A causa principal e o motor desta crise não foram a ganância e a super alavancagem dos bancos, mas sim uma política econômica de inspiração neo-Keynesiana, um estímulo governamental e fiscal que permite a todo americano deduzir da renda tributável os juros da compra da casa própria, da casa de campo e até de um veleiro. Até o limite de 1 milhão de dólares de dívida.
Isso é uma típica intervenção do Estado na economia de mercado, à moda neo-Kkynesiana, para estimular a “fraca” demanda por casas com incentivos fiscais.
Justamente no setor que mais gera emprego, a fim de cumprir a meta mais importante para os keynesianos: o pleno emprego. US$ 75 bilhões por ano!
Este deve ser o incentivo fiscal mais equivocado da história econômica, porque obriga os americanos a se endividar até o teto: quem compra a vista não tem benefício fiscal.
“Mortgage interest is tax deductible only if the debt you acquire is secured debt - meaning your home is pledged as collateral on the debt.” (IRS)
Um economista brasileiro teria reduzido o IPI, como fizemos com muito sucesso no setor automobilístico.
Agora vocês entendem como surgiu o subprime, e porque os bancos devotam 50% do crédito ao setor imobiliário-governamental. Não é a ganância do capitalismo que estimulou esta farra, foram benesses neo-keynesianas.
A juros de 6,0%, um americano pode abater US$ 60.000,00 de sua renda tributável de US$ 200.000,00 por ano, por exemplo, e pagar imposto de renda somente sobre US$ 140.000,00.
Multiplique por 30 anos, e você abate US$ 1.800.000,00 de sua renda de uma compra de US$ 1.000.000,00 a prazo. Como o imposto de renda federal, estadual e municipal chega a quase 50%, (42% para ser exato) em 30 anos você economiza US$ 900,000,00: um subsídio que chega a quase 90%, pago pelo governo.
Por isso, fazia tanto sentido vender casas mesmo para as famílias insolventes, o subprime, porque 30 a 50% da casa era o governo quem pagava, já que o imposto de renda é menor.
Artigos que dizem que esta crise é a vitória do keynesianismo precisam ser analisados com cautela.
A crise foi conseqüência direta de uma política econômica essencialmente keynesiana, que:
1. Estimula o super endividamento de todo o povo americano. Quanto maior a sua dívida imobiliária, maior será o seu subsídio de juros dedutíveis. Por isso, os americanos se endividam. Você faria o mesmo.
2. Uma política econômica inflacionária estimula a superprodução e bolhas imobiliárias. Não foram os bancos que causaram esta bolha; foram os keynesianos. Esta política estimula a procura de casas com o mínimo de entrada, o máximo de dívida e o máximo de juros. Por isso nos Estados Unidos, banqueiros são democratas, apóiam economistas keynesianos, algo com que muitos economistas monetaristas não se conformam. Deveria ser o contrário.
3. O imposto de renda americano permite deduzir 100% do juro nominal, o que equivale a 200%, a 300% do juro real. Ou seja, parte da amortização da casa é dedutível, outro absurdo monumental.
4. Como a inflação corrói anualmente a prestação mas aumenta o valor da casa, de tempos em tempos o americano implora ao banco uma segunda e uma terceira hipotecas, a única forma de continuar a farra da dedução dos juros nominais do imposto de renda.
O americano usa essa segunda hipoteca para comprar carro com juro e amortização subsidiados. Se comprasse direto da GM, não teria juros dedutíveis. Imaginem a reação de sua esposa brasileira se você, depois de 25 anos, voltasse com uma dívida imobiliária na estaca zero. Mulheres querem casas quitadas depois de 25 anos, e não casas endividadas.
5. Mas os keynesianos têm razão num aspecto: os monetaristas também colaboraram com esta crise, porque em 2000, 2001 e 2002 o FED imprimiu um juro real negativo. Ninguém reclamou na época, ninguém previu a farra que iria ocorrer: nem Krugman, Roubini, Sachs ou Bernanke, quando era ainda professor.
O termo "juro negativo" confunde as pessoas, porque negativo significa que você recebe juros em vez de pagar juros.
A partir de 2000, para cada US$ 1.000.000,00 de dívida imobiliária, você recebia US$ 20.000,00 por ano de juros negativos. Multiplicado por 30 anos, seriam US$ 600.000,00. Somem-se mais os US 30,000,00 do Mortgage Interest Tax Deduction e você poderia receber US$ 1.500.000,00 em 30 anos se comprasse uma casa de US$ 1.000.000,00.
Por isso, o pior aconteceu na Flórida e na Califórnia, porque latino-americanos percebem quando o juro é negativo por terem vividos em países inflacionários.
O Canadá, um país tão capitalista e com a mesma estrutura bancária americana, quase um país espelho, não teve nenhuma das crises americanas. Por quê? É que seus economistas são da escola administrativa e não adotaram estes estímulos fiscais de incentivo à casa própria, e precificaram os contratos imobiliários com juros reais, e não nominais. Os verdadeiros culpados desta crise não foram o livre mercado, os bancos, os bônus e a ganância. Eles foram na onda por assim dizer destes subsídios e os juros negativos estipulados pelo órgão regulador.
Foi esta política econômica de incentivo à moradia que distorceu o mercado, dando incentivos absurdamente elevados (juro nominal) de forma equivocada (via endividamento).
Segundo o New York Times, essa política keynesiana jamais será revogada, o que significa que novamente teremos a crise de 2008 daqui uns 15 anos provavelmente. Anotem, para não dizerem que o Roubini é que entende das coisas. Roubini também é um neo-keynesiano.
“There are no cows more sacred in the tax code than the deductions for mortgage interest and property taxes. Together, they add up to at least a $75 billion annual subsidy for housing and homeowners.” (New York Times)
Como os keynesianos estão habilmente escondendo estes fatos, a maioria dos jornalistas não fica sabendo dessa "boa" notícia. Nos próximos 30 anos, o governo americano irá continuar com este sistema de subsídios, num total de US$ 2,2 trilhões de dólares.
Assim que os preços dos imóveis pararem de cair, 3 milhões de americanos prestes a casar,irão exigir o seu "incentivo" keynesiano, e comprarão imóveis para poderem pagar menos imposto de renda.
Paul Krugman deve morar numa casa alugada, subsidiada pela sua universidade, para não perceber tudo isso e dizer as bobagens que fala.
Nos próximos anos, iremos ler dezenas de “papers” pedindo mais controle de bancos, de seus administradores, das empresas de ratings, de uma nova ordem mundial etc... Mas ninguém pedirá mais controle sobre estes subsídios keynesianos que obviamente precisam ser eliminados para não colocar o mundo em risco novamente.
STEPHEN KANITZ, consultor de empresas e conferencista, vem realizando seminários em grandes empresas no Brasil e no exterior. Já realizou mais de 500 palestras nos últimos 10 anos.
Master in Business Administration" pela Harvard University.
Professor Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
Bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
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