, houve mais de 200 operações desse tipo. O valor do preço do barril nessas transações variou entre US$ 0,77 e US$ 17,63.
Por Fernando Torres, de São Paulo 23/08/2010
Leo Pinheiro/Valor Economico
Prédio da Petrobras no Rio: custo de exploração do pré-sal ainda é incógnita
Existe explicação para que haja diferenças relevantes de preço quando se tenta aferir o valor "justo" de um barril de petróleo que ainda será explorado, como no caso da venda de 5 bilhões de barris pela União à Petrobras, com intuito de fazer um aumento de capital na estatal.
Para se chegar a um preço considerado correto para o óleo, os especialistas precisam fazer diversas contas, que envolvem inúmeras premissas. Qualquer pequena mudança nas variáveis afeta o resultado final.
A primeira conta que é preciso fazer é descobrir a receita que a Petrobras terá com a venda dos 5 bilhões de barris no futuro. Se eles já estivessem estocados e fossem todos vendidos hoje, bastaria multiplicar o número de barris pelo preço do petróleo no mercado internacional. Mas não é o caso: eles estão enterrados a quilômetros de distância debaixo da terra e a centenas de quilômetros da costa brasileira.
Assim, é preciso estimar uma curva de produção para saber quando os barris cedidos nessa operação começarão a ser retirados da camada pré-sal. Os especialistas calculam um prazo de cinco a dez anos para o início da produção. Para que se ganhe escala e se atinja o pico, levaria mais alguns anos. Segundo previsões de mercado, os 5 bilhões só terminariam de ser retirados da camada pré-sal daqui a mais de 30 anos, depois de 2040.
Com base na produção anual estimada, multiplica-se o número de barris por um preço, também projetado, para o petróleo no mercado internacional no futuro. A maior parte dos analistas trabalha com um intervalo de US$ 70 a US$ 80, sendo que o preço do óleo retirado pela Petrobras pode sofrer um desconto, tendo em vista sua composição.
Feito isso, é preciso levar em conta também o custo de exploração do petróleo (que envolve a perfuração dos poços) e também de produção, depois que as plataformas estiverem operando. Isso pode variar de US$ 10 a US$ 20, dependendo das premissas. Nesse caso, ressalta-se que ainda não há informações suficientes sobre o custo de extração do petróleo da camada pré-sal, uma fronteira ainda desconhecida.
Depois de se encontrar o lucro bruto nominal que será obtido com a venda do petróleo no futuro, é preciso saber quanto esse dinheiro, que entrará nos cofres da Petrobras ao longo de mais de 30 anos, valeria a preço de hoje, uma vez que os juros fazem o valor do dinheiro mudar no tempo.
Para fazer isso, os analistas usam taxas de desconto, normalmente tendo como referência a taxa básica de juros do país (podendo ser maior ou menor), que acreditam ser o custo de capital da companhia envolvida. Assim, eles trazem os fluxos futuros de caixa da companhia a valor presente.
Esse valor tem que ser mais do que suficiente para cobrir o preço que a Petrobras pagará ao governo agora pelos 5 bilhões de barris e também para garantir uma margem de lucro à companhia.
Dadas as incertezas envolvidas no processo de produção, e que os campos que serão cedidos não são de reservas provadas, a estatal quer pagar o mínimo possível para tentar garantir que, no caso de a realidade ser muito pior do que foi calculado, ela ainda assim não saia no prejuízo.
Da mesma forma, a União não quer que o barril seja vendido com base no cenário mais pessimista traçado, para não dar um lucro excessivo à companhia.
Em relatório divulgado no fim de maio a investidores, o Credit Suisse apresentou simulações que encontravam valores bastante diferentes para os barris, a depender das premissas usadas.
Num cenário favorável de petróleo a US$ 80 no mercado internacional, taxa de desconto de 7,5% e produção em grande escala a partir de 2015, o banco apontava o barril a US$ 10,5.
Numa condição mais desafiadora de petróleo a US$ 70, taxa de desconto de 10% e produção em grande escala a partir de 2019, o preço justo cai a US$ 3,6. Nos dois exemplos, o banco considerou custo de produção de US$ 10 por barril.
O cenário base do banco, na época, era de barril a US$ 6, com taxa de desconto de 7,5%, mas produção em grandes volumes apenas a partir de 2019.
Na semana passada, o J.P. Morgan também divulgou estudos sobre o preço do barril. Tendo como premissa uma produção mais rápida do que a prevista anteriormente para a exploração do campo de Franco (um dos que devem ser cedidos pela União), o banco diz que o preço do barril subiria a US$ 6, ante previsão anterior de US$ 4,5, no cenário base.
Nos comunicados divulgados pela estatal ao mercado, ela mesma alertava sobre a disparidade dos preços em operações envolvendo cessão de reservas em todo o mundo. Entre 2008 e agosto de 2009, houve mais de 200 operações desse tipo. O valor do preço do barril nessas transações variou entre US$ 0,77 e US$ 17,63.
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